Artigo publicado por jornal
inglês especializado em assuntos médicos foi tema da reunião da Sociedade
Espírita de Paris de 9 de outubro de 1868 por sua originalidade,
resultando em matéria inserida na edição de novembro da REVISTA ESPÍRITA. Enfocava o caso de uma menina que, sem ter
pronunciado palavras até os três anos, começou com os habituais “papai” e
“mamãe” e quando se aproximou dos
quatro, a língua se desatou de repente, falando a partir daí com toda a
facilidade e volubilidade de sua idade. Um problema apenas se observava:
nenhuma das palavras era em inglês, tampouco tinham relação com a corruptela de
palavras de que se serviam as crianças que brincavam com ela. Sem ter jamais
ouvido francês, incluía no seu singular idioma, diversos termos do mesmo. Os
pais, desolados, insistiam em ensinar-lhe o inglês, inclusive afastando-a de
crianças de sua idade, pondo-a em contato com gente idosa, falando o idioma
pátrio e ignorando seu comportamento. Em contato com pessoas que não tinha o
hábito de ver, punha-se a ensinar-lhes sua língua, o que, por sinal, já havia
feito com um irmão mais velho que ela dezoito meses. Debatido o fato entre os
participantes da reunião da Sociedade,
manifestou-se através de um médium um Espírito de nome Nivard observando que “fatos
surpreendentes ocorreram em todos os tempos, em todas as épocas, causando
admiração aos homens, mas tinham similares ou parecidos. Isto certamente não os
explicava, mas eram vistos com menos surpresa. Este de que se trata é, talvez,
único no seu gênero. A explicação que se pode dar nem é mais fácil, nem mais
difícil que as outras, mas sua singularidade é chocante: eis o essencial”.
E prossegue:“-Quanto à causa, vou tentar vô-la dizer: o Espírito encarnado no corpo
dessa menina conheceu a língua, ou antes, as línguas que fala, pois faz uma
mistura. Não obstante, a mistura é feita conscientemente e constitui uma
língua, cujas diversas expressões são tomadas das que esse Espírito conheceu em
outras encarnações. Em sua última existência ele tinha tido a ideia de criar
uma língua universal, a fim de permitir aos homens de todas as nações
entender-se e assim aumentar a facilidade das relações e o progresso humano.
Para esse efeito ele tinha começado a compor essa língua, que constituía fragmentos
de várias que conhecia e mais gostava. A língua inglesa lhe era desconhecida;
tinha ouvido ingleses falar, mas achava sua língua desagradável e a detestava.
Uma vez no Plano Espiritual, o objetivo que se tinha proposto em vida aí
continuou; pôs-se à tarefa e compôs um vocabulário que lhe é particular.
Encarnou-se entre os ingleses, com o desprezo que tinha por sua língua, e com a
determinação bem firme de não a falar. Tomou posse de um corpo, cujo organismo
flexível lhe permite manter a palavra. Os laços que o prendem a esse corpo são
bastante elásticos, para o manter num estado de semi-desprendimento, que lhe
deixa a lembrança bastante distinta de seu passado, e o mantém em sua
resolução. Por outro lado, é ajudado, e o mantém em sua resolução. Por ouro
lado, é ajudado por seu guia espiritual, que vela para que o fenômeno tenha
lugar com regularidade e perseverança, a fim de chamar a atenção dos homens.
Aliás, o Espírito encarnado estava consentindo na produção do fato. Ao mesmo
tempo em que demonstra o desprezo pela língua inglesa, cumpre a missão de
provocar as pesquisas psicológicas”. Comentando a mensagem, Allan
Kardec acrescenta: -“Se a explicação não pode ser demonstrada, ao
menos tem por si a racionalidade e a probabilidade. Um inglês que não admite o
princípio da pluralidade das existências e que não tinha conhecimento da
comunicação acima, arrastado pela lógica irresistível, disse, falando desse
caso, que ele não poderia explicar senão pela reencarnação, se fosse certo a
gente reviver na Terra. Eis, pois, um fenômeno que, por sua estranheza,
cativando a atenção, provoca a ideia da reencarnação, como a única razão
plausível que se lhe possa dar. Antes que este princípio estivesse na ordem do
dia, ter-se-ia simplesmente achado o caso bizarro e, sem duvida, em tempos
ainda mais remotos, teriam olhado essa menina como enfeitiçada. Nós nem mesmo
diríamos que hoje não fosse esta a opinião de certas pessoas. O que não é menos
digno de nota é que este fato se produz precisamente num País ainda refratário
à ideia da reencarnação, mas que será arrastado pela força das coisas”.
Quando a gente entra em conflito com a consciência, não é por causa dos valores morais que aprendemos de nossos pais? (Aylton)
Em primeiro lugar, vamos
dizer o que vem a ser “conflito de consciência”, Aylton. É quando fazemos
alguma coisa que a nossa consciência reprova (ou seja, algo que não deveríamos
fazer), ou quando não fazemos aquilo que ela pede que façamos. Por mais que
procuremos disfarçar ou esconder de nós mesmos, no fundo vamos sentir que
entramos em conflito conosco mesmos, quase sempre desenvolvendo um sentimento
de culpa.
A que se deve isso. Evidentemente à noção que já adquirimos do que
é certo e do que é errado, do que devemos e do que não devemos fazer. Nossa
consciência moral é quase sempre muito exigente conosco mesmos. Isso quer dizer
que ela cobra pelos erros que cometemos, embora haja de forma silenciosa.
Ninguém fica sabendo, mas nós ficamos. Por isso, é comum acontecer de a pessoa
procurar esquecer para não se culpar.
E é aí que pode entrar o perigo, quando ela procura a bebida, quando
procura a droga ou quando se entrega inteiramente ao erro, tentando encobrir
uma falta com outra falta. Nenhum de nós, que goza da plenitude de sua
consciência moral, está livre de se culpar. Muitas vezes nos culpamos pelas
mínimas coisas. E isso deve em parte ao que os nossos pais, nossos professores
e a própria religião nos ensinaram. A culpa é um tormento para o espirito.
Mas não é só isso. Todos trazemos valores de outras encarnações,
de experiências que vivenciamos no passado e que também estão impressas em
nosso inconsciente, estimulados pelos que estamos aprendendo na presente
encarnação. A consciência moral é o nosso mais implacável juiz. Nada escapa da
sua consideração e é por isso que um sentimento de culpa pode perseguir a
pessoa durante toda uma vida e até no mundo espiritual.
Por essa razão, quando Allan Kardec perguntou aos Espíritos quais
as condições básicas para a felicidade na Terra, eles colocaram a tranquilidade
de consciência como uma dessas condições. Sem consciência tranquila a pessoa
vive um tormento e acaba percebendo que seu maior inimigo está dentro dela
mesma.
Por isso, é recomendável que você não faça nada errado, pense
muito bem o que vai fazer, volte atrás enquanto é tempo. Outro perigo você
ficar adiando um compromisso sério e perder a oportunidade de estar bem consigo
mesmo. Pois é mais vantajoso se conter e se privar de uma vontade momentânea do
que, depois, ter que amargar o sentimento destruidor da culpa na própria
consciência.
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