Como parte do conteúdo da
edição de abril de 1858 da REVISTA
ESPÍRITA, Allan Kardec inclui interessante estudo sobre a identidade
entre os ensinos do Espiritismo e as milenares tradições druídicas, uma
das etnias pertencentes ao grande grupo humano conhecido como Celta.
Os Celtas
foram citados literariamente pela primeira no século VI a.C., por Hecateu
de Mileto, constituindo várias
tribos designadas bretões, gauleses, batavos, belgas,
gálatas, entre outros, as quais, mais tarde, dariam nome a províncias romanas
e, posteriormente, a estados-nações medievais e modernos da Europa. Os gauleses
habitavam a Gália, território hoje compreendido pela França, Itália e Bélgica,
dividindo-se em 44 povos quando das conquistas do Império Romano, formando
a chamada Gália Celta. Nessas sociedades os Druidas viam
a vida como um círculo ou espiral, e, eram encarregados das tarefas de aconselhamento,
ensino e jurídico-filosóficas, assumindo o papel de diretores
espirituais, buscando o equilíbrio, ligando a vida pessoal à fonte
espiritual presente na Natureza. Kardec motivara-se por uma série de
artigos publicados dez anos antes no jornal Le Siècle, especialmente
por que quando de sua elaboração não se cogitava de Espíritos, o que, segundo
crê, “não
teria deixado o autor de sublinhar que tudo quanto se passa hoje é mera
repetição daquilo que os antigos sabiam tão bem, ou melhor, que nós”. “Quanto
a nós, diz ele, “as observações pessoais, nenhuma dúvida
deixam, relativamente à antiguidade e universalidade da doutrina ensinada pelos
Espíritos. A coincidência entre o que hoje nos dizem e crenças das mais remotas
eras é um fato significativo do mais elevado alcance”. Acrescenta: -“Entretanto,
se encontramos por toda parte os traços da Doutrina Espírita, em parte alguma a
vemos completa. Parece ter sido reservada à nossa época a tarefa de coordenar
esses fragmentos esparsos entre os povos, a fim de chegarmos à unidade de
princípios, através de um conjunto mais completo e, sobretudo, mais geral das
manifestações que, parece, dão razão ao autor do artigo citado pouco antes,
sobre o período psicológico, no qual aparentemente vai entrando a Humanidade”.
O material do Le Siècle, depois de ponderações sobre aspectos da proposta dos
Druidas, como sua predileção particular pelo número três que empregavam
especialmente para a transmissão de suas lições que, mediante esse corte
preciso, mais facilmente era gravada na memória, reproduz 29 premissas da visão
daquela escola sobre DEUS E O UNIVERSO;
OS TRÊS CÍRCULOS (de existência/estados/fases
– humilhação,
liberdade e felicidade -, necessárias em relação à vida) e O CIRCULO DE ABRED - ou círculo da
migração -,onde o destino do Ser é determinado através de uma série de
existências, segundo o bom ou mau uso que haja feito de sua liberdade, visando
elevar-se ao CÍRCULO SUPREMO (gwynfyd),
onde cessam as migrações, onde não se morre, onde a vida se escoa na felicidade,
conservando, entretanto, uma atividade perpétua e a plena consciência de sua
individualidade. Concluindo o material por ele elaborado, Kardec comenta: -“A
Doutrina Espírita não consiste apenas na crença nas manifestações dos Espíritos
- mas em tudo quanto estes nos ensinam sobre a natureza e o destino das almas.
Se, pois, nos reportarmos aos preceitos contidos n’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS, onde
encontraremos formulado todo seu ensino, ficaremos admirados ante a identidade
de alguns princípios fundamentais com os da Doutrina Druídica, dos quais um dos
mais notáveis é, incontestavelmente, a reencarnação. Nos três círculos, nos
três estados sucessivos dos seres animados, encontramos todas as fases
apresentadas por nossa escala espírita. Realmente, que é o CIRCULO DE ABRED ou
da migração, senão as duas ordens de Espíritos que se depuram pelas existências
sucessivas? No CÍRCULO GWYNFYD, o homem não transmigra mais; desfruta a suprema
felicidade. Não é a primeira ordem da escala, a dos puros Espíritos, que, tendo
realizado todas as provas, não mais necessita da reencarnação e gozam a Vida
Eterna? Notemos ainda que, segundo a Doutrina Druídica, o homem conserva o
livre arbítrio; que se eleva gradativamente, por sua vontade, por sua perfeição
progressiva e pelas provas por que passou, do ANNOUFN ou ABISMO, à perfeita
felicidade em GWYNFYD, com a diferença, entretanto, que o druidismo admite a
volta possível às camadas inferiores, ao passo que, segundo o Espiritismo, o
Espírito pode ficar estacionário, mas não pode degenerar”.
