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segunda-feira, 23 de março de 2020

FUGA IMPOSSÍVEL; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR


Embora, estarrecidos diante da diversidade de casos de violência, muitos afirmem que “antigamente não era assim”, na verdade, o comportamento humano, é determinado pelo estado evolutivo da individualidade, muitas vezes, influenciada pelo meio em que a mesma viva. O caso a seguir confirma isso. Veiculado na edição de dois de maio, pelo periódico belga JORNAL DE BRUXELAS, foi objeto de estudo na reunião da SOCIEDADE ESPÍRITA DE PARIS, no dia  10 de maio, transformando-se em matéria da edição de agosto de 1867, da REVISTA ESPÍRITA. Expõe o interessante fato protagonizado por um homem chamado Jean Ryzak que, 12 anos após ter assassinado um dos seus funcionários cujo pagamento roubou e temendo as consequências, após precipitá-lo num dos abismos do lago de Harlem (Holanda) que drenavam, ao vê-lo esforçar-se para nadar para uma das margens, deu-lhe duas facadas na nuca. Embora, na ânsia de se livrar do remorso, tenha viajado por várias regiões do País antes de alistar-se no exercito colonial e embarcado para as Índias, não conseguiu livrar-se das torturas incessantes e incríveis causadas pela ideia de perseguição, noite e dia, do espectro de sua vítima, até que terminado seu termo de engajamento, uma força irresistível o impeliu a retornar a Winschoten (Holanda) confessar seu crime e pedir fosse feita justiça, tentando acabar com o suplício experimentado desde o dia de seu infeliz gesto. Debatida a notícia entre os presentes na reunião da noite citada, dois Espíritos escreveram suas opiniões através de mensagens psicografadas por diferentes médiuns. Numa delas, a entidade espiritual frisa que “a consciência nunca é completamente aniquilada, despertando num dado momento mais forte e poderosa”, salientando que, “controlando severamente as ações dos indivíduos, produz dois efeitos: a satisfação de haver agido bem, produzindo a paz decorrente do dever cumprido e o remorso, penetrante e torturante quando se praticou uma ação reprovada por Deus, pelos homens, pela honra”. Na outra, o Espírito destaca: -“Certamente vemos alguns criminosos se endurecer, mas, muitas vezes, é só por orgulho e por quererem parecer mais fortes que a mão que os castiga; é para fazer crer que não se deixam abater pela visão das imagens vãs; mas essa falsa coragem não tem longa duração; em breve os vemos enfraquecer ante esse suplício, que deve muito de seus efeitos à sua lentidão e à sua persistência. Não há orgulho que possa persistir a esta ação, semelhante à da gota d’água sobre o rochedo: por mais dura que possa ser essa pedra, é, inevitavelmente, atacada, desagregada, reduzida a pó. É assim que o orgulho (...), mais cedo ou mais tarde é abatido, e que o arrependimento, enfim, pode ter acesso à sua alma. Como sabem que a origem de seus sofrimentos está em sua falta, pedem para a reparar, a fim de trazer um abrandamento a seus males”. Analisando a questão sob o ponto de vista da história e mensagens espirituais, Allan Kardec escreveu elucidativa observação, dizendo: -“Sem ir procurar aplicações do remorso nos grandes criminosos, que são exceções na sociedade, elas são encontradas nas mais diferentes circunstâncias da vida. É esse sentimento que leva todo indivíduo a afastar-se daqueles contra os quais sente que tem censuras a fazer; em presença deles sente-se mal; se a falta não for conhecida, ele teme ser identificado; parece-lhe que um olhar pode penetrar o fundo de sua consciência; em toda palavra, em todo gesto, vê uma alusão à sua pessoa. Eis porque, desde que se sente desmascarado, retira-se. O ingrato, também ele foge de seu benfeitor, porque a presença dele é uma censura incessante, da qual em vão procura desembaraçar-se, porque uma voz íntima lhe grita no fundo de sua consciência que ele é culpado. Se o remorso já é um suplício na Terra, quão maior não o será no Mundo dos Espíritos, onde não é possível subtrair-se à vista daqueles a quem se ofendeu. Felizes os que, tendo reparado já nesta vida, puderem sem receio enfrentar todos os olhares no mundo onde nada é oculto. O remorso é uma consequência do desenvolvimento do senso moral; não existe onde o senso moral ainda se acha em estado latente. É por isto que os povos selvagens e bárbaros cometem sem remorso as piores ações. Aquele, pois, que se pretendesse inacessível ao remorso assemelhar-se-ia ao bruto. À medida que o homem progride, o senso moral torna-se mais apurado; revela-se ao menor desvio do reto caminho. Daí o remorso, que é o primeiro passo para a volta do bem”.

 Por que Deus não colocou a verdade ao alcance de todos? Por que as pessoas se diferenciam tanto em matéria de crença, fazendo da religião um campo de batalha, onde cada um quer estar com a razão?

 A pergunta é inteligente e oportuna. Quando perguntamos, estamos pensando e, enquanto pensamos, estamos estimulando a inteligência. No entanto, em primeiro lugar, nós não podemos falar em nome de Deus, não temos como penetrar nos seus superiores desígnios, mas podemos tirar conclusões racionais sobre essa realidade, que você descreve, baseados no que sabemos das leis da natureza.
 Não é mais possível negar a lei de evolução. Tudo evolui em torno de nós e cada um de nós está evoluindo continuamente, física e espiritualmente. Veja como nascemos e em que nos transformamos. Seria o caso de perguntar por que Deus já não nos cria adultos e conhecedores de tudo. Neste caso não existiria a infância, não teríamos crianças em nossa vida. Todavia, hoje sabemos que cada um de nós procede de uma célula minúscula, que se transforma num feto e que depois vem ao mundo através do nascimento.
 Uma criança não é um adulto. Você vai tratá-la como criança, até que se desenvolva o suficiente, cresça para a vida e se torne capaz de aprender por si mesma, como uma pessoa madura, e pronta a buscar seus conhecimentos pelo seu próprio esforço. Este é o grande milagre da natureza. Nada está pronto: tudo está por fazer. Nós estamos nos fazendo e refazendo a todo instante: tanto o corpo quanto a alma.  Não é bonito isso? O que você acha?
 Deus criou leis perfeitas para que os seres imperfeitos como nós se aperfeiçoem em busca de suas realizações. Que valor teria a vida, se surgíssemos adultos e soubéssemos tudo? Que motivos teríamos para nos relacionar uns com os outros?  Não teríamos nem motivação para conversar, porque tudo que falássemos os outros já saberiam. Contudo, a regra da vida é outra: estamos em patamares diferentes de experiências, de conhecimento, e é isso que torna nossas relações interessantes.
  Observe a alegria da criança quando descobre uma coisa nova. Viva sua satisfação quando percebe que já pode andar, que já pode correr, que é capaz de ler seu nome ou de contar por si mesma uma história. Tudo isso é apenas uma pálida mostra da felicidade que toma consta de nós quando conseguimos dar mais um passo na evolução, quando conseguimos descortinar uma nova verdade ou fazer algo de útil em favor do próximo.
 Veja, portanto, onde está a sabedoria de Deus. Se ele nos criasse perfeitos, conhecedores de tudo, nada nos restaria a fazer senão nos acomodar e dormir. Cessariam todos os interesses, acabaria o sentido da vida e certamente morreríamos de tédio. Entretanto, Deus sempre nos coloca à frente uma nova meta, a meta que precisamos alcançar. É isso que dá sentido à nossa existência e é esse esforço em descobrir nova verdade que nos impulsiona para a perfeição. Vamos pensar mais sobre isso.


















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