O jovem Adhemar Marcondes Filho, se diz chocado com a pobreza e o sofrimento de certas famílias, incluindo crianças, adultos e idosos. Então pergunta: “As pessoas precisam, de fato, passar fome, viver em lugares desconfortáveis, sempre dependendo de alguém, limitadas psicologicamente? E as crianças que passam necessidade, as adolescentes que são lançadas no mundo da prostituição? Que responsabilidade tem os governantes que deixam essa crueldade acontecer?”
Infelizmente, Adhemar,
tais situações de miséria material e moral – que sempre existiram no mundo
civilizado – continuam existindo em nosso planeta. Poderíamos até entender que
as discriminações, os preconceitos e o abandono existiram no passado, quando o
homem ainda era pouco inteligente para ter um bom senso de justiça. Mas, hoje
não. E, por incrível que pareça, há quem tire proveito dessa situação para
obter vantagens, satisfazendo seu egoísmo, sua vaidade e seu orgulho.
O sofrimento de crianças,
adolescentes, adultos e idosos não ocorre apenas perto de nós, mas em todo o
planeta, nas situações mais absurdas. No entanto, a nossa responsabilidade para
com o próximo deve começar com o próximo mais próximo, com aqueles cujos
infortúnios desfilam à nossa frente. Todos nós, que já podemos entender um
pouco da vida, que já alcançamos um certo nível de compreensão do que é
justiça, temos um compromisso com essa parcela abandonada da sociedade.
É evidente que os homens
que nos governam deveriam estar muito mais atentos a essa lastimável
desigualdade, por que foram eleitos justamente para garantir a justiça e o
bem-estar social. Sobre o papel dos políticos e administradores,
Kardec afirma, n’O LIVRO DOS ESPÍRITOS, que “a
posição elevada no mundo e autoridade sobre o semelhante são provas tão grandes
e arriscadas quanto a miséria; quanto mais o homem for rico e poderoso, mais
obrigações têm a cumprir”
Se por um lado cabe as nós
cobrar providências das autoridades, por outro, não podemos nos omitir diante
do que está ao nosso alcance fazer. Se
queremos formar cidadãos e políticos responsáveis, precisamos fazer com que a
sociedade se torne responsável e fraterna, criando um ambiente propício para a
estimular ações solidárias. Como queremos fazer de nossas crianças bons
cidadãos ou bons políticos, se não lhes damos exemplo para que cresçam
conscientes do que é uma sociedade cristã?
É claro que, diante da Lei
de Deus, nada acontece por acaso, Adhemar. Os que sofrem hoje têm dívidas do
passado e os que se omitem hoje terão de arcar com as consequências no futuro. Não
é por acaso que você se sente numa condição privilegiada, enquanto essas
pessoas sofrem os efeitos da ignorância e da miséria. No entanto, quem tem que
consertar essa situação somos nós. Se esses Espíritos ainda estão passando por
tais problemas, cabe à sociedade prover suas necessidades, dando-lhes educação
e trabalho, para que possam se recuperar. Os Espíritos, que reencarnam em
ambiente miserável, não podem ser abandonados. O papel da sociedade, seja
através de seus governantes e da própria população, é ajudá-los a se libertar
dessa dependência.
Observando essa situação, Allan
Kardec, na questão 812 d’O LIVRO DOS ESPÍRITOS, formulou a seguinte
questão: “Existem pessoas que caem nas privações e na miséria por sua própria
culpa. A sociedade pode ser responsabilizada por isso? E os Espíritos responderam: “Sim, já o dissemos, ela é sempre a causa
primeira dessas faltas, pois não lhe cabe velar pela educação moral de seus
membros?”
O problema, portanto, não é
apenas a miséria em si, mas as causas que a determinam. Essas causas, quase
sempre, estão na falta de uma ação social efetiva, no sentido de garantir uma educação
condizente à formação do bom cidadão, ao descaso com que a pobreza é vista e
tratada pela sociedade em geral e, especificamente, pelos seus dirigentes. Os
projetos, criados nesse sentido, acabam morrendo por falta de recursos
suficientes e do engajamento da própria sociedade nesse processo.
Pois, além da ação governamental,
que é um dever de justiça, os cidadãos devem fazer algo por sua comunidade e
podem fazê-lo juntamente com os órgãos públicos. . Aí estão as entidades
assistenciais, quase frente fruto do esforço e até do sacrifício de cidadãos
abnegados, buscando minorar o sofrimento das vítimas da pobreza, da miséria e da
ignorância. Mas elas sempre lutam com muita dificuldade e, frequentemente, se
veem impedidas de realizar uma ação mais efetiva em favor daqueles a quem
atende, face à carência de recursos, a falta de uma maior participação dos
cidadãos e às próprias limitações de nossas leis.
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