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sábado, 7 de março de 2020

O VELHO NOVO; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR


Como parte do conteúdo da edição de abril de 1858 da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec inclui interessante estudo sobre a identidade entre os ensinos do Espiritismo e as milenares tradições druídicas, uma das etnias pertencentes ao grande grupo humano conhecido como Celta. Os Celtas foram citados literariamente pela primeira no século VI a.C., por Hecateu de Mileto, constituindo várias  tribos designadas bretões, gauleses, batavos, belgas, gálatas, entre outros, as quais, mais tarde, dariam nome a províncias romanas e, posteriormente, a estados-nações medievais e modernos da Europa. Os gauleses habitavam a Gália, território hoje compreendido pela França, Itália e Bélgica, dividindo-se em 44 povos quando das conquistas do Império Romano, formando a chamada Gália Celta. Nessas sociedades os Druidas viam a vida como um círculo ou espiral, e, eram encarregados das tarefas de aconselhamento, ensino e jurídico-filosóficas, assumindo o papel de diretores espirituais, buscando o equilíbrio, ligando a vida pessoal à fonte espiritual presente na Natureza. Kardec motivara-se por uma série de artigos publicados dez anos antes no jornal Le Siècle, especialmente por que quando de sua elaboração não se cogitava de Espíritos, o que, segundo crê, “não teria deixado o autor de sublinhar que tudo quanto se passa hoje é mera repetição daquilo que os antigos sabiam tão bem, ou melhor, que nós”. “Quanto a nós, diz ele, “as observações pessoais, nenhuma dúvida deixam, relativamente à antiguidade e universalidade da doutrina ensinada pelos Espíritos. A coincidência entre o que hoje nos dizem e crenças das mais remotas eras é um fato significativo do mais elevado alcance”. Acrescenta: -“Entretanto, se encontramos por toda parte os traços da Doutrina Espírita, em parte alguma a vemos completa. Parece ter sido reservada à nossa época a tarefa de coordenar esses fragmentos esparsos entre os povos, a fim de chegarmos à unidade de princípios, através de um conjunto mais completo e, sobretudo, mais geral das manifestações que, parece, dão razão ao autor do artigo citado pouco antes, sobre o período psicológico, no qual aparentemente vai entrando a Humanidade”. O material do Le Siècle, depois de ponderações sobre aspectos da proposta dos Druidas, como sua predileção particular pelo número três que empregavam especialmente para a transmissão de suas lições que, mediante esse corte preciso, mais facilmente era gravada na memória, reproduz 29 premissas da visão daquela escola sobre DEUS E O UNIVERSO; OS TRÊS CÍRCULOS (de existência/estados/fases – humilhação, liberdade e felicidade -, necessárias em relação à vida) e O CIRCULO DE ABRED - ou círculo da migração -,onde o destino do Ser é determinado através de uma série de existências, segundo o bom ou mau uso que haja feito de sua liberdade, visando elevar-se ao CÍRCULO SUPREMO (gwynfyd), onde cessam as migrações, onde não se morre, onde a vida se escoa na felicidade, conservando, entretanto, uma atividade perpétua e a plena consciência de sua individualidade. Concluindo o material por ele elaborado, Kardec comenta: -“A Doutrina Espírita não consiste apenas na crença nas manifestações dos Espíritos - mas em tudo quanto estes nos ensinam sobre a natureza e o destino das almas. Se, pois, nos reportarmos aos preceitos contidos n’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS, onde encontraremos formulado todo seu ensino, ficaremos admirados ante a identidade de alguns princípios fundamentais com os da Doutrina Druídica, dos quais um dos mais notáveis é, incontestavelmente, a reencarnação. Nos três círculos, nos três estados sucessivos dos seres animados, encontramos todas as fases apresentadas por nossa escala espírita. Realmente, que é o CIRCULO DE ABRED ou da migração, senão as duas ordens de Espíritos que se depuram pelas existências sucessivas? No CÍRCULO GWYNFYD, o homem não transmigra mais; desfruta a suprema felicidade. Não é a primeira ordem da escala, a dos puros Espíritos, que, tendo realizado todas as provas, não mais necessita da reencarnação e gozam a Vida Eterna? Notemos ainda que, segundo a Doutrina Druídica, o homem conserva o livre arbítrio; que se eleva gradativamente, por sua vontade, por sua perfeição progressiva e pelas provas por que passou, do ANNOUFN ou ABISMO, à perfeita felicidade em GWYNFYD, com a diferença, entretanto, que o druidismo admite a volta possível às camadas inferiores, ao passo que, segundo o Espiritismo, o Espírito pode ficar estacionário, mas não pode degenerar”.

