Embora poucos saibam, a
mediunidade de cura se constituiu em gênero comum nos primeiros tempos do
Espiritismo na Terra. É o que se depreende acompanhando as notícias e artigos publicados
por Allan
Kardec, nas edições de REVISTA
ESPÍRITA, de sua fundação até sua morte. Explicada n’ O LIVRO DOS MÉDIUNS como a possibilidade que certas pessoas possuem
de curar pelo simples toque, pelo olhar, por um gesto mesmo, sem o socorro de
nenhuma medicação, efeito das extraordinárias possibilidades dos fluídos magnéticos
humanos e espirituais, a modalidade ressurge, apesar dos preconceitos,
descrédito, dúvidas, através de vários médiuns. Necessário, contudo, estudar-se
o assunto. Na pauta de outubro de 1867 da sua revista, Kardec
reproduziu três mensagens assinadas pelo Abade Príncipe de Hohenlohe,
recebidas por diferentes médiuns, em 12, 15 e 24 de março daquele ano, tratando
do tema. O religioso, cujo nome era Alexander Leopold Franz Hohenlohe, viveu
55 anos, entre 1794 a 1849, tendo sido membro de importante dinastia existente
no nordeste da hoje Alemanha, à qual foi incorporada. Ordenado sacerdote em
1815, ganhou notoriedade após ter curado com seus poderes sobrenaturais, um
paralítico, a qual, se seguiram outras surpreendentes curas. Da primeira
comunicação, do Abade, destacamos: 1- Todo mundo
possui mais ou menos a faculdade curadora, e se cada um quisesse consagra-se
seriamente ao estudo dela, muitos médiuns que se ignoram poderiam prestar úteis
serviços a seus irmãos em humanidade.
2- O aparente efeito material, o sofrimento, tem quase
constantemente uma causa mórbida imaterial, residindo no estado moral do
Espírito, e, se o médium curador se ativer apenas ao corpo, só ataca o efeito,
persistindo a causa do mal, reproduzindo-se o efeito, quer sob a forma
primordial, quer sob qualquer outra aparência, residindo aí uma das razões
pelas quais tal doença, subitamente curada pela influência do médium, reaparece
com todos os seus sintomas, desde que a influência benéfica se afaste. 3- Para evitar recidivas, é necessário que o remédio
espiritual ataque o mal em sua base, como o fluido material o destrói em seus
efeitos; numa palavra, é preciso tratar, ao mesmo tempo, o corpo e a alma. 4- Para ser um bom médium curador, não só é preciso que o
corpo esteja apto a servir de canal aos fluidos materiais reparadores, mas,
ainda, que o Espírito possua uma força moral que não se pode adquirir senão
pelo seu próprio melhoramento. Para ser médium curador há, então que se
preparar para isto, não só pela prece, mas pela depuração de sua alma, a fim de
tratar fisicamente o corpo pelos meios físicos, e de influenciar a alma pela
força moral. Da segunda,
salientam-se algumas reflexões propostas pelo Abade: 1- O sofrimento, a doença, a própria morte, nas
condições sob as quais as conheceis, não são mais especialmente a partilha dos
mundos habitados por Espíritos inferiores ou pouco adiantados? O
desenvolvimento moral não tem por objetivo principal conduzir a Humanidade à
felicidade, fazendo-a adquirir conhecimentos mais completos, desembaraçando-a
das imperfeições de toda a natureza, que retardam sua marcha ascensional para o
Infinito? Ora, melhorando o Espírito dos doentes, não se os põe em melhores
condições para suportar seus sofrimentos físicos? Atacando-se aos vícios, as
más inclinações, que são a fonte de todas as desorganizações físicas, não se
põem essas desorganizações na impossibilidade de se reproduzirem? 2- Destruindo a causa, necessariamente se
impede o efeito de se manifestar de novo. Das orientações da terceira,
frisamos: 1- Sabeis que, conforme o estado de vossa alma e as
aptidões do vosso organismo, podeis, se Deus vo-lo permitir, tanto curar as
dores físicas quanto os sofrimentos morais, ou ambos. Duvidais de ser capaz de
fazer uma ou outra coisa, porque conheceis vossas imperfeiçoes. Mas Deus não
pede a perfeição, a pureza absoluta dos homens da Terra. A esse título, ninguém
entre vós seria digno de ser médium curador. Deus pede que vos melhoreis, que
façais esforços constantes para vos purificar e leva em conta vossa boa vontade. 2- Não sejais exclusivos na escolha
dos vossos doentes. Todos, sejam quem for, ricos ou pobres, crentes ou
incrédulos, bons ou maus, tem direito ao vosso socorro. Acaso o Senhor priva os
maus do benéfico calor do Sol que aquece, que reanima, que vivifica? 3- (...).
