Quem conheceu Chico Xavier a partir dos
anos 70 não imagina as lutas pessoais enfrentadas por ele nas décadas
anteriores na estrada percorrida em sua passagem por nossa Dimensão na
existência que cumpria. Perseguições de toda ordem lhe marcavam os dias
pessoal, profissional, espiritual. Esses momentos foram superados em meio à
força interior que ia se construindo. Dos momentos que passaram, destacamos
algumas reflexões que podem nos ser uteis.
1- Esperar felicidade na
Terra é ilusão, e expectativa de agradar a maioria dos homens é ilusão maior.
Assim, resta-nos a alegria de mergulhar o Espírito no serviço.
2- Diz-nos um Amigo Invisível que quem com César adquire débitos,
com o próprio César resgatará.
3- O enigma é um dos mais sérios. Todos chegam falando em caridade,
mas se pedirmos a eles para serem caridosos, fogem acusando-nos. É preciso um verdadeiro
“Ministério do Exterior” para tratar do assunto. Penso que isso deve fazer
parte de nossas provas.
4- Eu, sem qualquer expressão no movimento doutrinário, isolado no
sertão agreste de Minas, tenho recebido todos os nomes grosseiros conhecidos.
Tudo quanto é “acusação”, as mais esquisitas, tem vindo sobre mim. Há dias em
que me sinto enlouquecer, porque registro a carga pesada de fluidos
venenosos que me atiram.
5- Defendamos a Causa com o nosso amor. Mas, se formos vergastados
por servirmos a ela, nunca revidemos. A voz de Deus se fará sentir, em nosso
benefício, através de alguém ou de alguma coisa.
6- Minha irmã Zina, em Belo Horizonte, foi convidada pelas
autoridades a identificar um cavalheiro que usava o meu nome, na cidade, em
bairro populoso, dando sessões a Cr$ 300,00 e passes a Cr$ 100,00 e expondo na
sala os próprios livros de Emmanuel, Irmão X e André Luiz. Minha irmã foi chamada
a declarar se a pessoa era eu mesmo. Foi uma confusão. Reconhecida a mistificação,
foram tomadas providências. Não poderemos vencer a má-fé. Deus nos proteja a
todos.
7- O melhor modo de utilizarmos o adversário, ainda mesmo quando
seja mau declaradamente, é conservá-lo próximo de nós, a fim de que o convençamos
da sinceridade nossos propósitos e de nossa amizade, na luta do “dia-a-dia”.
8- Enquanto permanece ao nosso lado, com o espírito de
fraternidade, temos somente um inimigo, muitas vezes benéfico; mas, se o
alijamos, sem a precisa renovação, temos uma guerra de longa e indefinível
ação, no espaço e no tempo.
9- Diz-nos Emmanuel, frequentemente, que “para tomar ou adquirir
alguma coisa de nossos semelhantes, a ação é sempre mais fácil, mas é sempre
mais difícil dar a alguém o bem legítimo, quando nisto empenhamos o coração”.
10- O adversário sempre auxilia, ainda mesmo quando oculto.
11- Se nos colocarmos à disposição de quantos nos procuram, o
serviço ficará por fazer.
12- Eu nada represento, sou um verme na máquina do serviço
espiritual e de há muito me sinto em pleno fogo. Há momentos em que me vejo
desencarnar sob a pressão das duas Esferas — a visível e a invisível.
Valha-nos, meu caro amigo, a afirmativa do Apóstolo quando nos disse: — O nosso
Deus é um fogo consumidor.
13- Diz-nos o nosso prezado Emmanuel que em todas as horas da vida é
preciso enfrentar os fatos e procurar o lema: — “Por fora com todos e por
dentro com Deus.”
14- Uma vida só é grande e bela pelas obras realizadas a serviço do
bem e tens sabido converter os teus dias em bênçãos de trabalho pelos
semelhantes.
15- Emmanuel é veemente no dizer que sem burilamento das partes é
impraticável o burilamento da obra.
16- Começar é fácil, continuar é difícil e chegar ao fim é
crucificar-se”, diz o nosso Emmanuel para designar uma tarefa cristã.
17-Penso deva ele ser um trabalhador daqueles “tipo como quer, onde
quer e quando quer”. Diz Emmanuel que esse gênero de servidores pode ser muito
bom, mas não é a espécie que Jesus espera do mundo.
18- Com Jesus e com o tempo, não há problema insolúvel. Como é
rigorosa a Lei Divina!
Questão, encaminhada por um alguem que não se identificou, diz o seguinte: eu não acredito que religião possa salvar alguém, Mas, as religiões são muitas e todas querem ter a posse da verdade e o único caminho da salvação. Diante disso, não seria mais prudente não seguir nenhuma delas, mas cada um cultivar sua própria crença, se é que ela crê em algo além desta vida?
O
pensador suíço, Jean Jacques Rousseau, e depois o filósofo escocês, David Hume,
trataram dessa questão no século XVIII, o século anterior ao de Kardec.
Rousseau considerou, inicialmente, que a crença em Deus é natural no Ser humano
e, portanto, todo individuo já nasce com essa propensão de acreditar na
divindade. Rousseau chamou isso de religião natural, considerando que o
sentimento religioso faz parte da natureza humana. E ele não estava
errado. Pelo contrário.
Recentemente,
com o desenvolvimento da genética e da neurociência, alguns cientistas
descobriram que existe um gene humano responsável pela crença em Deus e até uma
região do cérebro que funciona em torno
dessa mesma questão. Allan Kardec, meados
do século XIX, afirmava com muita convicção que a crença em Deus já está no
instinto humano, nasce com o indivíduo, o que confirma a ciência hoje. Dizia
Kardec que não é difícil de se verificar isso, a partir da constatação de que
jamais existiu um povo ateu.
Por
isso mesmo, a Doutrina Espírita respeita todas as crenças e todas as religiões,
considerando que a fé é inerente ao homem e que ninguém pode e nem tem o
direito de comandá-la, a não ser a própria pessoa que crê. No mais, as
religiões nada mais são do que formas diferentes de manifestação da fé. No
entanto, convém considerar que existe a religião como instituição (como é o
caso da religião católica, por exemplo), como existe a religião pessoal, aquela
que é vivida no íntimo de cada pessoa.
Desse
modo, seguir um religião, na vida prática, não quer dizer que a pessoa acredita
ou aceita tudo o que essa religião diz. No seu mundo íntimo, quer ela queira ou
não, vão permanecer sempre algumas dúvidas, alguns questionamentos e, mais do
que isso, haverá pontos de sua crença que conflitam com aquilo que a sua
religião diz ser a verdade. O Mahatma Gandhi, uma das mais destacas expressões
do pensamento moral, afirmava que embora muitas pessoas professem um a mesma
religião, no íntimo, cada pessoa tem o seu próprio modo de crer.
Ninguém pode mudar isso, pois construir a
própria crença, baseando-se na própria experiência de vida é um processo
natural. Não há como transferir a crença de uma pessoa para outra. Mesmo que a
pessoa esteja empenhada em ajudar a outra a crer, ela apenas poderá ajudá-la,
mas não poderá crer no seu lugar. A fé não se prescreve, diz Kardec em O
EVANGELHO SEGUNDO ESPIRITISMO. Ela é o resultado do caminhar de cada um. Disso
se pode concluir que cada pessoa tem a sua forma de crer.
No entanto, as religiões ajudam a fortalecer
a fé, mas mesmo que queiram elas não podem substituir a fé de cada um. Querer a
religião nivele o pensamento, ou seja, faça com que cada um de seus adeptos
pense exatamente como todos os outros, é impossível. Por isso, o Espiritismo
considera a fé como um valor sagrado que deve ser respeitado. Cada pessoa, seja
qual for a religião que professe, está no seu pleno direito e merece o respeito
de todos os demais.
Há pessoas, no entanto, que não se adaptam às
atividades específicas do mundo religioso. Elas se negam a participar dessas
atividades e cultos, por não concordarem com tudo que a religião oferece e não
se identificarem com essas práticas. Essas pessoas também têm o direito de
cultivar apenas e tão somente a sua religião natural, pois, se creem em Deus e
nos valores superiores da vida, devem estar num bom caminho.
Mas a questão fundamental, do ponto de vista
espírita, não é a religião em si. Religião pode ser qualquer uma. O fundamental
é a pessoa, acreditando na existência de Deus, procure ser coerente com a fé em
um Ser Supremo, em um Bem Supremo, em
uma Justiça Suprema e, por isso, procure viver condignamente, diante de
si mesmo e diante do semelhante, para que a sua fé não seja apenas um objeto de
enfeite, mas uma força íntima que a levará a ser uma pessoa de bem.
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