“Na Bíblia Noé chegou aos 950 anos, Adão morreu
com 930. Ouvi um pregador dizer que Adão tinha 4 metros de altura. Mais
impressionante que isso é ver pessoas esclarecidas, com diplomas
universitários, acreditarem piamente nisto. A pergunta é a seguinte: qual livro
espírita vem esclarecendo esses pontos?”
Não conhecemos, por enquanto, obra espírita
que trate especificamente desse assunto, caro ouvinte. É que, na verdade, o
Espiritismo se interessa pela Bíblia, mas faz uma leitura própria dessa obra,
baseada na razão, no bom senso e, sobretudo, nos estudos sobre a história, a
cultura e a tradição do povo hebreu – povo do qual se originaram os textos que
hoje compõem a Bíblia.
As narrativas referentes à criação do mundo e
às mais antigas tradições – não só dos hebreus, mas também de outros povos que
viveram na mesma época – quando passaram a ser escritas, na antiguidade, vinham
impregnadas de elementos mágicos, que faziam parte das crenças dos diferentes
povos. Isso porque, à época, era assim que o homem via o mundo e tentava
explicar a realidade. O Espiritismo entende que não podemos interpretar ao pé
da letra tudo o que vemos escrito, sob pena de cairmos no ridículo.
Evidentemente, nesses tempos remotos não havia
escrita, não havia papel e tampouco ciência. Povos primitivos, como nossos
índios, por exemplo, têm maravilhosas lendas sobre o surgimento ou criação das
coisas da natureza, pois essas narrativas mostram como eles veem o mundo, como
acreditam que as coisas são, de onde vieram e para que servem. As culturas
antigas – como a dos sumérios, ainda antes dos hebreus – têm narrativas muito
semelhantes ao que encontramos nos primeiros livros da Bíblia.
No entanto, não é o que a ciência vem
descobrindo a respeito da origem do nosso planeta e da vida na Terra, tampouco
as idades centenárias dos personagens a que você se refere. Segundo os estudos
científicos, em nenhum momento da história o ser humano atingiu idade tão
avançada como está atingindo hoje. O progresso material da sociedade –
especialmente o saneamento das cidades, o melhoramento da higiene e o
desenvolvimento da medicina – é que estão garantindo ao homem de hoje a
possibilidade de viver mais e melhor. Isso nunca aconteceu antes.
Aliás uma crença comum nos tempos bíblicos,
especialmente no Antigo Testamento, é de que havia uma relação direta entre ser
obediente a Deus e ter muito tempo de vida. Nos dez mandamentos, por exemplo,
honrar pai e mãe era uma garantia para as pessoas terem uma vida longa na
Terra, até porque a morte era vista como um castigo de Deus. Parece que essa
crença já não existia mais ao tempo de Jesus. Talvez por isso não temos
referência de, nesse período, alguém pudesse viver tanto tempo.
Logo, não podemos aceitar como verdade o
relato de um fato que seja cientificamente impossível, como essa questão de
idade de alguns personagens da Bíblia.
Na verdade, segundo estudos antropológicos, a expectativa de idade no mundo
antigo era muitíssimo inferior ao que é hoje. Com certeza, os dados ali
apresentados nesse sentido, ou decorrem de uma visão fantástica do passado ou
do uso de algum calendário, onde a definição de ano era acentuadamente
diferente da que usamos hoje.
Nenhum comentário:
Postar um comentário