Uma
mãe, que não se identificou, refere-se aos modos agressivos com que as crianças
de hoje, a partir dos 9 anos, tratam-se uns aos outros. Ela teme que, ensinando
humildade ao seu filho, possa trazer-lhe problemas em relação aos colegas, que
usam da força para constranger os mais humildes, o que poderia prejudicá-lo na
formação da personalidade. Então, pergunta: até que ponto devo ensinar
humildade ao meu filho?
A humildade é uma
virtude nobre, senhora. Ela deve ser qualidade dos fortes e não dos fracos. Jesus
a ensinou, porque é uma meta que o Espírito deve alcançar para atingir sua
perfeição moral. No entanto, muito poucos a compreenderam, principalmente numa
época em que a violência e o desmando predominavam no mundo. Até hoje, porém,
embora admirando a coragem de Jesus, temos muita dificuldade de vivenciá-la em
nosso dia, porque damos mais valor às vantagens materiais (estimuladora do
orgulho) do que às virtudes do espírito.
Na sociedade em que vivemos a humildade é confundida com
covardia e submissão. Mas não foi o que Jesus ensinou e tampouco o que ele
viveu. Humildade pressupõe discernimento e coragem. Para ser humilde, como
Jesus foi, era necessário muita coragem: coragem para encarar os inimigos sem pretender
destruí-los e para contrariar os costumes vigentes, sem querer impor. Além de
levar uma vida simples, sem pedir o aplauso dos homens, Jesus não forçava
ninguém a segui-lo, mas simplesmente dizia: “Veja quem tem olhos de ver e ouça
quem tem ouvidos de ouvir.”
A humildade numa pessoa, ao contrário da arrogância, faz
com que ela compreenda não só os seus próprios limites, como compreenda mais
ainda a limitação dos outros, como Jesus fez. Ser humilde não é submeter-se passivamente aos
outros porque elas querem, mas submeter-se a uma causa em que acredita e que
está acima das pessoas, o que é bem diferente. A causa é o ideal, é aquilo que
consideramos certo, é aquilo que consideramos bom para nós e para todos. A
causa de Jesus é o amor, ou seja, a fraternidade entre os homens.
Desse modo, agimos
com humildade quando reconhecemos nossos próprios erros e não queremos
prejudicar as pessoas; quando nos calamos diante de uma ofensa, porque
entendemos que o revide seria prejudicial a todos, inclusive a nós mesmos;
quando nos esforçamos por ser iguais a todo mundo, sem discriminar ninguém;
quando nossa atitude é para auxiliar, ainda que soframos com isso. A humildade
é a forma pela qual queremos ser apenas o que somos, sem levar vantagem em cima
do sofrimento dos outros.
Ser humilde é mais
do que isso, ser humilde é defender-se de si mesmo, como ensinou Jesus, pois é
a forma mais adequada de conviver com as pessoas que nos rodeiam. Ele
recomendou que, ao chegarmos a uma festa, tomemos os últimos lugares e não os
primeiros, para evitar que sejamos obrigados depois a deixar os primeiros para
ocupar os últimos em razão da chegada de convidados especiais. Aqueles que
engrandecem serão rebaixados e os que se rebaixam seria elevados, disse o
mestre.
Portanto, cara
mãe, não devemos ensinar que nossos filhos apenas se submetam à vontade humana,
mas que sempre submetam ao bem, à verdade e à justiça, porque isso é submissão
à vontade de Deus. Isto é humildade no
seu mais amplo sentido. Com certeza, em certos momentos da vida, eles terão que
agir com determinação e firmeza, enquanto que noutras ocasiões, por força das
circunstâncias, saberão como se colocar com compreensão e brandura diante da
ignorância dos outros.
Contudo, cara mãe,
não basta que apontemos o caminho para nossos filhos; é preciso que nós
próprios, os pais, procuremos andar por esse mesmo caminho à frente deles, como
fez Jesus diante dos discípulos, para servir de exemplo. Como não vamos acertar
sempre, mas, ao contrário, como nós vamos errar algumas vezes diante deles,
aproveitemos essas oportunidades para reconhecer esses erros e mostrar aos
filhos que a humildade começa pelo reconhecimento de nossa própria imperfeição,
mas com o imenso desejo de nos corrigir.
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