Os
acontecimentos dos últimos meses, solicitam racionalidade, na avaliação do
assustador quadro mostrado ao mundo pela mídia internacional. Mais um efeito de
um processo que vem sendo construído a partir da segunda metade do século 20 de
forma mais intensa. Questionado nos fim dos anos 70 sobre a evolução das
conturbações sociais no mundo, o médium Chico Xavier disse: -“Emmanuel
afirma que esse quadro de perturbações de nosso tempo é, em grande parte,
devido à ausência da influência religiosa nas novas gerações. Precisamos encontrar
um caminho de ajustamento da nossa alma à ideia de Deus e aos preceitos da Religião,
quaisquer que sejam esses preceitos, que nos conduzam para o bem, a fim de que
venhamos a encontrar o reequilíbrio de que estamos necessitando. A falta de ideia
de Deus e a ausência da religião no pensamento da criatura geram tendências à
criminalidade, à violência, à subversão, a dificuldades que chegam, às vezes,
até a loucura. Outra importante opinião por ele emitida diz respeito ao papel
do Espiritismo diante das contradições da atualidade”. Qual a utilidade
do Espiritismo diante dessa caótica situação? O médium acrescenta mais alguns
elementos para meditarmos: -“O Espiritismo guarda mesmo as
características do CONSOLADOR
prometido por Jesus. O progresso tecnológico tem sido imenso e é irreversível.
A máquina dominará o nosso presente e o nosso futuro, como sendo aquele agente
que, vai diminuir nossas fadigas, as nossas dificuldades, no trato das experiências
físicas que necessitamos, mas até que nos habituemos a respeitar a máquina e as
leis que são estabelecidas para as máquinas. Como pessoas humanas estamos
pagando e vamos pagar um tributo muito grande até que haja dentro de nós a
racionalização necessária para lidar com a máquina, ou o preço que ela exija. Genericamente,
do ponto de vista coletivo, se nós ainda não sabemos dirigir com sabedoria os nossos
processos de alimentação, se nós ainda não sabemos regulamentar com a precisão
necessária, com o regime preciso a nossa conduta sexual, se temos dificuldades
imensas para lidar com o nosso próprio corpo, imaginemos a nossa dificuldade
com os veículos, com as máquinas que nos auxiliam. Assim, estamos diante de uma
série de acidentes e dificuldades no trato com a máquina e no aprendizado do
respeito às leis que devemos frente a elas. Dispomos de vantagens e de um
reconforto que absolutamente não tínhamos há 50 anos atrás. Somos povos de
vanguarda no mundo, todos estamos cogitando da própria independência, queremos
viver dentro da auto suficiência do ponto de vista de ações livres. O progresso
tecnológico nos encontrou numa condição muito inferior do ponto de vista de
sentimento. Estamos sofrendo terrivelmente quanto a este aspecto porque a série
de desastres, de lutas enormes, de incompreensões, de abusos estão por toda
parte. Atos de manifesta agressividade estão por aí, atingindo a todos,
indistintamente. Todos esses acidentes somados formam uma lista imensa de
experiências dolorosas para nós, as criaturas humanas. E nesta hora precisa a
Doutrina Espírita nos ajuda a compreender que a morte não existe, que a
reencarnação está aí, que nós podemos ter muitos erros, mas que vamos terá
oportunidade da restauração necessária. A nossa esperança não deve esmorecer nunca,
porque a Doutrina Espírita é uma doutrina de otimismo. Ela nos traz a visão da
vida eterna. Recebendo uma mensagem de nosso Emmanuel, ele passou uma frase
assim: “Haja o que houver à noite, ninguém prende a alvorada”. Quanta esperança
e quanta beleza nesta frase! Nós que estamos vendo tantos filhos, tantos
parentes mortos repentinamente nas estradas, tantos deles internados na toxicomania,
às vezes em processos irreversíveis durante a vida física, e, no entanto, não
estamos sem esperança, porque temos Deus, a imortalidade. Ele nos criou para
sermos imortais e a Doutrina Espírita nos amplia a crença, nos dá uma nova
visão do Cristo, o nosso Amigo Eterno. Nenhum de nós está excluído do esquema
de Deus”.
Esta pergunta foi proposta por uma jovem que não se identificou,
mas que fez esta interessante colocação: “Existe um jeito de a gente se
livrar dos preconceitos que a família e a sociedade formaram em nossa personalidade? De vez em quando me surpreendo com alguma
atitude preconceituosa diante das pessoas.”
Muito oportuna a colocação,
que nos leva a uma reflexão mais demorada por este tema. Há pessoas que acham
que não têm nenhum preconceito. Respeitamos, Mas, do nosso ponto de vista,
mesmo entre os que procuram se alimentar de um ideal elevado de completo
respeito por todos, o preconceito ainda persiste, embora (é claro!) de uma
forma mais velada, quase que disfarçada. Preconceito, no ser humano, não é apenas
um sentimento; é uma emoção primitiva, como uma erva daninha, arraigada nas
regiões mais profundas da alma e, portanto, ele brota do inconsciente, muitas
vezes traindo as nossas próprias convicções.
É claro que a família e a
sociedade, de um modo geral, alimentam preconceitos nas crianças e nos jovens,
ainda que disfarçadamente. Isso podemos observar todos os dias nas atitudes das
pessoas e em nossas próprias atitudes, até na imprensa e nos programas de
televisão. Mas o preconceito não é, como muitos pensam, apenas um mal social;
ele tem origem nos instintos de sobrevivência e, por isso, em todos os seres
vivos, ele manifesta como um impulso de rejeição a tudo que representa uma
ameaça. E, na fase animal, os que são diferentes sempre representam uma ameaça.
Portanto, ainda que lutemos
para varrer da sociedade os preconceitos, como fez Jesus no seu tempo de forma
clara e incisiva, o preconceito ainda permanece em germe nas regiões mais
profundas da mente humana e de alguma forma, e em algum momento, pode se
manifestar em nós, até de forma involuntária e inconsciente, obrigando-nos a um
policiamento constante. Por isso, não devemos nos culpar tanto, quando às vezes
nos escapam algumas atitudes preconceituosas que nós próprios condenamos nos
outros. Ainda somos falhos e imperfeitos, mas o importante é que tenhamos
consciência da necessidade da mudança e nos esforcemos nesse sentido.
O importante para você e para todos nós, prezada jovem, que
sabemos que o preconceito deve ser varrido da Terra, é que cuidemos para que
nossas atitudes sejam ao máximo
compatíveis com os nossos ideais de fraternidade, com os nossos sonhos, de uma
sociedade igualitária, onde todos -
absolutamente todos – sejam respeitados como seres humanos, com os
mesmos direitos e com os mesmos deveres uns diante dos outros em qualquer parte
do mundo.
Logo, seguindo os passos de Jesus, devemos, sim, nos policiar, mas não exigir de nós a perfeição, porque certamente ainda não chegamos lá. Mas, vamos chegar. Nesse sentido, precisamos combater a hipocrisia, para que o nosso discurso anti-preconceito não seja simplesmente uma fachada ou uma arma para atacar os outros, sem qualquer esforço de nossa parte. Porque, se não compreendermos as limitações das pessoas que ainda agem com preconceito, com certeza, também estaremos agindo com preconceito contra elas.
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