 Roberto Silva faz a seguinte colocação: na Bíblia e nas diversas orações da Igreja, a gente encontra a expressão “vida eterna”. Aprendi que vida eterna é a vida que vem depois da morte, tanto no céu como no inferno, porque a eternidade vem depois desta vida. É isso mesmo? Parece que os espíritas não costumam usar essa expressão. Porque?

As palavras e as expressões, que aparecem na Bíblia, são traduções dos termos ou expressões que se usavam antigamente no seio de um povo, mas elas estão sujeitas a interpretações e, muitas vezes, com o tempo acabam perdendo o sentido original. Por isso, quando lemos esses textos precisamos primeiramente compreender o sentido mais amplo da mensagem de Jesus, ou seja, qual a finalidade de seus ensinos. A partir da daí, podemos interpretar com mais justeza o sentido de palavras e expressões que lhe foram atribuídas.
Ao que tudo indica, conforme o momento que Jesus teria utilizado esta expressão, podemos dar-lhe dois principais sentidos. O primeiro sentido é que “vida eterna” significa a vida do Espírito, que é diferente da vida do corpo. A vida do corpo é curta, passageira e limitada;  a vida do Espírito é longa, definitiva e ilimitada. Logo “vida eterna” é a vida do Espírito.
É evidente que o Espírito não surge depois da morte do corpo. Não, ele já existe antes juntamente com o corpo; o que ocorre com a morte é a sua separação do corpo para entrar numa dimensão em que só o Espirito existe. Podemos dizer, portanto, que depois da vida terrena o Espírito entra para a vida eterna, mas só como Espírito.
A palavra “eterno”, no entanto, no seu sentido estrito, quer dizer “o que não tem começo nem fim”, enquanto que “eternidade”         quer dizer “além do tempo, fora do tempo”. Neste sentido amplo, portanto, só Deus é eterno e, portanto, só Ele pode viver na eternidade. Nós, que somos suas criaturas, limitadas e imperfeitas, tivemos um início e, portanto, realmente não somos eternos, somos apenas imortais no sentido estrito da palavra.
Um segundo sentido que se dá a esta expressão “vida eterna” é de vida feliz, felicidade ou de bem aventurança. Foi nesse sentido que um homem procurou Jesus para lhe perguntar o que deveria fazer para alcançar a vida eterna. Jesus lhe disse que deveria cumprir os mandamentos e, após questionar o homem que mandamentos cumpria, disse-lhe que vendesse todos os bens que possuía, desse dinheiros aos pobres e, depois, o seguisse.
Com certeza, Jesus se referia ao desapego total dos bens terrenos e ao apego total ao sentimento de amor pelo próximo.  Em seguida disse que é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus. Isso quer dizer que o apego aos bens passageiros desse mundo acaba por nos prender demasiadamente a eles. Isso seria obstáculo natural à vida do Espírito que, se ficar apegado à matéria, não conseguirá ser feliz no mundo espiritual.
Para concluir, podemos afirmar que a expressão “vida eterna” pode ser entendida em dois sentidos: primeiro como  “vida do Espírito”, vida no mundo espiritual. Em segundo lugar como “felicidade”, “vida com Deus”, “vida feliz”. Como consideramos que o destino do Espírito é para a felicidade – porque foi para isso que todos fomos criados – essa condição de felicidade plena não se dá aqui na Terra e, muito menos, em apenas uma encarnação, mas vai sendo conquistada ao longo do tempo, mediante a jornada espiritual de cada um de nós.


















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