Há, de fato, nos evangelhos episódios
referentes ao afastamento de espíritos maus de que Jesus se ocupou também. Os
judeus do primeiro século acreditavam na existência do demônio como uma força especial
do mal que se opõe a Deus. Essa crença vinha com o Zoroastrismo, na época em
que os hebreus estiveram sob o domínio do império persa.
Havia, naquele povo e naquela época, dois mil
atrás, muitas crenças que, nas mais das vezes, ajudavam a aliviar o sofrimento
do povo que, por sua vez, vivia procurando uma solução mágica para seus
problemas. As doenças eram um grande problema, pois a medicina era muito
precária. Acreditava-se, por exemplo, que as doenças eram causadas pelo demônio
e que, expulsando o demônio, o paciente se curava.
Embora em se tratando de uma visão simplista de
vida, como também têm nossos índios, a crença no demônio tinha seus efeitos
benéficos, embora não lhes trouxessem soluções definitivas. Jesus, no entanto,
profundo conhecedor da psicologia humana, procurou não contrariar de frente essas
ideias, talvez porque não visse condições de substituí-las por outra melhor
naquele momento, sem abalar a fé do povo.
Por isso mesmo, orientou seus apóstolos para o
ajudarem nesse processo de desobsessão (afastamento de espíritos inimigos) e, em
algumas situações, mostrou que é possível afastar más influências espirituais
combinando a fé com o amor. É o que faz hoje o Espiritismo, embora afirmando
que demônio seja todo Espírito mal intencionado que se investe contra alguém.
Todavia, a ideia de um reino do mal não existe
no Espiritismo. Aliás pensar num poder do mal, capaz de encarar e enfrentar o
poder do bem (que é Deus), é uma contradição lógica, pois, se tudo foi criado
por Deus, tudo a Deus pertence e, como Ele é o poder e a bondade suprema, nada
e nem ninguém tem o poder de se afastar de seu domínio, mesmo praticando
maldades. Se isto acontecesse, Deus não seria todo poderoso, não seria bom e,
portanto, não seria deus.
Logo, para o Espiritismo só existe um poder e,
portanto, um comando. O que nós chamamos de mal é apenas uma circunstância
incidental, ou seja, decorre dos Espíritos imperfeitos que não atinaram para o
caminho de sua própria felicidade. Esses Espíritos – e nós estamos entre eles –
ainda não desenvolveram um senso capaz de compreender as Leis de Deus. Por
isso, cometem erros, causam sofrimentos
aos outros e a si mesmos, sem, no entanto, perder a condição de filhos de Deus.
Em última instância podemos dizer que os
demônios somos nós, quando odiamos, quando somos indiferentes às necessidades
de nossos irmãos, quando causamos prejuízos, quando não atinamos para o
verdadeiro significado da vida. Mas,
como Jesus nos recomendou amar os inimigos, os demônios, que são os maiores
inimigos, também devem ser amados, pois são nossos irmãos.
Por outro lado, Daniela, a abordagem que o
Espiritismo faz em relação aos Espíritos perturbadores ou perversos é diferente
daquela que fazem os exorcistas. Para nós, o Espírito mau tem mais de
ignorância do que de maldade. Nós, espíritas, os colocamos na mesma condição dos
algozes que sacrificaram Jesus, lembrando que o Mestre não se revoltou contra
eles, mas, pelo contrário: em seus últimos momentos, elevando seu pensamento a
Deus, rogou por eles, dizendo: “ Pai, perdoa-os, porque eles não sabem o que fazem”. Do mesmo modo, o que temos no
centro espírita não é exorcismo, mas um processo de desobsessão, em que
procuramos não apenas afastar o Espírito perturbador, que consideramos
espiritualmente doente, mas ajudá-lo a reconhecer seus erros e voltar-se para
Deus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário