Esta questão, que vamos discutir agora, foi apresentada num debate sobre violência e religião. Ela foi apresentada como uma crítica ao Espiritismo. A questão é a seguinte. Preste atenção “Um homem pratica um crime hediondo, assassinando covardemente uma criança. O que é mais importante para o Espiritismo: que haja justiça e o criminoso seja punido ou o fato de a criança está expiando erro do passado?”
A filosofia espírita
concorre para que a sociedade proporcione segurança e bem estar a todos os
cidadãos. Isso quer dizer que, segundo o Espiritismo, o aparato da justiça
humana é um dos instrumentos aos quais o homem deve recorrer para que todos
estejam bem protegidos, de modo que seus agentes (magistrados, promotores e
advogados) têm grande responsabilidade
para que a justiça seja a mais
perfeita possível.
Mas o Espiritismo reconhece também que a justiça humana, por mais
que faça para ser imparcial, não é perfeita. Acima dela existe o que chamamos
de Justiça Divina, que é a aplicação das leis naturais em relação a cada
indivíduo. Na lei de Deus, cada um tem a liberdade de semear boas ou más
sementes, mas, desde que semeou, não terá liberdade para escolher o que deve
colher, porque isso é por conta da justiça perfeita de Deus. Más sementes
produzirão maus frutos, boas sementes bons frutos.
Os que praticam violência contra os indivíduos e contra a ordem
social responderão, cedo ou tarde, nesta ou em outra vida, pelo mal que fizeram,
não tanto perante suas vítimas diretas ou perante a sociedade, mas muito mais
diante de si mesmos, pois não existe tribunal mais implacável que a consciência
moral de cada um. O sentimento de culpa será sempre nosso pior castigo, Por
isso, sabemos que aqueles que sofrem por um mal que não fizeram, pelo menos
nesta existência, devem estar respondendo pelo mal que fizeram em outra.
Mesmo assim, só devemos utilizar os instrumentos da justiça humana
para condenar ou absolver. Ninguém tem o direito que fazer justiça pelas
próprias mãos, porque nesse caso não será justiça, será vingança. Por isso, a
sociedade toma para si a responsabilidade de regular o comportamento das
pessoas. Desse modo, a Doutrina Espírita reconhece a necessidade da sociedade
estar preparada para manter esse controle e para que a sua justiça, quando aplicada, seja
a mais justa possível.
A vítima de hoje pode ter sido
o algoz do passado e geralmente é. Mas não somos nós que vamos fazer esse
julgamento, pois para a justiça humana o que se conta é apenas o desempenho de
cada um na presente existência; a justiça humana não cogita de outra vida. Logo, diante de um crime hediondo, como esse contra a criança, não nos cabe julgar essa
criança ( que agora é vítima), pois isso não é de nossa alçada, mas apenas e
tão somente contribuir com a justiça humana, encaminhando o atual criminoso
para responder diante dos tribunais terrenos.
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