Embora, estarrecidos diante
da diversidade de casos de violência, muitos afirmem que “antigamente não era assim”,
na verdade, o comportamento humano, é determinado pelo estado evolutivo da
individualidade, muitas vezes, influenciada pelo meio em que a mesma
viva. O caso a seguir confirma isso. Veiculado na edição de dois de maio, pelo
periódico belga JORNAL DE BRUXELAS,
foi objeto de estudo na reunião da SOCIEDADE ESPÍRITA DE PARIS, no
dia 10 de maio, transformando-se em
matéria da edição de agosto de 1867, da REVISTA ESPÍRITA. Expõe o interessante
fato protagonizado por um homem chamado Jean Ryzak que, 12 anos após ter
assassinado um dos seus funcionários cujo pagamento roubou e temendo as
consequências, após precipitá-lo num dos abismos do lago de Harlem (Holanda)
que drenavam, ao vê-lo esforçar-se para nadar para uma das margens, deu-lhe duas
facadas na nuca. Embora, na ânsia de se livrar do remorso, tenha viajado por
várias regiões do País antes de alistar-se no exercito colonial e embarcado
para as Índias, não conseguiu livrar-se das torturas incessantes e incríveis
causadas pela ideia de perseguição, noite e dia, do espectro de sua vítima, até
que terminado seu termo de engajamento, uma força irresistível o impeliu a
retornar a Winschoten (Holanda) confessar seu crime e pedir fosse feita
justiça, tentando acabar com o suplício experimentado desde o dia de seu
infeliz gesto. Debatida a notícia entre os presentes na reunião da noite
citada, dois Espíritos escreveram suas opiniões através de mensagens
psicografadas por diferentes médiuns. Numa delas, a entidade espiritual frisa
que “a
consciência nunca é completamente aniquilada, despertando num dado momento mais
forte e poderosa”, salientando que, “controlando severamente as ações
dos indivíduos, produz dois efeitos: a satisfação de haver agido bem,
produzindo a paz decorrente do dever cumprido e o remorso, penetrante e
torturante quando se praticou uma ação reprovada por Deus, pelos homens, pela
honra”. Na outra, o Espírito destaca: -“Certamente vemos alguns
criminosos se endurecer, mas, muitas vezes, é só por orgulho e por quererem
parecer mais fortes que a mão que os castiga; é para fazer crer que não se
deixam abater pela visão das imagens vãs; mas essa falsa coragem não tem longa
duração; em breve os vemos enfraquecer ante esse suplício, que deve muito de
seus efeitos à sua lentidão e à sua persistência. Não há orgulho que possa
persistir a esta ação, semelhante à da gota d’água sobre o rochedo: por mais
dura que possa ser essa pedra, é, inevitavelmente, atacada, desagregada,
reduzida a pó. É assim que o orgulho (...), mais cedo ou mais tarde é abatido,
e que o arrependimento, enfim, pode ter acesso à sua alma. Como sabem que a
origem de seus sofrimentos está em sua falta, pedem para a reparar, a fim de
trazer um abrandamento a seus males”. Analisando a questão sob o ponto
de vista da história e mensagens espirituais, Allan Kardec escreveu
elucidativa observação, dizendo: -“Sem ir procurar aplicações do remorso nos
grandes criminosos, que são exceções na sociedade, elas são encontradas nas
mais diferentes circunstâncias da vida. É esse sentimento que leva todo
indivíduo a afastar-se daqueles contra os quais sente que tem censuras a fazer;
em presença deles sente-se mal; se a falta não for conhecida, ele teme ser
identificado; parece-lhe que um olhar pode penetrar o fundo de sua consciência;
em toda palavra, em todo gesto, vê uma alusão à sua pessoa. Eis porque, desde
que se sente desmascarado, retira-se. O ingrato, também ele foge de seu
benfeitor, porque a presença dele é uma censura incessante, da qual em vão
procura desembaraçar-se, porque uma voz íntima lhe grita no fundo de sua
consciência que ele é culpado. Se o remorso já é um suplício na Terra, quão
maior não o será no Mundo dos Espíritos, onde não é possível subtrair-se à
vista daqueles a quem se ofendeu. Felizes os que, tendo reparado já nesta vida,
puderem sem receio enfrentar todos os olhares no mundo onde nada é oculto. O
remorso é uma consequência do desenvolvimento do senso moral; não existe onde o
senso moral ainda se acha em estado latente. É por isto que os povos selvagens
e bárbaros cometem sem remorso as piores ações. Aquele, pois, que se
pretendesse inacessível ao remorso assemelhar-se-ia ao bruto. À medida que o
homem progride, o senso moral torna-se mais apurado; revela-se ao menor desvio
do reto caminho. Daí o remorso, que é o primeiro passo para a volta do bem”.
