Tatiane Duarte Vieira, do Conjunto João Zapata, pergunta o que o Espiritismo tem a dizer sobre a volta de Jesus, a ressurreição dos mortos e o juízo final.
Para
a Doutrina Espírita, Tatiane, essas referências que encontramos em alguns
trechos dos evangelhos não passam de figuras alegóricas ou representativas da
grande transformação pela qual deveria passar a humanidade ao longo dos séculos.
Os escritos bíblicos, bem como outros que datam de milhares de anos atrás,
estão carregados de alegorias ou comparações como essa, ricas em ensinamentos
mas, ao mesmo tempo, sujeitas a várias interpretações, dependendo do ponto de
vista de quem as analisa.
Espíritos muito elevados na escala da evolução
espiritual, segundo o Espiritismo, quando encarnam aqui na Terra para trazer
grandes ensinamentos, como foi o caso de Jesus – a figura máxima da
espiritualidade que esteve entre nós – utilizam de uma linguagem figurada, contos
e comparações, porque falam de fatos que estão bem acima da compreensão de seus
ouvintes ou de fatos que ocorrerão num futuro muito distante deles. Então, recorrem
a comparações para que entendam o espírito da mensagem, mas que, interpretadas
ao pé da letra, ficam parecendo fantasias, como são as lendas e os mitos para
nós.
Um
exemplo clássico de linguagem alegórica é o mito da criação do homem, com que
se ocupa o primeiro livro da Bíblia, o Gênese. Ali encontramos a criação de
Adão e Eva, a figura do paraíso, a referência ao pecado original, às maldições
que Deus teria proferido contra o casal de pecadores e seus descendentes, bem
como a expulsão do paraíso. Evidentemente, não se trata de fatos reais, mas de
metáforas ou comparações que nos leva a deduzir sobre a imperfeição humana e a
necessidade da busca de Deus para o encontro da felicidade.
Muitos teólogos da atualidade, líderes espirituais das grandes
religiões, notadamente entre os judeus, já não têm nenhuma dúvida quanto a
isso. Eles leem esses textos buscando o seu significado mais profundo que,
evidentemente, se refere à luta do bem contra o mal no íntimo de cada um de nós.
Jesus era mestre em parábolas; contava histórias, que ele próprio criava, não
como fatos verdadeiros, mas contos que revelavam verdades que deviam ser
compreendidas pelos seus ouvintes, do mesmo modo que contamos histórias de
fadas e de magia para que as crianças aprendam o caminho do bem. Nos próprios
evangelho, às vezes, não é fácil distinguir o que é um fato do que é uma
parábola.
Quando
Jesus se referia ao futuro da Terra, ele queria dar a entender que chegaria um
tempo em que seus ensinamentos seriam observados na sua essência. Mas, para
isso, seriam necessárias muitas transformações, que haveriam de desencadear a
volta de sua doutrina para que ela fosse entendida em espírito e verdade e,
portanto, praticada no dia a dia, e não ficasse apenas na adoração. Logo, Tatiane,
a volta de Jesus não será o simples
retorno de um homem que veio para salvar o mundo, mas a retomada das elevadas
lições de amor que ele deixou para que o próprio homem se salvasse.
A ressurreição dos mortos representa a
chegada de uma época em que os Espíritos desencarnados ( chamados mortos) haveriam
de somar seus esforços à humanidade para redirecioná-la para a vivência da
verdadeira caridade. O juízo final
seria o encontro de cada um consigo mesmo – ou com sua própria consciência – já
numa etapa mais adiantada de progresso espiritual, para avaliar-se e proclamar
a grande transformação da humanidade, através da qual permaneceriam na Terra os
Espíritos com um nível mais adiantado de progresso moral.
Na
verdade, Tatiane, o Espiritismo, sendo uma doutrina que revive os ensinos de
Jesus e respeita os que professam com
sinceridade suas religiões, reúne as características do Consolador prometido
por Jesus nessa etapa de grande transformação que poderá acontecer ainda neste
milênio. Sem se arvorar como dono da verdade, mas como colaborador na
divulgação do evangelho, o Espiritismo se abre aos corações interessados em
reviver a expressão mais elevada de fraternidade entre todas as criaturas.
Por
outro lado, as descrições da volta de Jesus, das catástrofes que anunciariam o
fim do mundo e da separação de bodes e ovelhas, conforme letras do evangelho,
não devem ser objeto da crença cega e ingênua, neste momento em que a
humanidade já vive a Idade da Razão, do bom senso e do pensamento científico.
Os ensinamentos morais de Jesus diziam respeito não ao aspecto material da vida,
mas ao seu aspecto espiritual da vida. As mudanças a que se referiam, na
verdade, não acontecerão fora, mas dentro de cada um de nós, onde podemos
erigir o Reino de Deus.
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