Intolerância religiosa, exploração da ignorância;
mercantilização da fé; foco nos aspectos temporais em prejuízo dos espirituais
podem parecer atitudes incompreensíveis, inaceitáveis, uma prova da
inexistência de Deus para alguns, mas, não são. Especialmente se considerarmos
comentário já destacado da edição de fevereiro de 1864 da REVISTA ESPIRITA dizendo que embora “o Espírito já no
início de sua fase humana, estupido e bruto, sinta a centelha divina em si,
adora um Deus,
que materializa conforme sua materialidade”. Os conceitos vão se
modificando, portanto, conforme a evolução avança no indivíduo. Assim sendo, as
diferentes religiões, muitas vezes, organizadas a partir de revelações
espirituais, refletem o progresso dos seus mentores ou organizadores.
Considerando algumas informações inseridas n’O LIVRO DOS
ESPÍRITOS a
proposito da não
igualdade dos Espíritos, distribuídos em diferentes ordens em número ilimitado,
não existindo nesse sentido, uma linha demarcatória traçada como barreira, se
multiplicando em inúmeras divisões, à vontade, podendo, todavia, ser reduzidas
a três ordens principais, considerando-se os caracteres gerais. Na primeira ordem, os que já chegaram à
perfeição; na segunda, os que do meio da escala, já tendo o desejo do Bem
como preocupação, e, na terceira, os espíritos imperfeitos ainda na base da escala,
se caracterizando pela ignorância, desejo do mal e todas as más paixões que
lhes retardam o desenvolvimento. No caso da Terra, conforme mensagem atribuída
ao Espírito Santo Agostinho, há Espíritos apenas saídos da infância
evolutiva, se
desenvolvendo em contato com Espíritos mais avançados, constituindo o grupo dos
chamados selvagens; outros identificados como as raças semicivilizadas, constituída desses mesmos Espíritos em progresso,
incluindo os indígenas do Planeta, que cresceram pouco a pouco, depois de
longos períodos seculares, atingindo o aperfeiçoamento intelectual de povos
mais esclarecidos, e, por fim, Espíritos que já viveram em outros mundos, de
onde foram retirados em razão de sua obstinação do mal. Juntando a isso a
revelação do Espírito Emmanuel através
de Chico
Xavier no
livro ROTEIRO (1952, feb), calculando a população desencarnada em
vinte
bilhões de Espíritos conscientes, que se servem do domicílio terrestre para
progredir espiritualmente, não é incorreto cogitarmos ser diverso o estado evolutivo dos mesmos,
o que resulta nas distorções observadas em todos os tempos, mas, especialmente
na atualidade em que tantas contradições chamam a atenção em qualquer análise
que se pretenda fazer. Não só nas questões religiosas como pode se deduzir pelo
conceito de Deus do inicio. Lembrando
entrevista publicada em 1954, do próprio Emmanuel através
do médium com o qual trabalhou décadas,
de que nos “últimos 64 mil anos tivemos duas raças na Terra,
cujos traços se perderam, por causa do seu primitivismo. Logo em seguida,
podemos considerar pelos próximos 28 mil anos, a grande raça Lemuriana, como
portadora de uma inteligência algo mais avançada, detentora de valores mais
altos, nos domínios do Espirito; após a raça Lemuriana – chegamos ao grande
período da raça Atlantida, em outros 28 mil anos de grandes trabalhos, no qual
a inteligência do mundo se elevou de maneira considerável; achando-nos,
agora, nos últimos períodos da grande raça Ariana”, entendemos por que ele compara o Planeta a um
Grande Educandário, com seus diferentes graus, séries e alunos com capacidade
de aprendizagem compatível com intelecto, realidade familiar, social, etc.
Analogia interessante diz que o Planeta se assemelha cinco condomínios
(continentes), flutuando sobre os diferentes Oceanos. Nos vários blocos
(países), acomodam-se moradores das mais diferentes condições culturais
(evolutivas), agindo e reagindo com maior ou menor rapidez aos estímulos
sofridos. A hegemonia racial, por exemplo, está se descaracterizando pelo
crescente número de refugiados que se abrigam em estruturas milenares como a
europeia - muitos retornando através da reencarnação em realidades sociais
precárias -, buscando nas áreas em que se instalam uma compensação para a
exploração sem compensação de qualquer espécie dos antigos invasores e
dominadores conforme demonstra a história pregressa da Humanidade. Absurdo? Para
muitos pode parecer. Mas, aqui também pode ser utilizada uma ponderação de Allan Kardec dizendo que “a facilidade com que certas pessoas aceitam as ideias espíritas, das
quais, parece, tem intuição, indica terem alcançado certa evolução na escala do
progresso espiritual”. Diante de tudo isso, pode-se
concluir que as disparidades observadas nos comportamentos individuais ou
coletivos são justificadas pela heterogeneidade de internos desta grande escola
chamada Terra, ainda Mundo de Expiação e Provas, que navega pelo espaço sem
fim. Em outras palavras, sob este ponto de vista, está tudo certo mesmo.
