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terça-feira, 3 de março de 2020

NÃO EXISTE RETROCESSO; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR


No número de março de 1859 da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec procura esclarecer dúvida levantada por correspondente da publicação em torno de questão moral, cuja resposta pode nos auxiliar a entender como surgem no organismo social, de vez em quando, casos de indivíduos canibais, outros, dados ao esquartejamento ou decapitação do corpo dos seus semelhantes, outros ainda a ocupações como açougueiros nos matadouros ou carrascos que executam as sentenças de morte deliberadas pelos critérios da justiça ou da religião, como se vê ainda em alguns países ou regiões da Terra.  Contrariamente à ideia genérica do Espírito escolher voluntariamente suas mais marcantes experiências e provas futuras, o bom senso diz que essa possibilidade apenas contempla aqueles que já atingiram certo estagio evolutivo. A maioria retorna às lides da nossa Dimensão submetidos à inflexibilidade da Lei de Causa e Efeito, ou seja, do Determinismo capaz de impor ao infrator da citada Lei as repercussões das suas ações, induzindo seu progresso na escala evolutiva. Acompanhemos o raciocínio de Kardec: -“É evidente, que um Espírito já adiantado, como, por exemplo, o de um europeu esclarecido, não poderá escolher como via de progresso uma existência selvagem: em vez de avançar, retrogradaria. Sabem, entretanto, que os próprios antropófagos não se encontram no último degrau da escala e que há mundos onde o embrutecimento e a ferocidade não tem analogia na Terra. Esses Espíritos são ainda inferiores aos mais atrasados do vosso mundo. Vir, pois, entre os nossos selvagens é-lhes um progresso. Se não visam um ponto muito alto, é que sua inferioridade moral lhes não permite compreender um progresso mais completo. Só gradativamente pode o Espírito progredir: deve passar sucessivamente por todos os graus, de modo que cada passo à frente seja uma base para assentar um novo progresso. Ele não pode transpor de um salto a distância que separa o barbárie da civilização, assim como o estudante não transporá, sem transições, do A B C à retórica.  É nisto que vemos uma das necessidades da reencarnação, que é realmente segundo a justiça de Deus. De outro modo, que seria desses milhões de seres que morrem no último estado de depravação, se não tivessem meios de atingir à superioridade? Porque os teria Deus deserdado dos favores concedidos aos outros homens? Repetimo-lo, por ser ponto essencial: à vista de sua curta inteligência, só compreendem o que é melhor do seu ponto de vista e em estreitos limites. Há, entretanto, alguns que se transviam, por quererem subir muito alto e que nos dão o triste espetáculo da ferocidade no meio da civilização. Voltando ao meio dos canibais, estes ainda lucrarão. Estas considerações também se aplicam às profissões. Elas oferecem evidente superioridade relativa para certos Espíritos, e é neste sentido que devemos conceber a escolha por eles feita. Na mesma posição, elas podem ser escolhidas como expiação ou como missão, porque nenhuma existe na qual se não possa fazer o Bem e progredir pela própria maneira de as exercer. Quanto a saber o que seria dessas profissões caso nenhum Espírito as quisesse exercer, está respondida pelo fato. Desde que os Espíritos que as alimentam vem mais de baixo, não é para temer o desemprego. Quando o progresso social permitir a supressão do ofício de carrasco, desaparecerá o lugar, mas não os candidatos: estes irão apresentar-se entre povos, ou, entre outros mundos menos adiantados”. Como esclarece mensagem reproduzida no capítulo 3 d’O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, “não são todos os Espíritos encarnados na Terra que se encontram em expiação(...). Os Espíritos em expiação aí estão, se assim nos podemos exprimir, como estrangeiros. Já viveram em outros mundos, dos quais foram excluídos por sua obstinação no mal, que os tornava causa de perturbação para os bons. Foram relegados por algum tempo, entre os Espíritos mais atrasados, tendo por missão faze-los avançar, porque trazem uma inteligência desenvolvida e os germes dos conhecimentos adquiridos. É por isso que os Espíritos punidos se encontram entre as raças mais inteligentes, pois são estas também as que sofrem mais amargamente as misérias da vida, por possuírem maior sensibilidade e serem mais atingidas pelos atritos do que as raças primitivas, cujo senso moral é mais obtuso”.

  Angelina Benatti Amarante pergunta:  só existem santos católicos?  Por que o Espiritismo não tem santos? Os Espíritos superiores não são santos?

 Esta é uma questão delicada, Angelina, pois não queremos entrar entrando num terreno que não é nosso.  Ao que nos parece, o título de santo é conferido pela Igreja a católicos que deram demonstração de completa entrega à causa religiosa, agindo no caminho do bem e do amor ao próximo, conforme recomendação de Jesus.  Existem, é claro, outros quesitos básicos exigidos pelos cânones da Igreja, mas o fundamento do título é o exemplo de vida.
 O Espiritismo, por sua vez, não está voltado apenas para os seus seguidores, mas para toda a Humanidade. Não vê nenhum privilégio especial apenas pelo fato de a pessoa se dizer espírita. A doutrina reconhece como verdadeiros vencedores aqueles que trilharam o caminho do bem, não importando a religião, mas apenas sua conduta; enfim, suas obras, baseando na feliz afirmação de Tiago, quando disse “ a fé sem obras é morta”.
É claro que existem pessoas que se destacam no panorama geral da humanidade pelas suas notáveis realizações e são as mais lembrados e talvez as poucas reconhecidas, como Francisco de Assis e Vicente de Paulo, que receberam o título de santo. Mas sabemos que existem milhares, talvez milhões abnegados anônimos, que já passaram por este mundo, mas que não conhecidos. Nem por isso, deixaram de ter seu mérito; pelo contrário: segundo os parâmetros de Jesus, talvez os menos considerados são os maiores no reino dos céus.
  Mas foi a tradição religiosa, ao longo de muitos séculos, que levou o povo a pedir a intercessão dos santos e a pensar que, pelo fato de terem recebido esse título, somente eles foram direto para o céu e estão em condições de nos ajudar. Se a santidade for a principal virtude da alma, muitos outros, como dissemos, mereceriam tal reconhecimento. Mas não é o reconhecimento dos homens que vale. Angelina. O que vale mesmo é o reconhecimento de Deus, e o reconhecimento de Deus não depende do julgamento humano, mas do julgamento de cada um sobre si mesmo. A nossa consciência moral é o nosso juiz mais implacável, é Deus se manifestando em nós.
Por outro lado, aqueles Espíritos que se elevam pelos próprios méritos (que chamamos de Espíritos Benfeitores) são os santos em nosso caminho, quer estejam ainda entre nós (os encarnados), quer estejam partido desta vida (os desencarnados), porque serão sempre o elo espiritual entre nós e Deus, ajudando-nos a trilhar o bom caminho, para que aprendamos a fazer o bem e a evitar o mal. Os títulos em si, Angelina, não dizem nada, o que vale mesmo na vida de cada um são os méritos espirituais que conseguiu reunir ao longo de sua caminhada evolutiva.

















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