Elaine pergunta: “ O Espiritismo diz que
as tentações só nos atingem porque somos fracos e imperfeitos, os obsessores ou
Espíritos malignos só se aproximam de quem tem maus pensamentos, que basta a
gente ter uma boa conduta e cultivar um bom pensamento para estarmos livres da
obsessão. Então, pergunto: por que Jesus foi tentado pelo demônio? Como que o demônio, um Espírito mau,
conseguiu se aproximar de Jesus? Queria entender essa passagem do evangelho.”
De fato, Elaine, a ligação entre obsessor e
obsidiado se dá através da faixa mental ou da qualidade de nossos pensamentos.
Nós todos estamos sujeitos ao assédio de Espíritos infelizes, quando caímos
numa faixa inferior, quando – por exemplo – quando, por exemplo, pensamis mal
dos outros, quando passamos a cultivar ódio, quando partimos para a violência,
quando agimos com desonestidade.
Existe uma lei da natureza, segundo a qual o
semelhante atrai o semelhante. Isso acontece habitualmente em nossa vida, pois
as pessoas com quem nos identificamos, aquelas de quem nos aproximamos ou que
costumam se aproximar de nós, geralmente são as que pensam como nós pensamos,
que têm os mesmos gostos, os mesmos interesses e, muitas vezes, os objetivos
semelhantes. É assim que um homem honesto se identifica com pessoas honestas e
um homem fora da lei sempre procura os fora da lei para conviver.
Nosso pensamento vibra dentro de uma
determinada faixa mental, dependendo dos sentimentos que cultivamos no dia a
dia, dependendo de nossas ideias e ideais, de nossos valores e pretensões.
Quando estamos bem com a consciência, porque estamos nos conduzindo bem na vida,
elevamos a qualidade do pensamento e nos sintonizamos com bons Espíritos, como
os nossos protetores e amigos. O contrário também é verdadeiro: quando a
qualidade moral do nosso pensamento cai para faixas de sentimentos inferiores,
entramos em contato com Espíritos que vibram nessas mesmas faixas, de onde pode
surgir a obsessão.
Como vemos, tudo é uma questão de sintonia ou
de identificação de sentimentos. Quanto a Jesus, porém, sendo ele um Espírito
Puro – ou seja, sendo um Espírito cujos pensamentos estavam muito acima do pensamento da humanidade – ele
vivia permanentemente sintonizado com a Espiritualidade Superior e por isso
podia falar em nome de Deus e falava com autoridade moral. Não é difícil
perceber isso, levando em conta suas atitudes diante das situações mais
difíceis. Por essa razão a principal característica de suas emoções são a
serenidade, a autoconfiança e a fé em Deus.
Desse modo, nós não acreditamos que Jesus
tenha sido tentado diretamente por um Espírito mau, mas consideramos que esse
episódio citado nos evangelhos não passa de uma alegoria ou mesmo de uma
parábola que ele deve ter contado aos discípulos para mostrar como o homem pode
resistir à tentação. Posteriormente o relato foi escrito, como se tivesse sido um
fato real. Do mesmo modo, não acreditamos que a história da figueira que secou,
porque fora amaldiçoada por Jesus, tenha sido um fato real, pois neste caso o
ato por ele praticado contrariaria totalmente seus ensinos de amor pelo próximo
e pelas criaturas de Deus.
Todavia, cara ouvinte, não podemos deixar de
considerar que esse episódio da tentação é um dos mais importantes dos
evangelhos. Devemos nos concentrar no seu significado mais profundo, ao qual
voltaremos a comentar oportunamente. Pela tentação do demônio, Jesus quis
mostrar o quão difícil é resistir ao apelo do orgulho e do egoísmo, quão
difícil é enfrentar nossas tendências ainda arraigadas aos valores materiais em
detrimento dos valores espirituais, quão difícil é nos manter imunes aos
atrativos do mundo, representados pelo poder, pela fama e pela riqueza.
Se
Jesus ensinava a necessidade de transformação moral para salvar a humanidade do
inferno do egoísmo e do orgulho, aprendendo a amar o próximo como a si mesmo,
ele não pregava uma transformação fácil ou milagrosa, sem luta e sem
sacrifício, não. Pelo contrário, com
essa parábola ele mostrava que o valor dessa transformação está no esforço, do
burilamento íntimo e no sacrifício de cada um para conquistar o céu de uma
condição espiritual superior. Com isso não ensinava a luta do homem contra o
homem, mas do homem consigo mesmo.
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