Roberto Silva faz a seguinte colocação: na Bíblia e nas diversas orações da Igreja, a gente encontra a expressão “vida eterna”. Aprendi que vida eterna é a vida que vem depois da morte, tanto no céu como no inferno, porque a eternidade vem depois desta vida. É isso mesmo? Parece que os espíritas não costumam usar essa expressão. Porque?
As palavras e as expressões, que aparecem na
Bíblia, são traduções dos termos ou expressões que se usavam antigamente no
seio de um povo, mas elas estão sujeitas a interpretações e, muitas vezes, com
o tempo acabam perdendo o sentido original. Por isso, quando lemos esses textos
precisamos primeiramente compreender o sentido mais amplo da mensagem de Jesus,
ou seja, qual a finalidade de seus ensinos. A partir da daí, podemos
interpretar com mais justeza o sentido de palavras e expressões que lhe foram
atribuídas.
Ao que tudo indica, conforme o momento que
Jesus teria utilizado esta expressão, podemos dar-lhe dois principais sentidos.
O primeiro sentido é que “vida eterna” significa a vida do Espírito, que
é diferente da vida do corpo. A vida do corpo é curta, passageira e
limitada; a vida do Espírito é longa,
definitiva e ilimitada. Logo “vida eterna” é a vida do Espírito.
É evidente que o Espírito não surge depois da
morte do corpo. Não, ele já existe antes juntamente com o corpo; o que ocorre
com a morte é a sua separação do corpo para entrar numa dimensão em que só o
Espirito existe. Podemos dizer, portanto, que depois da vida terrena o Espírito
entra para a vida eterna, mas só como Espírito.
A palavra “eterno”, no entanto, no seu
sentido estrito, quer dizer “o que não tem começo nem fim”, enquanto que
“eternidade” quer dizer “além do
tempo, fora do tempo”. Neste sentido amplo, portanto, só Deus é eterno e,
portanto, só Ele pode viver na eternidade. Nós, que somos suas criaturas, limitadas
e imperfeitas, tivemos um início e, portanto, realmente não somos eternos, somos
apenas imortais no sentido estrito da palavra.
Um segundo sentido que se dá a esta expressão
“vida eterna” é de vida feliz, felicidade ou de bem aventurança. Foi nesse
sentido que um homem procurou Jesus para lhe perguntar o que deveria fazer para
alcançar a vida eterna. Jesus lhe disse que deveria cumprir os mandamentos e,
após questionar o homem que mandamentos cumpria, disse-lhe que vendesse todos
os bens que possuía, desse dinheiros aos pobres e, depois, o seguisse.
Com certeza, Jesus se referia ao desapego
total dos bens terrenos e ao apego total ao sentimento de amor pelo
próximo. Em seguida disse que é mais
fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino
dos céus. Isso quer dizer que o apego aos bens passageiros desse mundo acaba
por nos prender demasiadamente a eles. Isso seria obstáculo natural à vida do
Espírito que, se ficar apegado à matéria, não conseguirá ser feliz no mundo
espiritual.
Para concluir, podemos afirmar que a
expressão “vida eterna” pode ser entendida em dois sentidos: primeiro como “vida do Espírito”, vida no mundo espiritual.
Em segundo lugar como “felicidade”, “vida com Deus”, “vida feliz”. Como
consideramos que o destino do Espírito é para a felicidade – porque foi para
isso que todos fomos criados – essa condição de felicidade plena não se dá aqui
na Terra e, muito menos, em apenas uma encarnação, mas vai sendo conquistada ao
longo do tempo, mediante a jornada espiritual de cada um de nós.
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