Por que Deus não colocou a verdade ao alcance de todos? Por que as pessoas se diferenciam tanto em matéria de crença, fazendo da religião um campo de batalha, onde cada um quer estar com a razão?
A pergunta é inteligente e
oportuna. Quando perguntamos, estamos pensando e, enquanto pensamos, estamos estimulando
a inteligência. No entanto, em primeiro lugar, nós não podemos falar em nome de
Deus, não temos como penetrar nos seus superiores desígnios, mas podemos tirar
conclusões racionais sobre essa realidade, que você descreve, baseados no que
sabemos das leis da natureza.
Não é mais possível negar a
lei de evolução. Tudo evolui em torno de nós e cada um de nós está evoluindo
continuamente, física e espiritualmente. Veja como nascemos e em que nos
transformamos. Seria o caso de perguntar por que Deus já não nos cria adultos e
conhecedores de tudo. Neste caso não existiria a infância, não teríamos
crianças em nossa vida. Todavia, hoje sabemos que cada um de nós procede de uma
célula minúscula, que se transforma num feto e que depois vem ao mundo através
do nascimento.
Uma criança não é um
adulto. Você vai tratá-la como criança, até que se desenvolva o suficiente,
cresça para a vida e se torne capaz de aprender por si mesma, como uma pessoa
madura, e pronta a buscar seus conhecimentos pelo seu próprio esforço. Este é o
grande milagre da natureza. Nada está pronto: tudo está por fazer. Nós estamos
nos fazendo e refazendo a todo instante: tanto o corpo quanto a alma. Não é bonito isso? O que você acha?
Deus criou leis perfeitas
para que os seres imperfeitos como nós se aperfeiçoem em busca de suas
realizações. Que valor teria a vida, se surgíssemos adultos e soubéssemos tudo?
Que motivos teríamos para nos relacionar uns com os outros? Não teríamos nem motivação para conversar,
porque tudo que falássemos os outros já saberiam. Contudo, a regra da vida é
outra: estamos em patamares diferentes de experiências, de conhecimento, e é
isso que torna nossas relações interessantes.
Observe a alegria da
criança quando descobre uma coisa nova. Viva sua satisfação quando percebe que
já pode andar, que já pode correr, que é capaz de ler seu nome ou de contar por
si mesma uma história. Tudo isso é apenas uma pálida mostra da
felicidade que toma consta de nós quando conseguimos dar mais um passo na
evolução, quando conseguimos descortinar uma nova verdade ou fazer algo de útil
em favor do próximo.
Veja, portanto, onde está a
sabedoria de Deus. Se ele nos criasse perfeitos, conhecedores de tudo, nada nos
restaria a fazer senão nos acomodar e dormir. Cessariam todos os interesses,
acabaria o sentido da vida e certamente morreríamos de tédio. Entretanto, Deus
sempre nos coloca à frente uma nova meta, a meta que precisamos alcançar. É
isso que dá sentido à nossa existência e é esse esforço em descobrir nova
verdade que nos impulsiona para a perfeição. Vamos pensar mais sobre isso.
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