Cristina nos
trouxe a seguinte situação. “Conheço pessoas que acreditam em tudo.
Acreditam nas ervas, nas simpatias, nos remédios caseiros, nos remédios de
farmácia que os outros ensinam. Acreditam em promessas de milagre e por isso
pulam de uma religião pra outra com a maior facilidade. Perdi uma amizade por
causa disso, porque não pude suportar tanto absurdo. Queria que vocês
comentassem sobre isso”. A fé que as pessoas costumam alimentar, tanto quanto a esperança, é um sentimento natural e que temos por obrigação respeitar. É um terreno bem delicado que devemos tratar com muito cuidado para não ferir suscetibilidades, para não agredir ou violentar consciências e, sobretudo, para não deixar pessoas perdidas ou sem rumo. É claro que, por uma questão ética, temos um compromisso com o bem e com a verdade, mas a verdade de cada um é relativa. Ninguém tem a verdade absoluta. Certa ocasião, fizeram esta mesma pergunta a Chico Xavier: se devemos interferir na fé dos outros. Chico seguindo as diretrizes de Allan Kardec, ao tratar desse tema no capítulo “A fé remove montanhas” de O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, respondeu mais ou menos assim: “Se alguém insistir com você que uma pedra é um chumaço de algodão, não discuta; mas se essa pessoa quiser arremessar a pedra contra alguém, dizendo tratar-se de algodão, então você deverá interferir.” Logo, o respeito ao que as pessoas pensam pode ter um limite sim, mas quando as consequências de sua crença forem prejudiciais ou até desastrosas. Fora disso, não devemos nos importar em que elas creem, por mais absurda sua crença nos pareça. Porém, devemos ajudá-las, se possível, a seguir um caminho mais seguro, sem nos impor, sem pretender agredi-la com a nossa maneira de pensar, mas com bondade e respeito. A fé, como dissemos, é um sentimento, e pode ser um sentimento completamente divorciado da razão, do bom senso. Aliás, muito daquilo que nós acreditamos, não sabemos explicar porque, apenas acreditamos. É que a crença simples entra primeiro pela porta da emoção e, só mais tarde, quando a pessoa souber raciocinar e tiver mais conhecimentos, ou quando tiver mais maturidade, será capaz de analisar o objeto de sua crença e aí, então, surgirá a sua fé racional, aquela que o Espiritismo recomenda para todos nós. Podemos arriscar dizendo que a maioria das crenças, que nos acompanham a vida toda, vem da nossa infância, quando ainda éramos criança e não podíamos raciocinar. Você mesma pode verificar isso e começar analisar suas crenças – não estamos falando apenas da crença religiosa, mas das crenças em geral. Fazendo essa análise, você vai pôr de lado uma porção delas. É por isso, cara ouvinte, que as superstições ou crendices se espalham com facilidade, pois elas pertencem à idade da imaginação ou ao que Jean Piaget chamou de “pensamento mágico”. Essas crenças, que adquirimos na infância, são relativamente as mesmas crenças que o Ser humano tinha nos tempos primitivos. No entanto, a coisa é mais complexa do que podemos imaginar, pois nem toda crença ingênua, como a dos índios ou do caboclo, é falsa. Existem crenças antigas, arraigadas no inconsciente coletivo, que hoje estão sendo referendadas pela ciência, pois elas pertenceram à fase instintiva da humanidade, quando os instintos eram o único mecanismo capaz de defender e sustentar a vida. Desse modo, cada um de nós, que já adquirimos a capacidade de crer com a razão, não deve sofrer quando uma pessoa de nossas relações demonstra cultivar ainda uma fé ingênua ou infantil, e muito menos discutir com ela. Se quisermos ajudá-la a superar essa fase, entendendo que isso vai ser bom pra ela, precisamos nos impor pelo respeito, pelo amor, pois só poderemos ajudar a alguém a melhorar sua crença, se pudermos conquistá-la com a nossa maneira respeitosa e agradável de tratá-la.
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