Quinze dias após ter sido
internado para se submeter a desintoxicação alcoolica que já provocava delírio
e alucinações, restabelecido, foi possível conhecer parte da história daquele
caboclo forte, disposto, trabalhador, dedicado a conduzir gado pelas estradas.
Casado, pai de seis filhos, dois dos quais, àquela altura, casados, dizia-se um
homem econômico que jamais deixou faltar nada para os seus, inclusive educação
primária, ofício para os rapazes e todas as prendas domésticas para as filhas,
como era habitual na época. Durante a formação dos filhos, jamais procurou
corrigi-los com castigos corporais, tampouco se lembrava de ter proporcionado à
esposa momentos reprováveis pela sua conduta. Lutou enquanto os filhos cresciam
para proporcionar-lhes conforto para o presente, e, se possível, evitar-lhes
preocupações financeiras para o futuro. Entre as inúmeras viagens que no
exercício de sua profissão, todavia, apesar da ausência, ao retornar ao lar,
era tratado com frieza por todos, situação agravada nos últimos três anos, considerando
suas permanências em casa serem mais frequentes. Ouvida, sua esposa não só
confirmou tudo como disse sofrer muito com as atitudes dos filhos, dos quais se
tornara confidente, revelando que o temiam e detestavam, a ponto de
desaparecerem de casa, quando estivesse presente. O quadro se assemelha ao
observado na vida de muitas famílias. O conhecimento do Espiritismo, contudo,
pode auxiliar na avaliação de fatos semelhantes. Isto porque, segundo Allan
Kardec em observação n’ O LIVRO
DOS ESPÍRITOS, nos programas reencarnatórios objetivando o progresso das
individualidades, “o Espírito renasce frequentemente no mesmo meio em que viveu, se relaçionando
com as mesmas pessoas, a fim de reparar o mal que lhes tenha feito”.
Explica ainda que a “sucessão das existências corporais estabelece entre os Espíritos laços
que remontam às vidas anteriores, donde decorrem as causas da simpatia entre os
envolvidos e outros que parecem estranhos”. Já no século 20, através do
médium Chico Xavier, o Espírito conhecido como André Luiz transferiu
para nossa Dimensão, OBREIROS DA VIDA
ETERNA (1946; feb), obra onde encontramos interessante ponderação de um
Assistente de nome Barcelos que, entre outras coisas,diz que “em
obediência às lembranças vagas e inatas, os homens e as mulheres, jungidos uns
aos outros pelos laços de consanguinidade ou dos compromissos morais,
se transformam em perseguidores e verdugos inconscientes entre si. Os
antagonismos domésticos, os temperamentos aparentemente irreconciliáveis entre
pais e filhos, esposas e esposos, parentes e irmãos, resultam de recapitulações
retificadoras do pretérito distante (...). Sentem e veem na tela mental, dentro
de si mesmos, situações complicadas e escabrosas de outra época, malgrado os
contornos obscuros da reminiscência, carregando consigo fardos pesados de
incompreensão”. E o caso apresentado no início, destacado do livro A PSIQUIATRIA EM
FACE DA REENCARNAÇÃO (feesp) do médico Inácio Ferreira, diretor
do Sanatório Espírita de Uberaba desde sua fundação até desencarnar nos
anos 80, bem ilustra a dinâmica revelada pela Doutrina Espírita. Através da
excepcional médium Maria Modesto Cravo que não apenas ajudou a
construir e fundar a casa de saúde citada como era aproveitada em suas
faculdades mediúnicas no socorro a muitas criaturas nela internadas. Buscando
entender o fator causal do drama do paciente, viram-se diante de uma entidade
espiritual ligada aos envolvidos no drama atual. Apontava a vitima de agora
como um assassino e ladrão em existência pregressa na cidade Ilhéus, na Bahia. Segundo
o comunicante ele pretendia casar-se com uma das filhas do doente em
tratamento, intenção frustrada, a princípio por falta de recursos por não
encontrar serviço compensador. O homem focalizado matou cruelmente um
indivíduo, fugiu à Justiça e integrou-se a um dos muitos bandos existentes na
região, dedicados a saquear e arrasar lugarejos, espalhando o terror.