Uma senhora, que já havia lido algumas obras espíritas, veio com a seguinte colocação: “Quando um casal tem um filho que já nasceu doente e, assim, vai ser pela vida toda desse casal, o que isso significa para o Espiritismo? Que esses pais tem uma dívida de outra encarnação para com o filho e por isso deve aceitar essa situação com paciência e resignação porque essa é a vontade de Deus? “
Você, que nos fez a pergunta, pela forma como
perguntou, já sabe que dentro da filosofia espírita a reencarnação é o ponto
chave para explicar os diferentes caminhos que as pessoas percorrem nesta vida,
tanto quanto a justiça divina, que dá a cada Espírito aquilo que ele próprio já
conquistou. De fato, não haveria como entender a justiça de Deus que um determinado
casal tenha vários filhos sadios e inteligentes, enquanto outro tenha filhos
doentes e limitados. Qualquer um de nós, com o mínimo conceito de justiça,
saberia que há algo mais atrás dessa situação e que conforma a lei de Deus com
o princípio de perfeita Justiça.
É claro que não estamos falando das causas biológicas
ou materiais que determinam a condição da criança excepcional. Sabemos, hoje,
depois da evolução da ciência genética, que essa criança, que nasceu com deficiência,
deve trazer na sua carga hereditária genes dos pais, dos avós ou ancestrais que
carregam essa tara. Mas, mesmo assim, não podemos explicar porque o problema
tenha que se manifestar neste momento, justamente com esta determinada criança
e com esses pais, e não com outros da mesma família.
A Doutrina Espírita, que só apareceu depois
do surto de desenvolvimento científico, sabe que, em todos os casos de
limitação física e mental, sempre deve haver alguma causa genética ou ligada à
gestação, ou ainda a outro tipo de causa física. Contudo, atrás da causa
física, que pode ser perfeitamente explicada pela ciência, existem as causas
espirituais, à qual a ciência não tem alcance, porque a ciência não se ocupa
com as Leis de Deus da mesma forma que o Espiritismo. O que o Espiritismo não
admite é atribuir essas situações de excepcionalidade em crianças apenas à
causas genéticas ou materiais.
Evidentemente, nenhum casal espera ter um
filho ou uma filha deficiente. Mas, se isso acontecer, desde que tenha um
conhecimento espírita ou um mínimo de bom senso em relação aos desígnios
divinos, ficará mais fácil encarar o desafio e enfrentar o problema, pois
saberá que, na Lei de Deus, nada acontece por acaso. Somos todos aprendizes na
escola da vida: pais e filhos. Um casal, nessas circunstâncias, ainda que
decepcionado a princípio, porque não era isso que esperava, saberá encarar o
desafio, consciente de que se trata de uma experiência sublime, em que poderão
demonstrar para si mesmos sua capacidade de amar.
Veja bem. É como estivéssemos numa fila para
receber tarefas que deveríamos cumprir para a nossa própria realização pessoal.
E, quando chegasse a nossa vez, logo depois de alguém receber uma incumbência
aparentemente fácil e prazerosa, viesse para nós uma tarefa espinhosa e
difícil. A princípio nos espantaríamos,
inconformados, até faríamos menção de recuar, mas como sabemos que as vantagens
a serem obtidas são proporcionais às dificuldades das provas que temos de
passar, então nos resignaríamos, enchemo-nos de coragem para ir em frente.
Sabemos, portanto, que a missão de educar um
filho com problemas graves e irreversíveis não é nada fácil, mas é a grande
chance que esses pais têm de demonstrar a si mesmos de que são capazes e, mais
do que isso, de exercitar o verdadeiro amor em relação a esse filho. Essa situação
nos faz lembrar do maestro e violinista, Paganini que, durante um recital em
Nova York, teve três cordas de seu violino arrebentada. Mesmo assim, com apenas
uma corda, foi capaz de executar as músicas que havia programado. Após receber
uma estrondosa e calorosa ovação da grande plateia, um jornalista lhe perguntou
como se sentia naquele momento, e ele disse que se as cordas de seu violino não
tivessem quebrado, ele jamais saberia do que é capaz.
Todavia, se a causa está no passado,
a princípio, não sabemos do que se trata. Sabemos apenas que, como pais,
cabe-nos resolver o problema e devemos fazê-lo com coragem e dedicação. Não
sabemos se se trata de dívida, se foi apenas um compromisso que esses pais
assumiram diante desse Espírito para ajudá-lo na sua caminhada. O que sabemos,
e isso é o suficiente, é que o desafio é grande, mas sua finalidade é gloriosa,
que esses pais são privilegiados por terem sido escolhidos para essa grande
missão.
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