Questão: “Lendo a
Bíblia, uma coisa que sempre me chamou a atenção é que Deus é homem e não é mulher.
Ele trata as mulheres com preconceito, desde o momento da criação, a Eva é
inferior a Adão e os pecados que as mulheres cometem são sempre piores e ela
recebe os maiores castigos. A mulher adultera era apedrejada, Jesus foi contra e
isso está no evangelho, mas do homem adúltero ninguém falou. Pergunto: se Deus fosse mulher, não seria melhor para as
mulheres e pior para os homens? “
Esta preocupação, que envolve a existência e
natureza de Deus, nunca era levantada, porque a religião nunca permitiu, Mas
ela tem crescido ultimamente. Uma onda de ateísmo vem ocorrendo nas últimas décadas
com o avanço da ciência e da tecnologia. Estamos nos afastando cada vez mais da
natureza e é a natureza, na sua originalidade, que nos aponta mais facilmente
para a existência de Deus.
Allan
Kardec afirma que, entre as tribos e nações mais antigas do mundo, nunca houve
um povo ateu. As primeiras manifestações de religiosidade se deveu à ideia da
vida depois da morte e isso veio acontecendo desde os tempos primitivos há
centenas de milhares de anos. As primeiras ideias, que levaram à concepção de
Deus, surgiram justamente da crença na sobrevivência da alma. De início, os
espíritos dos mortos se transformavam em protetores e, depois em deuses.
Portanto, os deuses da antiguidade eram entidades espirituais que já
teriam vivido na Terra e agora podiam manifestar sua imortalidade na condição
de espíritos que podiam conhecer a morte. Nos povos antigos, esses deuses
surgiram primeiramente no âmbito da família, depois da tribo, depois das
cidades e das nações, passando de deuses familiares ou particulares para deuses
nacionais. Nessa época, havia deuses e deusas, espíritos de homens e mulheres,
adorados e venerados.
Mas,
como nas sociedades antigas predominavam a força masculina, ou seja, o comando
e a decisão de tudo eram conferido ao homem, prevaleceram, sem dúvida, o
elemento masculino, de forma que os deuses maiores, mais poderosos, eram sempre
homens. Era a realidade da época, pois as sociedades patriarcais (ou seja,
aquelas que eram comandadas por homens) prevaleceram.
A
história do povo hebreu ou judeu começa justamente com a figura de Abraão, cuja
tribo era orientada por um deus chamado Iavé. Dessa tribo surgiu uma nação e
esse deus se transformou num deus nacional, que se arvorou como único e
verdadeiro e passou a comandar seu povo através de leis, ordens ou mandamentos.
Logo, a origem da ideia de um Deus-homem surge necessariamente da predominância
do poder masculino na sociedade antiga.
Jesus
deu continuidade a essa ideia. No seu tempo e de acordo com a tradição, a
crença e os costumes de seu povo, Deus precisava ser homem; do contrário, não
seria reconhecido. A diferença entre Jesus e Moisés, no entanto, é que no tempo
de Moisés Deus era concebido como um rei
e, nos ensinos de Jesus – 1.3000 anos depois – ele passava a ser visto como um
Pai, uma figura bem mais próxima do homem, qualquer que fosse sua condição
social.
De lá
para cá – ou seja, do tempo de Jesus ao nosso tempo, Deus continuou sendo
concebido como homem em razão das características machistas da sociedade. Como
podemos perceber, até nisso a mulher leva desvantagem em relação ao homem. No
entanto, segundo o Espiritismo, é porque não temos como fazer uma ideia mais
perfeita de Deus, pois, para concebê-lo na estreiteza de nossa inteligência,
não conseguimos imaginá-lo diferente de um ser humano e, portanto, ainda
precisamos lhe atribuir um sexo.
É o
deus antropomórfico, cuja ideia nasceu nos textos do Gênese bíblico, quando diz
que fomos feitos à imagem e semelhança de Deus. Na concepção espírita, porém,
apesar de nos sentirmos profundamente arraigados à concepção de um deus-homem,
para darmos uma noção mais ampla e mais profunda da divindade, dizemos apenas
que Deus é “a inteligência suprema causa primária de todas as coisas”.
Logo, o fato de ainda atribuirmos a Deus a
condição de homem (sexo masculino), portanto, provém da antiguidade mais
remota, mas se formos estudar mais a fundo o que podemos conceber como natureza
divina, perceberemos que não pode existir sexo em Deus, pois o sexo é uma
característica da condição humana, pois provém de sua natureza animal. Por esta linha de pensamento, não é difícil
concluir que não foi bem o homem que foi
criado a semelhança de Deus, mas bem o contrário: foi o homem que concebeu Deus
à sua semelhança, até para justificar o seu poder.
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