Helena Alves, pergunta: por que certas pessoas têm tanta sede de poder?
Aí está uma importante
questão levantada pela Helena. Quando falamos em poder, geralmente estamos nos
referindo ao poder político, ao poder econômico, ao poder dos que exploram o povo,
dos que buscam a riqueza a qualquer preço e que, aparentemente, são
responsáveis por tantas diferenças na sociedade, onde a miséria convive com a
opulência, a ignorância com a erudição. Não podemos esquecer, no entanto, que o
exercício do poder é problema de todo ser humano.
No dia a dia de nossa vida,
contaminados pelo egoísmo e pelo orgulho doentio, que ainda não conseguimos
superar, não percebemos que as nossas atitudes, em muitas ocasiões, vão além
dos nossos direitos e acabam invadindo o direito dos outros. Isso acontece
principalmente nas relações dentro de casa e no ambiente de trabalho, quando
temos a pretensão de estar sempre com a razão, de querer que os outros sempre
concordem com a nossa maneira pensar e, sobretudo, de exigir aceitação e
obediência, para não dizer submissão.
Mas, é claro que essas
atitudes, algumas vezes de arrogância, não ficam apenas dentro de nosso
convívio familiar ou de nossa roda de amigos. Elas se estendem ao nosso
ambiente de trabalho e a toda e qualquer relação de convivência no meio social
que participamos. Entretanto, isso não
quer dizer que o poder é mau. Não, somos nós que não aprendemos a exercê-lo,
pois em qualquer situação da vida sempre há um comando ou alguém que representa
o interesse de todos.
Desse modo, o poder em si é
sempre necessário, pois em muitas ocasiões é preciso haver esse comando (como o
poder dos pais sobre os filhos, dos chefes sobre os subordinados, dos
governantes sobre os governados), mas esse poder não pode se transformar num
instrumento de opressão e violência para atender qualquer tipo de interesse,
expressando raiva e desrespeito pelos outros.
Por isso, quando vemos, por
parte de chefes e autoridades, a ousadia dos que só querem mandar, dos que
exigem plena obediência às suas determinações, dos que só pensam em alcançar
suas metas em prejuízo dos outros, dos que usam o poder para humilhar e
oprimir, ficamos indignados ou revoltados, mas esquecemos que, em âmbito menor,
podemos estar fazendo a mesma coisa em relação àqueles que julgamos inferiores
a nós e que fazem parte de nossa vida.
Na verdade, Helena, todos
exercemos algum poder de alguma forma, mas quão poucos de nós sabem usar esse
poder com respeito e moderação, com discernimento e coragem. Somos bons quando
sabemos obedecer, mas muita gente extrapola suas funções quando assumem um
comando. É por isso que existe um pensamento muito conhecido de todos nós, que
diz o seguinte: “Se você quer conhecer uma pessoa, dê-lhe poder nas mãos” e,
então, saberá quem realmente ela é.
O poder para nós, que ainda somos dominados pelo orgulho e pelo
egoísmo, é sempre um grande desafio.
Quantas pessoas se deram bem enquanto exerciam uma função humilde,
primando pela sua competência, mas que se perderam totalmente no orgulho e na
arrogância quando tiveram a oportunidade de mandar! Nem todos estamos em condições de exercer uma
função de mando e também não é verdade que todo bom subordinado será um bom
chefe. Muitas vezes, não.
Certamente, porque ainda
não aprendemos a exercitar a humildade, que começa no reconhecimento e na
aceitação de que ninguém é superior a ninguém. Cada um de nós tem suas
qualidades e seus defeitos, e todos estamos frequentando a escola da vida para
aprender uns dos outros. Essa vontade de querer aprender sempre – até com aquele que aparentemente não tem
nada a oferecer – é que nos dá a condição de humildade.
A sede do poder nos
Espíritos imperfeitos como nós ainda é tão pronunciada, que mesmo quando
deixamos esta vida e passamos para o mundo espiritual, onde não podemos dispor
de riquezas materiais como as da Terra, queremos ser os mais poderosos,
queremos mandar e desmandar, proclamando nossas virtudes e condenando os
defeitos dos outros. A obsessão nada mais é do que uma manifestação espiritual
de poder.
O maior mestre da
humildade, sem dúvida, foi Jesus. No entanto, ele tinha o maior dos poderes, o
poder moral. Mas recusou qualquer outro tipo de poder, porque sabia que o poder
moral ( ou seja, o poder de fazer o bem) é o maior de todos os poderes que
existem. Tanto assim que ele atribuiu o único verdadeiro poder ao Pai, que é
Deus, dando-lhe ao mesmo tempo os qualificativos de bondade e misericórdia.
Olhou com reserva o poder ilusório
do mundo – o poder assentado na força, na manipulação, na riqueza, na cultura
da Inteligência – quando afirmou “de que vale ao homem conquistar o mundo e
perder a sua alma”. Para Jesus, o maior poder é o amor e por isso Deus é todo o
poder. Enquanto dele não nos aproximarmos, fazendo ao próximo o mesmo que
queremos para nós, não experimentaremos a alegria de conhecer o nosso potencial
divino.
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