- “E como a destruição não
marchasse bastante depressa, ver-se-ão os suicídios multiplicando-se numa
proporção incrível, até entre as crianças”, preconizaram os Espíritos em abril
de 1866 em extensa comunicação que serviu de base para a elaboração do capítulo
18 do livro A GÊNESE. Allan Kardec a reproduz na íntegra no
número de outubro daquele ano da REVISTA
ESPÍRITA. Tudo como parte da etapa considerada como transição planetária, a
tão proclamada mudança evolutiva, iniciada em meados do século XVIII e, em pleno
andamento. A prova do acerto de tal prognóstico está refletida o resultado da
pesquisa desenvolvida pela OMS – Organização Mundial de Saúde e divulgada há um
mês, apontando o suicídio como terceira maior causa de morte de jovens na faixa
dos 10 aos 19 anos. O suicídio, abominado pela maior parte das religiões
tradicionais, encontra no Espiritismo uma visão mais racional, causada ou por
sérios transtornos psicológicos e psiquiátricos e, segundo depoimentos de
Espíritos que cederam à ideia, como induzida por influências espirituais
vigorosas. Cogitações sobre o assunto podem ser encontradas em abordagens na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas,
como as reproduzidas no número de novembro de 1858, na seção Problemas
Morais. Na verdade, duas situações foram propostas ao Espírito
São Luiz, objetivando conhecer a posição da Espiritualidade e,
naturalmente, da Doutrina Espírita sobre elas. A primeira buscava entender a aparente
contradição existente entre a atitude do indivíduo que alimenta a ideia do suicídio,
mas reage defensivamente diante de uma ameaça de morte pretendida por outra
pessoa, no caso de um assalto, por exemplo. Se a pessoa quer morrer, por que se
defende? O dirigente espiritual dos trabalhos daquele grupo de
pesquisa, explicou que o fato se dá “porque o homem tem sempre medo da morte.
Quando se suicida, está superexcitado, com a cabeça transtornada, e realiza
esse ato sem a coragem nem medo e, por assim dizer, sem ter conhecimento do que
faz; ao passo que se lhe fosse dado raciocinar não verismos tantos suicídios. O
instinto do homem o leva a defender a própria vida e, durante o tempo que
decorre entre o momento em que o seu semelhante se aproxima para o matar e o
momento em que o ato é cometido, tem ele sempre um movimento de repulsa instintiva
da morte; e este o leva a repelir esse fantasma, só apavorante para um Espírito
culpado. O homem que se suicida não experimenta tal sentimento porque se acha
cercado de Espíritos que o impelem, que o ajudam em seus desejos e lhe fazem
perder completamente a lembrança do que não seja ele mesmo, isto é, dos pais,
daqueles que o amam e de uma outra existência. Nesse momento o homem é todo
egoísmo”. Outra duvida, relacionava-se à culpa – ou não -, daquele que sem
ter a coragem deliberada de suicidar, expõe-se a riscos e perigos, como os que,
por exemplo, se propõe a lutar em guerras ideológico/políticas. Sobre
isso, o Orientador Espiritual tal indivíduo “será sempre culpado. O homem
deve seguir o impulso que lhe é dado. Seja qual for a vida que leve, é sempre
assistido por Espíritos que o conduzem e o dirigem, apesar do seu
desconhecimento. Ora, procurar agir contra seus conselhos é um crime, pois que
aqueles aí estão para nos dirigir e, quando queremos agir por nós mesmos, esses
bons Espíritos estão prontos a ajudar-nos. Entretanto, se o homem, arrastado
por seu próprio Espírito, que deixar esta vida, é abandonado; mais tarde
reconhece que terá de recomeçar uma outra existência. Para elevar-se, deve o
homem ser provado. Parar a sua ação, por um entrave em seu livre arbítrio seria
ir contra Deus e, neste caso, as provas tornar-se-iam inúteis, porque os
Espíritos não cometeriam faltas. O Espírito foi criado simples e ignorante;
então, para chegar às Esferas felizes, é necessário elevar-se em Ciência e sabedoria
e, é somente na adversidade que adquire um coração elevado e compreende a
Grandeza de Deus”. Demonstrando o aspecto democrático das reuniões, um
dos participantes externou sua opinião segundo a qual teria percebido uma
contradição nas últimas palavras do
Instrutor, ao dizer que o homem pode ser arrastado ao suicídio pelos
Espíritos que a isto o excitam, cedendo, portanto a um impulso
estranho. Esclarecendo a entidade afirmou “não existir contradição. Quando disse que o
homem impelido ao suicídio era cercado de Espíritos que a isto o solicitavam
não me referia aos bons Espíritos, que fazem todo esforço para o evitar; isto
deveria estar subentendido; sabemos todos que temos um anjo da grada ou, se
preferis, um guia familiar. Ora, o homem tem o seu livre arbítrio; se, a
despeito dos bons conselhos que lhe são dados, persevera nesta ideia criminosa,
ele a realiza, no que é ajudado pelos Espíritos levianos e impuros, que o
cercam e que se sentem felizes por ver que ao homem, ou Espírito encarnado,
também falta a coragem para seguir conselhos de seu bom guia, por vezes de
Espíritos de parentes mortos que o rodeiam, sobretudo em circunstâncias
semelhantes”.
