Wilson
Rocha, ouviu esta frase e quer um comentário sobre ela: “ A religião é um sonho
da mente humana”.
É uma frase que dá margem a várias
interpretações, Wilson, pois depende do que se entende por sonho. Para os
ateus, que não acreditam em Deus e nem na imortalidade, o sonho seria uma criação
da mente que expressa uma aspiração, um desejo que traz felicidade. Neste caso,
segundo eles, a religião é um consolo que facilita o caminhar do homem, mas ela,
em si, não teria nada a ver com a realidade objetiva da vida que, para eles,
termina com a morte, onde tudo acaba e, portanto, nada resta.
Para os espiritualistas – ou seja, para as
pessoas que acreditam em Deus – a religião é um caminho pelo qual pretendem
chegar até Ele. Deus é a maior expressão da felicidade. É claro que os graus de
crença ou de descrença variam de uma pessoa para outra, de modo que existem
aquelas para quem a religião tem uma ação decisiva no seu futuro espiritual,
existem aquelas para quem os ensinamentos morais da religião lhes constituem
uma norma de vida que procuram seguir e existem
outros, ainda, que não têm tanta em fé e não são tão fiéis à religião que
professam e que só procuram Deus na hora da necessidade.
De qualquer forma, uma coisa é certa.,
Wilson. Em toda a história humana a
religião sempre teve um papel necessário, importante e por que não dizer,
fundamental. Mesmo na antiguidade, milhares de anos atrás, o caminhar de cada povo
sempre dependeu das aspirações que a religião lhe traçou. Civilizações com a
egípcia, a grega e romana – apenas para citar das mais conhecidas – sempre
consideraram importante suas religiões e sempre se inspiraram em seus deuses
para vencer obstáculos e alcançar suas metas. Tiveram seus sacerdotes, seus
templos e seus cultos, e sempre levaram muito a sério suas crenças.
Recentemente, a própria ciência (considerada
materialista) se mostrou muito interessada em saber que papel a religião sempre
exerceu sobre a humanidade. Os geneticistas chegaram a descobrir um Gene, a que
chamaram “gene de Deus”, que seria responsável pelo impulso inato que leva as
pessoas a crer em um Ser Supremo e a recorrer a Ele, quando de seus problemas e
necessidades. Os neurocientistas já disseram que existe num cérebro um “ponto
de Deus”, ou uma região cerebral que é acionada automaticamente quando a pessoa
participa de uma prece ou de um ato de adoração.
Ao que tudo indica, portanto, a religião está
incrustada na mente humana, como algo inerente ou próprio dela. Kardec diz que
nunca houve um povo ateu. E, embora muitas instituições e grupos religiosos, ao
longo da História, sempre desvirtuaram o verdadeiro sentido da religião para
atender interesses rasteiros e mesquinhos para manter o povo na ignorância, para
explorar os mais fracos, a religião em si é algo de respeitável, que deve ser
cultivada com responsabilidade e sinceridade e não apenas como uma obrigação
social.
Aliás, esse tem sido um dos maiores problemas
humanos. Wilson: tratar algo tão sério de uma forma tão irresponsável. Foi por
essa razão – e não por outra – que Jesus proclamou o “amor ao próximo” como a
maior de todas as religiões (a prática incondicional do bem), como o único
caminho que nos leva a Deus ou à paz interior, criticando o religiosismo formal
dos fariseus que, como tantos religiosos do mundo, passavam por pessoas de bem,
mas, na verdade, eram hipócritas, aproveitadores e exploradores do povo.
É claro, Wilson, que todos temos um sonho: o
mesmo sonho alimentado por Jesus – o
sonho de que a Terra será um mundo feliz, de que os homens ainda se amarão,
construindo uma vida social digna e justa, onde cada um ocupará apenas o seu
lugar e saberá respeitar o lugar dos outros. Esse sonho é sagrado, porque faz
parte de nosso ideal. Mas para mantê-lo vivo em nossa mente precisamos de duas
condições: confiar em Deus e caminhar na vida segundo os preceitos do amor e da
solidariedade, um ponto comum entre todas as religiões. No seu livro “Os Irmãos Karamazov”, o escritor russo, Dostoiewsky, cria um diálogo entre dois irmãos – um padre e um ateu. Nessa conversa eles discutem exatamente o valor da religião e a existência de Deus, crença defendida pelo padre e combatida pelo ateu. O diálogo termina, justamente, quando o padre, voltando-se para o irmão, em que via qualidades humanas, disse-lhe: “Se Deus não existisse, tudo seria permitido”. Esta frase enfoca o principal problema do homem, a violência sobre o direito dos outros. Se não tivéssemos uma tendência para a busca do Bem, da Verdade e da Justiça - que, para o crente, é a real expressão de Deus, seria impossível convivermos uns com os outros.
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