Esta pergunta foi enviada pelo Roberto
Silva: “Já li alguma coisa sobre Jesus, dizendo que o seu corpo não era igual
ao nosso corpo. Como ele é um Espírito de luz – alguns dizem que ele é o
próprio Deus - até sua concepção foi
diferente da nossa. Por isso ele não sofria como nós, não ficava doente e,
quando morreu, ressuscitou. O que vocês dizem sobre isso?”
Esta discussão sobre o corpo de Jesus, Roberto, é muito antiga e
surgiu logo depois do episódio chamado ressurreição. Como Jesus apareceu várias
vezes e em vários lugares depois da morte e, segundo consta, seu corpo não foi
encontrado, a primeira conclusão é que ele tinha ressuscitado com o corpo com
que vivera, fora sacrificado e morreu. É claro que os conhecimentos da época
não permitiam uma compreensão mais profunda do que havia acontecido. Essa
explicação só é dada hoje pelo Espiritismo.
Surgiram, então, várias
interpretações sobre Jesus e uma delas, a dos chamados docetas, dizia que Jesus
não tivera um corpo comum, igual aos dos outros homens: seria um corpo
especial, talvez um corpo celestial ou coisa parecida. Essas interpretação
alimentou a ideia de que ele não fora concebido segundo as leis naturais ( e
daí ter nascido de uma virgem) e que, portanto, tivera um corpo especial. Na
época de Kardec, mais de 150 anos atrás, houve quem entendesse ser essa a
interpretação verdadeira, mas, seguramente, não era a visão de Allan Kardec.
É na obra A GÊNESE que
Kardec toca no assunto, que já tinha sido ventilado na REVISTA ESPÍRITA. Kardec afirma que, se Jesus tivesse um corpo
especial, formado de uma matéria própria – e também conhecido por corpo
fluídico - ele não seria como os outros
homens, de modo que a sua vida na Terra seria praticamente uma mera encenação.
Ou seja, ele não teria sofrido como sofremos, não sentiria dor e o desconforto
físico como nós sentimos, o que comprometeria o valor moral de sua missão.
Para Kardec Jesus teve um
corpo orgânico como o nosso, foi concebido, nasceu e cresceu da mesma forma
como qualquer pessoa humana é concebida, nasce e cresce. Seu corpo, tanto
quanto o nosso, era vulnerável a lesões, doenças e necessidades fisiológicas em
geral. Tanto foi assim que, mesmo nas narrativas dos evangelhos, Jesus é visto
participar da vida social de seu povo como qualquer outra pessoa - alimentando-se, descansando, dormindo, etc.
O que era diferente em Jesus não era o corpo,
diz Kardec, mas sim o Espírito. Sendo um Espírito Puro,
ele deve ter tido dificuldade para reencarnar em nosso meio, pois vinha de uma
esfera espiritual muito elevada e teria que se adaptar a um mundo primitivo,
que era a Terra na época. Logo, o que o diferenciava dos outros homens são as
qualidades espirituais que demonstrava, sendo capaz de enfrentar todo problema
como serenidade, autoconfiança e fé em Deus, sem se deixar abalar.
Hoje, com o avanço dos conhecimentos
científicos, podemos entender que as disposições íntimas de Jesus – disposições
que se achavam no espírito – influíam, é claro, no seu corpo, mas não a ponto
de torná-lo completamente invulnerável ou imortal. Muitas doenças físicas que temos conosco hoje
têm origem espiritual, decorrente das emoções perturbadoras que cultivamos –
como o medo, a mágoa, o ódio, a revolta, o desespero. É claro que Jesus não
tinha essas doenças. Mas, não por causa do corpo e, sim, em razão de sua
elevação espiritual e do comando de sua mente saudável.
Ele sabia que muitos males do corpo resultam de sentimentos
perturbadores da alma e, por isso mesmo, recomendava o cultivo de bons
sentimentos, a partir da prática do bem, da tolerância, da compreensão e do
perdão. Mas ele não podia penetrar nesses assuntos com mais profundidade, pois
seus ouvintes não entenderiam. Então, resumiu todas as suas recomendações no princípio
do amor ao próximo que nada mais é do que a prática do bem, que leva a pessoa a
desenvolver elevadas virtudes morais.
Logo, Roberto, o
Espiritismo vê Jesus como um Espírito Puro que reencarnou na Terra e que aqui
viveu num corpo humano igual ao nosso, mostrando o quanto de harmonia o homem
poderia alcançar consigo mesmo, ainda aqui na Terra, se passar a cultivar o
amor em seu coração. A ideia de um corpo diferente do nosso, como muitos
querem, tira todo o mérito de seu trabalho, mas a concepção de que Jesus foi um
ser humano como nós é que o torna a mais alta expressão do amor que a
humanidade já pode conhecer. Por isso, o Espiritismo o tem como nosso modelo e
guia.
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