Um
participante de um grupo de estudo no Caminho de Damasco comentou e pediu que
falássemos por que Chico Xavier, que
tinha um problema de próstata e precisava de cirurgia, não quis ser atendido
pelo médium Zé Arigó na época, embora Arigó tivesse se oferecido para ajudá-lo
através do Espírito Dr. Fritz. Ele questiona: por que o Chico não aceitou esse
tratamento espiritual. Será que Chico não acreditava no fenômeno de cura ou ele
não acreditava no médium?
Acreditamos que nem uma
coisa e nem outra. Chico, como médium assessorado por Espíritos esclarecidos –
como Bezerra de Menezes e André Luiz, que foram médicos na Terra – sabia muito
bem que o fenômeno de cura existe, mesmo aquele que vinha através de Zé Arigó. Zé
Arigó, por sua vez, além de ser um homem simples e de pouca instrução, não era
espírita, não tinha uma formação doutrinaria adequada, mas várias das
intervenções espirituais que vieram por ele foram consideradas autênticas.
A diferença entre esses dois
médiuns, entretanto, é que Chico era espírita e conhecia a doutrina. Tinha uma
visão mais ampla e profunda do que é a vida terrena e do que é a vida
espiritual, que Arigó evidentemente não tinha. Por isso, segundo nosso ponto de
vista, sabia o que representava sua recusa em ser tratado por um médium,
tanto para os espíritas, como para o povo em geral, já que ele, Chico
Xavier, quisesse ou não, era uma referência para o Espiritismo. Sabendo disso,
ele se preocupava em dar um cunho verdadeiramente espírita às suas
declarações, para que elas fossem, de fato, um veículo para o ensinamento da
doutrina.
Marcel Souto Maior, no seu
livro, AS VIDAS DE CHICO XAVIER – onde apresenta várias passagens da vida do
médium – nos remete a esse episódio, que já fora relatado também por outros
biógrafos do Chico. Pelo que Souto Maior conta, dá pra perceber que, ao receber
o convite do Arigó, Chico desconversou, dizendo que pretendia mostrar,
principalmente aos espíritas, que ele como médium não tinha privilégio algum para
ser tratado por outro médium, e que preferia seguir Emmanuel, que o aconselhou
a se cuidar sempre com os médicos da Terra.
Mais tarde, Chico teria
dito que não concordava com as cirurgias mediúnicas, em que o médium se utiliza
de algum instrumento cortante para abrir o corpo do paciente. Ele disse que
isso é infração às leis do país, pois para esse fim existem médicos
especializados e regularmente credenciados. De fato, tanto Arigó, como outros
médiuns que faziam esse tipo de cirurgia, acabaram sendo alvo de investigação,
inquérito policial e processos judiciais por exercício ilegal da medicina.
Chico quis mostrar que não
é porque o fenômeno de cura existe e é autêntico que o homem pode dele fazer o
que quer,
apenas para demonstrar poder. O médium, para o Espiritismo, precisa pautar pelo procedimento
verdadeiramente espírita, de caridade com humildade.
Não há problema algum em o Espírito proceder à cirurgia mediúnica sem cortes,
pois a Espiritualidade algumas vezes consegue dispor desse recurso, mas de um forma
sutil e invisível, sem espetáculo. Para Chico a mediunidade que corta o
paciente não deveria servir à divulgação do Espiritismo.
Além disso, Chico sabia que não existe
milagre, no sentido de revogação das leis naturais; o que existem são
fenômenos, embora algumas vezes inexplicáveis para a medicina, mas que observam
rigorosamente as leis da natureza. Um médium, por melhor que seja no exercício
de sua faculdade, não acerta sempre. Uma operação pode falhar, como pode falhar
qualquer cirurgia da medicina humana. O Espiritismo sabe que existe uma série
de fatores que influem numa intervenção cirúrgica, que devem ser levados em
consideração. Embora as operações mediúnicas possam servir, muitas vezes, para
chamar a atenção do homem para a realidade espiritual, assim mesmo e
principalmente nesse caso, elas devem ser utilizadas com muito critério.
Aliás, visando à
articulação entre a medicina e o Espiritismo, Bezerra de Menezes propôs a
criação de um movimento de médicos espíritas, que pudesse estudar mais
profundamente a relação entre espiritualidade e saúde, para estabelecer uma cooperação
entre elas, como sempre aventou André Luiz e Emmanuel em várias declarações. Esse movimento médico-espírita, idealizado por Bezerra, durante muitos anos teve à frente a Dra. Marlene Nobre,
desencarnada há alguns anos. Trata-se da Associação Médico-Espírita do Brasil,
preocupada em fazer da medicina ligada à espiritualidade um braço importante
para o tratamento de doenças físicas e mentais segundo os princípios espíritas.
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