Por que dizem que Allan Kardec foi o codificador do Espiritismo? Não seria mais certo dizer que ele foi o criador do Espiritismo? (Abegar de Oliveira – Marília)
Se você abordar a Doutrina Espírita sob uma
visão materialista – ou seja, não reconhecendo a existência do espírito e a
imortalidade – poderá, sim, dizer que Allan Kardec foi criador do Espiritismo, pois o
Espiritismo, em última instância, saiu de suas mãos. Foi ele quem anunciou e assumiu
inteiramente a doutrina, quem publicou os seus primeiros livros (que inclusive levam
o seu nome) e quem iniciou no mundo o movimento espírita propriamente dito.
Mas, se você ver a Doutrina Espírita do ponto
de vista mais amplo, que é o ponto de vista espiritual – quer dizer, da maneira
como a doutrina realmente deve ser vista, abordando a existência do Espírito - então
não poderá atribuir a Allan Kardec a criação dessa doutrina. Criador é quem
cria e não foi propriamente da cabeça de Kardec que a doutrina surgiu, mas da
revelação de milhares de Espíritos que, com ele, lançaram as bases do
Espiritismo, porque ele efetivamente trabalhou para isso.
Se você já leu, pelo menos O LIVRO DOS
ESPÍRITOS, pôde perceber dois pontos importantes. O primeiro é que as 1018
perguntas foram atribuídas a Kardec e as respostas aos Espíritos. E a segunda é
que Kardec, sempre muito crítico naquilo
que queria saber, colaborou com os Espíritos nas respostas. Não foi apenas um
perguntador, colocando-se ao lado dos Espíritos para esclarecer muitos pontos,
que julgou que ainda não tinham sido suficientemente esclarecidos.
Ele
poderia ter publicado o primeiro livro espírita com outro título, mas preferiu
chama-lo de O LIVRO DOS ESPÍRITOS, pois queria deixar muito claro que as bases
da nova doutrina vieram da revelação dos Espíritos, postura que ele deixa muito clara em suas obras. Kardec fundou as bases da doutrina com
fundamento no estudo dos fenômenos e nas informações que recebeu da
espiritualidade. Logo, ele não trabalhou sozinho; pelo contrário, foram os
Espíritos que motivaram e impulsionaram seu
trabalho.
Neste particular, deixou bem claro em suas
obras que não foi ele não quem criou o Espiritismo, embora, pela sua formação
pedagógica e pelos conhecimentos filosóficos e científicos que então dominava, tenha sido colaborador efetivo dos Espíritos
para sistematizar a doutrina a partir das revelações que recebeu. Acreditamos,
de nossa parte, que ele fora preparado para essa difícil e espinhosa missão
antes de reencarnar e poderíamos afirmar mesmo que ele fazia parte dessa
falange de Espíritos que viria trazer o Espiritismo à humanidade.
A espiritualidade superior precisava de alguém
encarnado que reunisse condições de elaborar para o mundo uma nova doutrina e ele se deu bem nessa missão, sem
nenhuma pretensão de chamar para si os méritos de ser único. Para os que não
levam em conta a realidade do espírito Kardec foi um criador, mas para quem
enxerga o mais além, sabe que ele nunca esteve sozinho nessa missão, pois foi
um parceiro dos Espíritos, com um papel fundamental na comunicação da nova revelação.
O fato
de ser chamado codificador, com certeza, vem em decorrência dessa diferenciação
que ele próprio insistiu muito em fazer, afirmando que a revelação espírita não
está apoiada num só homem, como a de Moisés, Jesus, Buda ou Maomé. Talvez
codificador ainda não seja o termo mais adequado para o papel que desempenhou,
pois ele foi bem mais do que um mero coletor das informações prestadas pelos
Espíritos. Ele participou delas e ajudou a edificar a doutrina.
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