“Não existe sofrimento maior do
que a dor de perder um filho” comentou certa ocasião, Chico
Xavier, acrescentando que “como médium, essa tarefa das cartas de
consolação aos familiares em desespero na Terra foi o que sempre mais me
gratificou”. Na edição de junho de 1861 da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec apresenta
interessante artigo de sua autoria intitulado EFEITOS DE DESESPERO em
que expõe seu ponto de vista sobre o problema, demonstrando a utilidade que tem
as ideias espíritas diante do problema.
Começa considerando que “seriam necessários volumes, para registar,
de todos os trágicos acidentes causados pelo desespero, só aqueles que chegam
ao conhecimento do público. Quantos suicídios, doenças, mortes involuntárias,
casos de loucura, atos de vingança e, até, crimes, não produz ele todos os
dias! Uma estatística muito instrutiva seria a das causas primeiras que levaram
aos desarranjos do cérebro; e ver-se-ia que nela entra o desespero ao menos com
oitenta por cento”. Lista para exemplificar três fatos ocorridos meses
antes, dois dos quais noticiados pelo conceituado jornal Siècle. O primeiro
na edição de 17 de fevereiro comunicando a morte
de um homem chamado Laferrière, Inspetor Geral das faculdades de Direito da França
e que, apesar de ter sentimentos religiosos, mergulhou em profunda dor pela
morte de sua única filha de 21 anos, poucos dias após ser acometida por
arrebatadora doença; o segundo, objeto de matéria em 1º de
março, falando da morte por suicídio do empresário do ramo de
transportes Sr Léon L., de 25 anos, após o falecimento de sua esposa a quem
amava apaixonadamente e com quem se casara dois anos antes. O terceiro,
enviado por um correspondente da REVISTA,
relata o caso de uma mulher que perdeu o marido, morte atribuída à imperícia do
médico que o tratara. A viúva tomou-se de tal ressentimento contra ele, que o
perseguia incessantemente com ameaças, dizendo-lhe, por toda parte onde o
encontrava: - “Carrasco, não morrerás senão por minha mão!”. O conceito de
ser muito piedosa e religiosa não a impedia de agir de forma tão perturbada, o
que levou o médico a dirigir-se às autoridades, para sua própria segurança.
Moradora de cidade que contava com numerosos adeptos do Espiritismo, ouviu de
um de seus amigos que era espírita a pergunta: - “Que pensaríeis se um dia
pudésseis conversar com vosso marido?”, ouvindo dela que “se
tivesse a certeza de não o haver perdido para sempre, consolar-me-ia e
esperaria”. Em breve lhe deram a prova. Seu próprio marido lhe veio dar
conselhos e consolo e por sua linguagem ela não pôde conservar nenhuma dúvida
quanto à sua presença ao seu lado. Desde então uma revolução completa operou-se
em seu espírito: a calma sucedeu ao desespero e as ideias de vingança deram
lugar à resignação, fazendo com que ela, oito dias depois, fosse à casa do
médico, desculpando-se e se reconciliado com ele. Finalizando a matéria escreve
Kardec:-
“Inútil
dizer que o médico aceitou bem a retratação apressando-se em saber a causa
misteriosa a que daí em diante devia a sua tranquilidade. Assim, sem o
Espiritismo, essa senhora talvez houvesse cometido um crime, apesar de tão
religiosa. Isso prova a inutilidade da religião? De modo algum; mas apenas a
insuficiência das ideias que ela dá do futuro, apresentando-o tão vago que em
muitos deixa uma espécie de incerteza, ao passo que o Espiritismo, fazendo que,
por assim dizer, se o toque com o dedo faz nascer na alma uma confiança e uma
segurança mais completas. Ao pai que perdeu sua filha, que perdeu seu pai, ao
marido que perdeu a esposa adorada, que consolação dá o materialista? Diz ele:
Tudo acabou. Do Ser que vos era tão caro nada resta, absolutamente nada além
desse corpo que em pouco estará dissolvido. Mas de sua inteligência, de suas
qualidades morais, da instrução adquirida, nada; tudo isto é o nada; vós o
perdestes para sempre. Diz o Espírita: De tudo isto nada é perdido; tudo
existe; só há de menos o invólucro perecível; mas o Espírito desprendido de sua
prisão é radiante; está aí, junto de vós, vendo-vos, escutando e esperando. Oh!