Não vos magoeis pelas recusas que encontrardes; fazei sempre a vossa obra de
caridade e amor e não duvideis que o Bem, embora retardado para uns, jamais
ficará perdido.
Essa
crença de que Deus nos dá problemas, cara ouvinte, segundo a Doutrina Espírita,
não tem fundamento. O que Deus nos dá é a vida; os problemas, quase sempre, são
produtos de nossa imperfeição ou de nossos erros e a vida é uma verdadeira
escola. Vamos tomar, como exemplo, uma questão
familiar, ou seja, temos na família alguém com quem não nos afinamos e essa
pessoa passa a ser um obstáculo em nosso caminho, impedindo que atinjamos
nossos objetivos. Aliás, é um problema muito comum.
Neste caso, a pergunta seria: por que Deus me
colocou essa pessoa no meu caminho? Por que ele não me deu alguém com quem eu
pudesse conviver amigavelmente? Repare, caro ouvinte, que toda vez que temos um
inimigo, procuramos vê-lo como um enviado das trevas, como se ele não fosse
também um filho de Deus. Fincamos o pé em nossa posição e sequer percebemos que
essa pessoa, também, pode estar pensando o mesmo em relação a nós: ou seja,
está perguntando por que Deus nos colocou no seu caminho.
Essa postura, ainda tão comum, é própria da
concepção de um deus que faz o que bem quer, como se fosse um tirano caprichoso
ou galhofeiro que não está nem aí para os nossos problemas... Aliás, ele pode
tudo e nós, simples mortais, não podemos nada !... Como ele é todo-poderoso ( é
assim que as pessoas o imaginam), usa todos nós para seus caprichos, exige de
todos absoluta submissão e obediência cega, castiga quem não o obedece e só
recompensa aqueles poucos que conseguem agradá-lo.
Não é assim que o Espiritismo concebe Deus, é
claro. Para nós Deus é “a inteligência suprema, causa primária de todas as
coisas”. Nós, Espíritos imortais, fomos criados para a perfeição ou, se quiser,
para a felicidade. Mas Deus não nos criou perfeitos; porém criou-nos com a
capacidade necessária para alcançar essa perfeição. As muitas vidas, que
vivemos aqui na Terra – ou seja, as encarnações - nada mais são que estágios de
aprendizado pelos quais passamos em busca de sua plena realização.
Veja, por exemplo, o ser humano, desde sua
concepção. Nenhum nasce pronto, acabado ou concluído. Ele está sempre por se
fazer. Aliás, ele vem se fazendo, desde o ventre materno, passando pelo
nascimento, pela infância, pela adolescência, até se tornar um adulto. É uma
longa jornada de altos e baixos, de bons e maus momentos, mas de aprendizado e evolução. O mesmo acontece
com o Espírito que passa por inúmeras vidas na Terra durante milhares de anos.
Assim como andar, falar, ler e escrever são
obstáculos no caminho de todos nós, que servem para adquirirmos por mérito
próprio nossa autonomia como pessoas, assim também os mais diversos problemas
que aparecem em nossa vida são outros tantos obstáculos que temos de aprender a
superar, se quisermos caminhar em direção à perfeição. Não é Deus que nos coloca tais obstáculos à
frente para se divertir com o nosso sofrimento, mas somos nós mesmos, que por
força da Lei de Evolução, acabamos por criar situações que nos estimulam o
desenvolvimento de nossas potencialidades espirituais.
As dificuldades de nosso caminho, portanto,
sempre significam convite para que nos superemos a nós mesmos, desenvolvendo
virtudes como a humildade, a paciência, a compreensão, a solidariedade. Assim,
o maior problema não é o que está fora, não são propriamente os outros; somos
nós mesmos. Eles derivam, primeiramente, de nossa necessidade de evolução, mas
podem também ser consequências de atos passados ou de escolhas que fizemos
antes de reencarnar. Compete a cada um de nós fazer o máximo ao seu alcance
para resolvê-los, mas isso não significa que vamos resolvê-la numa só existência.
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