Retornando esporadicamente às escondidas ao seu lar, geralmente maltratando
esposa e filhos, tomando conhecimento do seu interesse por sua filha, levou-a,
uma noite, entregando-a a um dos componentes do seu bando, impondo a morte à
esposa. O Espírito manifestante, contou ainda que conseguiu empregar-se num
convento, e, diante de terrível seca que se abatia sobre a região, foi
encarregado com outro funcionário de fazer compras pelas redondezas, tendo sido
vitima de assalto praticado pelo bando. Seu amigo escapou, mas ele foi morto
pelo “monstro” do qual queriam informações, tendo sido amarrado pelos pés e
arrastado pelo cavalo que ele montava, por ter ouvido ser seu desejo vê-lo um
dia, amarrado no pelourinho existente em frente ao convento. Revelou, por fim
que, sua esposa, filhos e filhas atuais, são os mesmos daquela vida
passada.
Esta questão nos foi trazida por um portador, que fora consultada por uma terceira sobre o seguinte: “Será que existe alguma possibilidade de um Espírito, que já foi da minha família lá atrás, numa geração antiga, vir em sonho para uma mulher e anunciar que vai nascer na mesma família como seu filho e que e que ela deve se preparar para isso? Observação: isso aconteceu com uma pessoa de uma família que não é espírita.”
A possibilidade existe sim, e pode ser ainda maior porque essa pessoa,
que teve o sonho (uma mulher que está em condições de ser mãe) não tem familiaridade
com o Espiritismo e, portanto, não deve cultivar essa idéia. É comum Espíritos
renascerem várias vezes na mesma família, até porque muitos problemas de
relacionamento, criados no passado, ficam pendentes – ou seja, ficam sem ser
resolvidos. Essa volta, quase sempre, é para rever posições, tentar
aproximações e reconciliação.
Nas isso não quer dizer que as reencarnações
no mesmo lar ou na mesma família acontecem apenas nesses casos – de Espíritos
que tiveram desavenças no passado. Há Espíritos amigos que reencarnam com o
intuito de servir a membros da família, de contribuir para que alguns se
reergam de suas quedas morais ou mesmo de realizarem tarefas ou missões juntos.
Alguns voltam para dar, outros mais para receber; alguns para ensinar, outros
mais para aprender.
A regra, contudo, é ninguém se lembrar de nada
do passado. Porém, não é difícil atinar para as causas que justificam a
presença de cada um dos membros da família, pelas suas tendências, pelas suas
preferências, pelos laços de simpatia ou antipatia que se estabelecem nas
relações com os demais. É claro que “lembranças do passado” seriam mais
prejudicais do que benéficas, nunca devemos estimulá-las ou alimentá-las, pois
cada reencarnação é um reinício e, na maioria das vezes, o reinício de relações
exige esquecimento do passado.
Imaginem, por exemplo, se um filho se
lembrasse que fora vítima do pai ou da mãe na vida anterior. Além das aversões
inconscientemente criadas nas suas relações com os pais, a situação poderia se
tornar insustentável entre eles, pois não teríamos mais uma simples aversão,
mas uma declaração expressa com manifestações de ódio ou revolta. A principal
finalidade da reencarnação, fazendo com que cada Espírito retorne à condição de
criança, é reaproximar as almas em conflito, conquistando-as pelo coração, pois
é por esse caminho que elas poderão progredir espiritualmente.
Por isso mesmo, boa parte das reencarnações
são programadas. No livro ‘MENSAGEIROS DA LUZ, psicografado por Chico Xavier,
André Luiz ilustra esses conceitos com alguns relatos, mostrando providências
que pode ser tomadas antes da chegada de um novo Espírito à família. Essas
providências, que são acionadas no plano espiritual, mui raramente são
percebidas pelos encarnados, nem mesmo pela mãe (que vai receber o Espírito
como filho), mas essa percepção pode acontecer em alguns casos, como esse que a
nossa ouvinte está trazendo.
Logo, queremos dizer que tanto há
possibilidade de o Espírito retornar à família, quanto de ter havido algum tipo
de comunicação, em que a mãe já estava sendo preparada para o evento durante
seu sono físico. Contudo, é sempre prudente, mesmo que a pessoa acredite na
reencarnação ou queira que ela se concretize, que haja com muita discrição.
Primeiro, porque não sabemos se se trata de uma previsão verdadeira; ( por
isso, é sempre prudente esperar o desenrolar dos fatos) e, em segundo lugar,
porque essa revelação exporia muito a mãe e depois o filho, tornando-os objetos
de curiosidade e especulação, o que não é recomendável.
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