Quanto mal faz os materialistas, inoculando por seus sofismas o veneno da
incredulidade! Jamais amaram. Do contrário poderiam ver com sangue frio os
objetos de suas afeições reduzidas a um monte de pó? Assim, parece que para
eles é que Deus reservou seus maiores rigores, pois nós os vemos todos
reduzidos à mais deplorável posição no Mundo dos Espíritos, e Deus é tanto
menos indulgente para com eles quanto mais perto estiveram de se esclarecer”.
Paulinha Assunção, pergunta o seguinte: “ Jesus contou que dois homens foram orar no templo, um fariseu e outro publicano. O fariseu, que era religioso, mas também orgulhoso, não foi ouvido por Deus, enquanto que o publicano, que era um homem do mundo, fez uma oração com humildade e fervor e foi atendido. Isso significa o quê? De fato o fariseu era arrogante, mas ele pode não ter prejudicado os outros, enquanto que o publicano pode ter explorado, roubado e enganado muita gente. A parábola não entra nesses detalhes, mas, se foi assim, como é que ficam essas orações?”
A
- Ao que tudo indica, quando Jesus
contou essa parábola, ela estava se referindo à qualidade da prece. Não se
referiu à vida daqueles homens, embora o fariseu, na sua oração, tenha
manifestado sua condenação ao publicano. Na verdade, não sabemos quem era esse
fariseu e tampouco o publicano, mas Jesus não estava preocupado, nesse momento,
com o que tinha se passado na vida de cada um deles.
B
- Se ele próprio disse que “a cada um
segundo as suas obras”, é claro que o que tem maior peso em nossa vida é a ação
e menos a adoração, embora a adoração, feita com sinceridade, possa nos
favorecer nesse sentido. A adoração teria o papel de melhorar nossos
sentimentos, redirecionar nossa vida nos estimulando à prática de boas ações,
pois se trata de um ato íntimo de aproximação com Deus. Através da prece
podemos exercitar um pouco de humildade, refletindo melhor sobre nossa conduta.
A
– A oração do publicano parece ter contribuído para isso, pois, pela narrativa
de Jesus, ele se sentiu envergonhado de si mesmo, ou seja, reconheceu o quanto
havia errado. Isso não aconteceu com o fariseu – que só viu as próprias
virtudes, mas destacou os defeitos do outro. Jesus quer mostrar, por essa
parábola, que a prece é um ato de humildade, que não devemos levar para a prece
nossas mágoas, nossos ressentimentos, nossos julgamentos maldosos, nossos
preconceitos, pois, se assim fizermos, anularemos por completo seus efeitos.
B
- De outra feita, Jesus já tinha
recomendado ao povo que, antes de depositar a oferta diante do altar, viesse
primeiro reconciliar com o adversário – o que é a mesma coisa. Jesus insiste
nisso, quando quer mostrar o poder da oração. É por isso que no Pai Nosso, ele
enfatiza o fato de que só obteremos o perdão de Deus se soubermos perdoar
aqueles que nos ofendem. Muita gente reza o Pai Nosso e não presta atenção
nisso, de modo que sua prece fica invalidada.
A
– Ao que tudo indica, na maioria das vezes, ainda agimos como crianças, espiritualmente
imaturos. A criança, ingênua e despreparada, não entende as atitudes dos pais
e, por isso, repete erros com muita facilidade, buscando tão somente seu bem
estar imediato. Mas isso é por causa da sua ingenuidade. Nós, se ainda formos
crianças espirituais, também tendemos a agir assim: queremos tudo para nós (aqui
e agora) e nada para os outros, cultivamos inveja e ciúme, queremos ser mais do
que somos (se possível, o melhor), achamos que o errado são os outros, e ainda
queremos exigir que Deus faça a nossa vontade.
B
– Para concluir, caro ouvinte, voltando à parábola, Jesus quis apenas enfatizar
o sentido da prece, como uma ato de humildade, de sinceridade e se submissão às
leis de Deus, momento em que qualquer sentimento menos digno pode anular
completamente seus efeitos. A oração, como Jesus ensinou, incluindo o Pai
Nosso, deve ser um ato livre e espontâneo, e só tem valor se feita com
humildade e sinceridade
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