Pergunta da leitora, Leninha: “Para o Espirito
existe um determinado tempo em que ele deve conviver com os mesmos Espíritos,
renascendo na mesma família?
Aprender a conviver bem uns com os outros, eis a grande
meta de cada um de nós. Não existe tempo determinado para isso, Leninha, pois o
desenvolvimento evolutivo de cada Espírito depende de suas conquistas morais. É
comum que Espíritos adversários, quando não conseguem de outra forma chegar a
uma conciliação, reencarnem na mesma família, desempenhando papéis diferentes
em experiências que abrem novas possibilidades de entendimento. Por exemplo,
dois adversários do passado, que viveram em constante conflito (este prejudicou
aquele, aquele prejudicou este), podem vir numa encarnação como irmãos ou como
pai e filho, visando ao entendimento e à aproximação. Cada nova experiência
juntos pode acender a possibilidade de aprenderem a se respeitar e a se amar.
No entanto, não é apenas pelo fato de agora serem irmãos
que o problema está resolvido. Não. Na verdade, a nova oportunidade é apenas o
início de uma tentativa, que pode ser frutífera ou não. A família é, sem
dúvida, a experiência mais indicada e com maior probabilidade de chegarem a um
consenso entre os Espíritos adversários. Todavia, nós, seres humanos do século
XXI, por incrível que pareça, ainda não aprendemos a nos relacionar bem, nem
mesmo dentro da própria família. Pelo contrário, a família continua sendo a
fonte de muitos conflitos, justamente porque é nela que adversários se
encontram.
Se você abrir o evangelho, vai encontrar um episódio
curioso, em que a mãe e os irmãos de Jesus – preocupados com o fato de ele
estar se expondo demais à fúria dos adversários – decidiram procura-lo para dizer-lhe
que não prosseguisse na sua jornada, pois sua vida corria sério risco. Depois
de muito procurar, eles encontram Jesus no meio de uma multidão, ensinando o caminho do bem e da verdade. Como
não conseguiam entrar no recinto, onde Jesus se encontrava rodeado pela
multidão, pediram que alguém fosse avisá-lo de que sua mãe e seus irmãos o
procuravam com insistência.
Foi nessa ocasião em que, recebendo o recado de que sua
mãe e seus irmãos o esperavam fora da casa e queriam vê-lo, Jesus respondeu: “Quem é minha mãe,
quem são meus irmãos? Minha mãe e meus irmãos são todos aqueles que fazem a
vontade de meu Pai, que está nos céus.” Essa assertiva de Jesus, ainda hoje,
pode parecer estranha diante de sua doutrina de amor. Como Jesus poderia
renegar a própria família, especialmente sua mãe, que o procurava? Mas não era
isso que Jesus estava fazendo, malgrado as dificuldades com que o evangelista faz
esse relato.
É que Jesus, sendo um Espírito Puro, já tinha
ultrapassado a fase de aprendizado de convívio famíliar. Enquanto nós, ainda,
não aprendemos a amar nem mesmo os da nossa casa (a quem devemos respeito e
afeto), Jesus já conseguira amar toda a humanidade como sua família. Desse
modo, a família de sangue para Jesus não tinha o mesmo significado que tem para
nós. Somos exclusivistas. Nós ainda precisamos dos familiares para aprender a
amar, sofrendo porque não nos sentimos quites com todos os compromissos que
temos para com eles. Não sabemos amar nossos pais e nossos irmãos como
deveríamos, enquanto que Jesus nos ama a todos, incondicionalmente.
Logo, enquanto vemos Jesus amando a Humanidade, até mesmo
os inimigos, nós ainda não conseguimos demonstrar amor nem pelo próximo mais
próximo que é o nosso familiar. Estamos em pleno período de aprendizado, para
que o nosso amor, com o tempo, vá adquirindo uma dimensão maior, ultrapassando
as barreiras da família e os laços do sangue, para que todos possam ter
acolhida em nosso coração. Por isso, retornamos muitas vezes ao mesmo círculo familiar – às vezes, ao
mesmo lar – pois não obtivemos êxito das vezes anteriores e é este um dos
motivos porque, muitas vezes, não encontramos paz.
Desse modo, Leninha, o Espírito pode renascer várias
vezes na mesma família, quando ainda não conseguiu amar de verdade seus entes
queridos, numa tentativa constante de destruir dentro de si todos os resquícios
de maldade, de orgulho, de inveja, de ciúmes, de orgulho, de egoísmo. Não há um
limite para isso, Leninha. Enquanto precisarmos, voltaremos à mesma família. O
que Espiritismo nos ensina é que, na convivência familiar, aprendamos a
exercitar a tolerância, a impaciência e tudo o mais que perturba o nosso
coração. Mas o amor não deve se restringir a um grupo restrito; por isso, vamos
experimentar outras encarnações, renascendo ou nos encontrando com outros
Espíritos, para que, aos poucos, consigamos dilatar nossas relações, caminhando
para o objetivo maior que Jesus nos apontou.
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