Eis a
solicitação que, há tempos, nos acompanha: “Sou católica e aprendi, desde
criança, que foi Jesus quem instituiu o ato da eucaristia que é o momento da
comunhão na missa, quando ele mandou que seus apóstolos comessem do pão que era
seu corpo e do vinho que era seu sangue. Gostaria de saber como que o
Espiritismo trata essa questão.
Contava Chico Xavier que, quando criança,
participava das missas em sua cidade e, como dotado de faculdades mediúnicas,
percebia muita coisa do mundo espiritual que acontecia na igreja. Na hora da
comunhão, por exemplo, ele via pessoas, especialmente senhoras, que irradiavam
luzes muito brilhantes da boca, quando recebiam a hóstia das mãos do padre. Esse
fenômeno, entretanto, não acontecia com todos que comungavam, o que levou o
Chico a concluir mais tarde, quando conheceu o Espiritismo, que aquelas
senhoras estavam realmente compenetradas do valor espiritual daquele ato e que
as luzes partiam delas.
Queremos dizer, portanto, que a Doutrina
Espírita respeita todas as formas de reverência com que as igrejas se ligam com
Jesus, porque o que realmente vale no ato é o sentimento que anima as pessoas,
é sua fé, sua devoção, ou seja, a nobreza de seu coração. Contudo, no Espiritismo não existem rituais
nem cerimônias de qualquer gênero, uma vez que os espíritas entendem que o amor
por Jesus, na sua essência, está no coração das pessoas, como no caso daquelas
senhoras, e não no propriamente no ritual em si.
Todavia, não foi Jesus quem instituiu esse
cerimonial? – você pergunta. Na verdade, o episódio em que Jesus compara o pão
ao seu corpo e o vinho ao seu sangue decorre dos costumes e da cultura daquele
povo e naquela época, quando as pessoas decidiam fazer seus pactos entre si,
inclusive de fidelidade a uma causa. Pacto era um acordo, um compromisso que não
deveria ser esquecido e que, portanto, exigiam certos cuidados para que fossem
cumpridos.
Aliás, esse costume de fazer pactos não era
apenas do povo hebreu ao qual Jesus pertencia; um dos pactos mais conhecidos na
história dos vários povos da antiguidade é o chamado “pacto de sangue”, do qual
certamente você já ouviu falar e que também consiste num ritual. Assim, era comum na época que, quando pessoas
entrassem num acordo e assumissem um compromisso entre si, elas passavam por um
ritual que selava o acordo, do mesmo modo que hoje nós utilizamos um contrato
escrito e muitas vezes registrado em cartório para dar garantia e cunho de
veracidade.
Ora, Jesus era judeu e conversava com seus
apóstolos, que também eram judeus e integravam a cultura daquele povo, muito
ligado a rituais. Para que dessem continuidade ao trabalho de evangelização –
era isso que Jesus pretendia – ele resolveu selar um acordo com eles e utilizou
desse ritual do pão e do vinho, simbolizando o compromisso, a fim de que não
esquecessem desse momento tão importante. Esse episódio aconteceu ao final da
ceia ( a chamada Santa Ceia) que antecedeu sua prisão e sua crucificação.
Naquele momento, portanto, era importante que
o pacto fosse feito entre Jesus e os apóstolos, e nos moldes que se faziam
pactos entre os costumes daquele povo, pois os pactos costumam ser respeitados.
Hoje, em pleno século XXI, não vemos
mais necessidade de recorrer a esse meio, pois temos outros instrumentos bem
mais práticos pelos quais podemos selar nossos acordos, inclusive com Deus. Se
Jesus recorreu a um pacto, certament6e ele sabia bem o que estava fazendo, pois
conhecia a importância desses rituais que faziam parte dos costumes da época.
Para nós, que vivemos no século XXI, como dissemos, e que nos dizemos cristãos, o verdadeiro pacto não está mais no ritual em si, mas na disposição íntima de cada um ao empregar o máximo esforço possível para se aproximar do ideal de Jesus. Com toda certeza, conforme ele próprio afirmou, Jesus está presente no coração das pessoas de bem, que aprenderam ou estão aprendendo a amar o próximo, seguindo assim seus ensinos. Desse modo, cada um de nós, se quiser e quando quiser, pode fazer seu pacto com Jesus agora mesmo, em qualquer hora ou lugar, no próprio coração, desde que decidido a seguir seus conselhos quanto ao modo de conviver com o próximo.
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