Um sugestivo material, que nos serve de referência diante do que está acontecendo hoje, com a pandemia do COVID 19, causada pela propagação do novo coronavirus, e que está sendo veiculado via whatsapp por conta de um artigo publicado pela USE/São Paulo, refere-se à uma pandemia de cólera que aconteceu na época de Allan Kardec, meados do século XIX, causando muitos problemas e apreensão no mundo.
Foi sobre essa doença, que se generalizou no
mundo, que Allan Kardec escreveu num dos números da REVISTA ESPIRITA de
1865, quando o cólera já havia se espalhado pelos vários continentes, vitimando
milhares e milhares de pessoas. É interessante que o ouvinte procure ler toda a
matéria de que estamos falando e que foi publicada na Revista Espírita, no mês
de novembro de 1865, sob o título “O Espiritismo e o Cólera”.
O
cólera é uma doença bacteriana infecciosa intestinal aguda, transmitida por
contaminação fecal-oral direta ou pela ingestão de água ou alimentos
contaminados. Na época, em que a doença se alastrava, um advogado espírita de
Constantinopla escreveu para Allan Kardec sobre a pandemia que atingira sua
cidade e aproveitava para informar sobre algo interessante. Ele observara que
os espíritas de sua cidade, embora fossem numerosos, não tinham sido atingido
pela doença. E atribuía isso ao fato de se sentirem mais seguros e confiantes
diante do que acontecia, por acreditarem na imortalidade e na reencarnação.
Kardec foi muito cuidadoso na resposta, afirmando
que não devemos pensar que os espíritas, somente pelo fato de serem espíritas,
gozam de algum privilégio diante das leis da natureza e que eles, tanto quanto
as pessoas de qualquer outra crença, podem ou não ser vítimas de qualquer
doença. Ele enfatiza, porém, que a diferença entre o espírita e o não-espírita
está na fé raciocinada que o Espiritismo proclama, razão pela qual espera-se
que o espírita enfrente situações de risco com a serenidade e a confiança que
sua fé lhe proporciona.
Kardec demonstra, por
suas afirmações, que ante as Leis Naturais ou Lei de Deus, todos somos iguais,
independente de crença. Mas, ao mesmo tempo, o autor que lhe escreveu a carta
fala da importância de nossa atitude ante uma situação quem pela sua natureza e
dimensão, provoca medo na população, assunto que tratamos há pouco em nossa
crônica de abertura. A certa altura de
sua carta, ele afirma: “É sobretudo nesses tristes momentos de epidemia
espantosa que a fé e a crença espírita dão coragem”. E conclui, dizendo:
“Acabamos todos de dar a mais verídica das provas”.
E prossegue: “Quem sabe se não devemos a essa
calma da alma, a essa persuasão da imortalidade, a essa certeza das existências
sucessivas, em que os seres são compensados segundo o seu mérito e seu grau de
adiantamento; quem sabe, digo eu, se não é por essas crenças, base de nossa
bela doutrina, que nós todos – espíritas de Constantinopla que somos, como
sabeis bastante numerosos, devemos ter sido preservados do flagelo que se
espalhou e ainda se espalha em torno de nós!”
E conclui o advogado: “Digo-o tanto mais
quanto foi constatado, aqui e alhures, QUE O MEDO É O PREDISPOSITIVO MAIS
PERIGOSO DO CÓLERA, assim como a ignorância infelizmente é uma fonte de
contágio...”
Aqui devemos salientar dois pontos. Primeiro,
repetimos: Kardec não quis e não podia admitir que o espírita goza de qualquer
privilégio só pelo fato de ser espírita. Na lei de Deus não há protecionismo,
Daí porque ele considerou muito lisonjeira a carta do advogado que se
vangloriava pelo fato de o cólera não
ter feito vítimas entre os espíritas de sua cidade. Nisso Kardec tinha toda
razão.
Mas, em segundo
lugar, não poderíamos deixar de considerar que o advogado missivista também
tinha sua parte de razão, quando disse claramente que O MEDO É O PREDISPOSITIVO
MAIS PERIGOSO DO COLERA, corroborando o que dissemos na fala inicial deste
programa.. Na verdade, não era o Espiritismo que estava salvando as pessoas,
mas, sim, o fato de as pessoas confiarem
nos princípios que a doutrina ensina ( a fé em Deus, a imortalidade e a
reencarnação), pois essa confiança lhes dá segurança, serenidade, disposição e
coragem, fortalecendo seu sistema
imunológico, evitando que a doença tomasse conta do organismo.
O cultivo de valores espirituais e a
consciência tranquila constituem fatores de proteção com que a pessoa tem
certeza que, mesmo sendo vítima da doença, sua vida não acaba com a morte,
mas prossegue além desta existência na
busca de seus ideais. Um outro ponto que chama atenção na resposta que Allan
Kardec deu há 155 anos atrás, é a sua total adesão às recomendações das
autoridades médicas ou aos princípios da ciência, diante de uma situação que
coloca em risco a vida de milhares de pessoas e de coletividades inteiras.
Nesse sentido, conforme lemos na REVISTA ESPÍRITA de
1865, Allan Kardec afirmava: “... desprezar as medidas sanitárias que os podem
preservar (a vida) seria um verdadeiro suicídio, cujas consequências elas
conhecem muito bem para se exporem”. Ora, ao fazer tal afirmação é como se
Kardec estivesse dando as mesmas recomendações dos órgãos de saúde em relação
aos cuidados preventivos que devemos tomar hoje quanto à contenção da pandemia
do COVID 19.
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