Você
já teve a impressão de ter sido salvo de algum perigo por uma voz de origem
desconhecida? Já teceu fluente comentário sobre assunto não tão conhecido por
você? Pois essa inspiração, segundo o Espiritismo, tem origem em acompanhantes
espirituais ligados a você que, exercem salvadora influência em momentos, por
vezes, críticos. No número de janeiro de 1861, da REVISTA
ESPÍRITA, seção Ensino Espontâneo dos Espíritos, encontramos uma mensagem
assinada pelo Espírito Chaning oferecendo interessantes
elementos para nossas reflexões a propósito da ação dos Amigos Espirituais em nossa
vida diária. Channing, cujo nome completo é William Ellery Channing,
viveu por 62 anos entre 1780 e 1842, nos Estados Unidos da América do Norte. Tendo
estudado Teologia em Newport e Harvard, tornou-se um pregador de sucesso em
várias igrejas protestantes de Boston, tendo trabalhado em seu País, para a
eliminação da escravidão, do alcoolismo, da pobreza e da guerra. Preferindo
evitar temas polêmicos da Doutrina que seguia, pregava a moralidade, a caridade
e as responsabilidades cristãs. Não acreditava que a sociedade pudesse ser
melhorada por ações coletivas, descrevendo sua própria luta “como
um sistema racional e amável contra o não entendimento dos homens da caridade e
da piedade”. Pelas suas participações nas publicações assinadas por Allan
Kardec, percebe-se que inclui-se entre os integrantes da equipe do ESPIRITO
DA VERDADE empenhados na formulação da proposta revolucionária do
Espiritismo. No capítulo 21 d’O Livro
dos Médiuns, por exemplo, opinando sobre as resistências impostas à
Doutrina Espírita, diz: -“Qual a instituição humana, ou mesmo
divina, que não encontrou obstáculos a vencer, cismas contra os quais lutar? Se
apenas tivesses existência triste e lânguida, ninguém vos atacaria, sabendo
perfeitamente, que havíeis de sucumbir de um momento para o outro. Mas, como a
vossa vitalidade é forte e ativa, como a árvore espírita tem fortes raízes,
admitem que ela viverá longo tempo e tentam golpeá-la a machado. Que
conseguirão esses invejosos? Quando muito deceparão alguns galhos, que
renascerão com seiva nova e serão mais robustos que nunca”. Na referida
manifestação versando sobre a ação desses protetores espirituais, Channing
diz: -“Todos os homens são médiuns; todos tem um Espírito que os dirige para
o Bem, quando sabem escutá-lo. Agora, se alguns com ele se comunicam por meio
de uma mediunidade particular, se outros não o escutam senão pela voz do
coração e da inteligência, pouco importa: nem por isso deixa de ser o seu
Espírito familiar que os aconselha. Chamai-o Espírito, razão, inteligência, é
sempre uma voz que responde a vossa alma e vos dita boas palavras. Apenas nem
sempre as compreendeis. Nem todos sabem agir segundo os conselhos dessa razão –
não dessa razão que se arrasta e se roja, em vez de marchar, dessa razão que
eleva o homem acima de si mesmo, que o transporta para as regiões
desconhecidas; chama sagrada que inspira o artista e o poeta, pensamento divino
que eleva o filósofo, sopro que arrasta os indivíduos e os povos, razão que o
vulgo não pode compreender, mas que aproxima o homem da Divindade mais que
outra criatura; entendimento que sabe conduzi-lo do conhecido para o
desconhecido e o faz executar as mais sublimes coisas. Escutai, pois, esta voz
interior, esse bom gênio, que vos fala incessantemente, e chegareis,
progressivamente, a ouvir o vosso Anjo da guarda, que do alto do céu vos
estende as mãos”. Como podemos concluir, a suscetibilidade mental para
captarmos o pensamento dos Espíritos, não só “rastreia” as sugestões más.
Acolhe também as boas.
Pergunta da Irene: “Ultimamente a febre amarela vem invadindo as florestas brasileiras. Centenas ou talvez milhares de macacos já morreram. Minha pergunta é a seguinte: “Por que esses animais têm de sofrer? Macaco tem carma?”
Vamos dizer, primeiramente,
o que entendemos por “carma”, Irene. Carma não é uma palavra espírita, embora
muitos espíritas tenham adotado essa palavra. Ela veio do hinduísmo e portanto
é bem mais antiga que o Espiritismo e quer dizer “ação”. No conceito do
hinduísmo e do budismo, refere-se à lei de causa e efeito, ou seja, tudo o que
o indivíduo passa nesta vida e que decorre de erros de erros ou descaminhos de vidas
passadas. Logo o carma pode ser positivo quando as consequências forem boas ou
negativo quando levarem a pessoa ao sofrimento.
No Espiritismo, temos a
palavra “expiação” (escreve-se com “x”), adotada por Allan Kardec, ao se
referir ao sofrimento decorrente de atos de vidas passadas. Na verdade, é o
funcionamento da lei de causa e efeito, que é um postulado básico da filosofia
e da ciência. A lei de causa e efeito se aplica a todos os fenômenos naturais –
como o calor e o frio, a dor e o prazer, o dia e a noite, etc., Nada acontece
por acaso. Mas quando falamos de expiação estamos nos referindo apenas às
consequências morais do sofrimento humano
Não é Deus que nos castiga,
somos nós próprios que acionamos a lei e ela vem nos cobrar os deslizes. Esse
processo é automático e está centralizado na consciência moral de cada um. As
vítimas podem voltar-se contra seus algozes e os que curtem no espírito o
sentimento de culpa podem pedir por sacrifícios como forma de se liberar da
culpa. Logo, em última instância, somos nós que, um dia, acabaremos por julgar
a nós mesmos e isso tem repercussão direta em nossas encarnações sob o nome de
sofrimento.
Quando Jesus fala “a cada
um segundo suas obras”, ele está se referindo à lei de causa e efeito e,
portanto, ao carma: para nós, a prática de uma boa obra nos leva a um resultado
agradável e de uma obra má em alguma consequência danosa. aqui na Terra, essa lei moral se aplica
unicamente ao ser humano, pois somente o ser humano tem consciência do que é
bem e do que é mal ( isto é, tem vida moral); os animais não tem.
Como o carma se refere à
vida moral, com certeza, os animais não podendo responder pelos seus atos, eles
não têm carma, eles não têm expiação. O animal (ao contrário do ser humano) não
consegue perceber nem o bem e nem o mal em tudo que fazem; eles não fazem juízo
de valor, apenas atuam por impulso ou pela programação instintiva que a
natureza lhe conferiu.
Nem a mãe-macaco que
protege e até dá a vida pelo seu filhote e nem o macaco que agride o outro até
matar têm consciência do moral do que estão fazendo. Fazem o que sua natureza
lhes pede. Não guardam mágoa e nem sofrem consciência de culpa. Não passam por
expiação.
Mas você quer saber por que
os macacos sofrem. Os animais, como dissemos, são espíritos em evolução que não
atingiram o estágio de autoconsciência. As experiências, pelas quais passam,
agradáveis ou sofridas, servem para dotá-los de condições para sobreviver e
desenvolver suas potencialidades espirituais. É o que André Luiz chama de
dor-evolução, a dor que não decorre de prova ou de expiação, mas da necessidade
de enfrentar problemas, estimular a inteligência e as habilidades necessárias
para viver.
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