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quinta-feira, 16 de abril de 2020

O PROBLEMA DOS CENTROS GRANDES; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR


Indiscutivelmente, o Centro Espírita cumpre importante papel na divulgação do Espiritismo. Por ser ele uma proposta de interpretações livres, apesar da aparente institucionalização do movimento em torno das ideias em federações – ou similares - estaduais ou na nacional a que, hipoteticamente, as demais estariam subordinadas, essa dinâmica não funciona dessa forma. O impulso derivado das duas aparições de Chico Xavier em programas de televisão no ano de 1971, marcos na época das pesquisas de audiência, resultou no surgimento de inúmeros Centros Espíritas, em cidades e regiões em que as atividades práticas inspiradas na Doutrina Espírita, aconteciam em garagens ou salas de visita da residência de seguidores. Consequentemente, algumas dessas instituições foram ampliando atividades e absorvendo trabalhadores transformando as Casas em polos de assistência espiritual e material através de departamentos ou setores de assistência social. Grupos grandes, contudo, dão origem a outros problemas associados à imperfeições humanas como a vaidade, o egoísmo, observados nos “donos” de áreas onde se desdobram atividades importantes no atendimento das necessidades humanas. Deserções, intrigas, disputas internas, não são incomuns em situações como estas. Curiosamente na edição de outubro de 1861, da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec registrou sua opinião sobre tal situação. Atendia a consulta de espíritas da cidade de Lyon, durante discurso em banquete organizado um ano antes, em 19 de setembro de 1860, para homenageá-lo. Esquivando-se dos elogios a ele dirigidos, creditando o valor que viam nele ao próprio Espiritismo, entre as considerações importantes emitidas, diz haver “três categorias de adeptos do movimento nascente: os que se limitam a acreditar na realidade das manifestações e que antes, de mais nada, buscam os fenômenos. Para estes o Espiritismo é simplesmente uma série de fatos mais ou menos importantes. Os segundo veem mais que os fatos. Compreendem seu alcance filosófico; admiram a moral dele decorrente, mas não a praticam. Para eles, a caridade cristã é uma bela máxima, eis tudo. Os terceiros, enfim, não se contentam em admirar a moral: praticam-na e aceitam todas as suas consequências. Bem convencidos de que a existência terrena é uma prova passageira, buscam tirar proveito desses curtos instantes para marchar na via do progresso que lhes traçam os Espíritos, esforçam-se por fazer o Bem e reprimir suas inclinações más. Suas relações são sempre seguras, porque suas convicções os afastam de todo pensamento do mal. Em tudo, a caridade lhe é regra de conduta. Estes são os verdadeiros Espíritas, ou melhor, os Espíritas cristãos”. Prevenindo que seu parecer não passava de opinião pessoal, passível da ponderação de cada um, a propósito da intenção dos anfitriões de formar uma grande sociedade, acrescentou: -“Sabe-se que as melhores comunicações são obtidas em reuniões pouco numerosas, nas quais reina a harmonia e uma comunhão de sentimentos. Ora, quanto maior for o número, tanto mais difícil será a obtenção dessa homogeneidade (...). Ao contrário, os pequenos grupos serão sempre mais homogêneos. Todos se conhecem melhor, estão mais em família, e podem ser melhor admitidos aqueles de desejamos. E como em definitivo, todos tendem para um mesmo fim, podem entender-se perfeitamente e entender-se-ão tanto melhor quanto não haja aquela discordância incessante, que é incompatível com o recolhimento e a concentração de espírito. Os maus Espíritos, que buscam incessantemente semear a discórdia, irritando suscetibilidades, terão sempre menos domínio num pequeno grupo do que num meio numeroso e heterogêneo. Numa palavra, a unidade de vistas e de sentimento será aí mais fácil de se estabelecer”. Pondera que “a multiplicidade de grupos tem outra vantagem: a de obter uma variedade muito maior de comunicações, pela diversidade de aptidões dos médiuns. Que essas reuniões parciais comuniquem reciprocamente o que elas obtém, cada uma por seu lado, e todas aproveitarão assim os seus mútuos trabalhos (...). Do ponto de vista da propaganda – é ainda um fato certo – não é nas grandes reuniões que os neófitos podem colher elementos de convicção, mas bem na intimidade. Há, pois, um duplo motivo para preferir os pequenos grupos, que se podem multiplicar ao infinito. Ora, vinte grupos de dez pessoas, por exemplo, inquestionavelmente obterão mais e farão mais prosélitos que uma reunião única de duzentas pessoas. Falei, a pouco, das divergências que podem surgir, e disse que estas não devem criar obstáculos ao perfeito entendimento entre os Centros. Com efeito, essas divergências só podem dar-se nos detalhes e não sobre o fundo. O objetivo é o mesmo: o melhoramento moral; o meio é o mesmo: o ensinamento dado pelos Espíritos”.

 Diante do que está acontecendo atualmente no mundo – diz a ouvinte Cristiane, vemos que a justiça humana pode absolver um criminoso e condenar um inocente. O que diz o Espiritismo sobre isso?
  Há dois pontos sobre os quais devemos refletir para melhor tratar do assunto. O primeiro é que a justiça humana, como tudo que é humano, é imperfeita e limitada – não podemos esperar perfeição de nossas leis e nem de nossos tribunais, muito menos dos homens, mas devemos lutar para procurar aperfeiçoar essa justiça o tanto quanto estiver ao nosso alcance. Em segundo lugar, nada acontece por acaso: mesmos os erros judiciários, no contexto mais amplo da vida, têm causas anteriores e devem servir de exemplo para a necessidade de reformas e aperfeiçoamento.
 Uma pessoa pode ser condenada por um ato que não praticou. Isso é uma possibilidade, justamente porque num julgamento estão envolvidos vários fatores, dependendo das circunstâncias presentes no fato. Aqui no Brasil, por exemplo, tivemos na época do governo Getúlio Vargas, o famoso e triste caso dos Irmãos Naves em Minas Gerais. Dois trabalhadores rurais foram condenados e ficaram muitos anos na prisão, e só muito tempo depois é que se descobriu que, na verdade, eles eram inocentes, pois o crime de que foram acusados jamais existiu. O caso teve repercussão mundial.
É possível que o agente de um determinado crime jamais seja descoberto ou julgado pela justiça humana; é possível que seja julgado e inocentado, sendo ele o verdadeiro autor da ação. Isso pode acontecer num caso em que há falta ou insuficiência de provas, pois segundo um princípio do direito “é melhor absolver um criminoso do que condenar um inocente”. Na medida do possível esse princípio funciona. Não funcionou, por exemplo, para os Irmãos Naves, pois havia, inclusive, interesse político envolvido.
 A lei humana, portanto, é limitada, não pode abarcar tudo, seus instrumentos podem ser insuficientes para detectar a verdade, embora ela procure fazer o máximo para aplicar a justiça no seu sentido mais amplo. Além disso, apesar da lei, entram a desonestidade e os interesses escusos, que podem burlar essa lei, usando-a para suas conveniências, e castigando a parte mais fraca da questão que, muitas vezes, não tem como se defender. Contudo, a lei divina é infalível. Enquanto a lei humana depende de uma máquina judicial complexa (constituída de tribunais, juízes, promotores e advogados), a lei divina não depende de ninguém para ser executada.
 Ela funciona automaticamente e todos os dias para qualquer tipo de ação, mesmo aquela que nos pareça a mais insignificante, pois, a lei de Deus está na consciência de cada um. Não será o advogado ou o juiz que nos apontarão os erros morais que cometemos, mas a nossa própria consciência que, mais cedo ou mais tarde, se voltará contra nós, cobrando justiça, exigindo arrependimento e reparação. Logo, só a lei divina tem acesso à verdade que está na alma de cada indivíduo; a lei humana não tem como detectar, avaliar ou medir nossas verdadeiras intenções.
 Jesus foi um exemplo vivo de vítima da injustiça praticada em nome da justiça. Mas ele mesmo havia alertado seus seguidores e ouvintes que não esperassem recompensas neste mundo, pois todos somos imperfeitos e estamos a procura de Deus. Enquanto, lá atrás, os dez mandamentos se referiam à recompensa terrena, pois Moisés não ensinava a vida futura, no Sermão da Montanha a recompensa se dá além desta vida. Jesus não nos isentou de problemas e dificuldades nesta existência.
 Para a Doutrina Espírita o que se passa nesta existência não é senão um momento na vida interminável do Espírito. Estamos todos sujeitos a sofrer incompreensão e justiça, porque estamos vivendo num mundo de provas e expiações em que o mal predomina. Mas as adversidades são apenas as consequências de nosso passado. Elas fazem parte de nossa trajetória espiritual – ou como prova, como expiação ou mesmo como missão para os Espíritos mais elevados.
 Se a vida fosse uma única, de alguma forma, todos seríamos vítimas. Mas, só podemos ser vítimas temporárias da injustiça humana, nunca da Justiça Divina, que é perfeita e que concorre em tudo para a nossa felicidade futura. Os que pensam burlar a lei, levando vantagens aparentes, estão apenas adiando seus sofrimentos para o futuro, quando terão que responder pelos seus erros. Os que sofrem injustiça podem estar respondendo por erros passados ou exercitando para aprender paciência,  compreensão e capacidade de auto superação, com o que poderão dar um salto na sua caminhada evolutiva.





















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