Benê Varonelli, nos ligou semana passada para perguntar como o Espiritismo explica a frase de Paulo, no capítulo 9, versículos 27 e 28 de sua carta aos hebreus, quando afirmou: “E assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo depois o juízo, assim também o Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação”? Pergunta o Varonelli se essa afirmação de Paulo não contraria o princípio da reencarnação, ensinada pelos espíritas.
Interessante a sua
observação, Varonelli. À primeira vista é fácil concluir que Paulo está dizendo
que vivemos apenas uma vez e que, portanto, também morremos uma única vez e
que, portanto, não tem validade qualquer ideia que se choque com este
pensamento. No entanto, precisamos considerar alguns pontos importantes em cima
do que Paulo fala em sua carta, partindo do princípio de que ele viveu há quase
dois mil anos e se preocupava muito com o rumo que os judeus poderiam dar ao
cristianismo.
É uma retomada de valores e
crenças próprias do povo a que Jesus pertenceu e que procura firmar as bases do
pensamento cristão sobre revelações contidas nas escrituras antigas, que hoje
constitui o Antigo Testamento. Os hebreus (também conhecidos por judeus) não acreditavam na reencarnação, embora entre
eles houvessem quem se interessasse em saber sobre tema. A reencarnação estava
mais nas antigas religiões do oriente, como esteve na Grécia entre seus
primeiros filósofos, como Sócrates e Platão.
N’O EVANGELHO SEGUNDO O
ESPIRITISMO Kardec explica que os hebreus acreditavam na ressurreição da carne,
crença essa que herdaram da religião dos persas, povo ao qual estiveram
submetidos por longo tempo, sofrendo deles grande influência. Segundo essa
crença, os corpos dos mortos levantariam dos túmulos no último dia, o dia do
julgamento final, quando se definiria a sorte de cada um para toda a
eternidade, o céu ou o inferno. Esta, portanto, era a crença dos hebreus. Eles
não conseguiam conceber o espírito sem o corpo e, por isso, acreditavam que
cada corpo seria resgatado para o seu destino final.
Jesus, por outro lado, não queria bater de frente com os dogmas
religiosos, apenas trazia uma mensagem de renovação espiritual do homem. Ele
não tinha nenhum interesse em aprovar uma religião e condenar outra ou dizer
que esta estava com a verdade e a aquela não. Jesus não se preocupava com as
crenças religiosas e com as divergências entre elas; dirigia-se a todos
indistintamente. É assim que fariseus, saduceus e samaritanos tinham crenças
diferentes, embora todos acreditassem num mesmo deus. Este era o ponto
necessário e importante para Jesus.
Quando Jesus tocou na
questão “é preciso nascer de novo”, Nicodemus – que era fariseu e doutor da lei
– estranhou, porque ele não sabia de que Jesus estava tratando. Naquela
ocasião, Nicodemus quis saber mais e questionou Jesus, pois reencarnação não
fazia parte de sua crença. A resposta que
deu Nicodemus foi ampla, sem entrar em
detalhes, o que o levou a questionar sobre o pouco conhecimento de Nicodemus
sobre a vida espiritual.
Jesus se preocupava única e
exclusivamente com a salvação moral da humanidade, com o cultivo do amor ao próximo,
com a vivência da caridade, ensinando a humildade, a paciência, a tolerância, a
indulgência e o perdão como prática da vida diária. O que Paulo está dizendo é
para os hebreus, que acreditavam numa única vida, como Nicodemus, pois o
importante e fundamental era que procurassem reformular suas vidas e se tornassem
verdadeiros seguidores da doutrina do Amor ao
Próximo.
Por causa das diferentes crenças é que
acabaram surgindo interpretações diferentes dos ensinamentos do Mestre. E
Paulo, como um bom fariseu, também fez uso desse direito de expor seu
pensamento, procurando passar para as diversas comunidades cristãs uma mensagem
específica que, sem ferir suas crenças, lhes encaminhassem para a vivência do
bem e a prática da caridade.
Contudo, Benê, se levarmos
ao pé da letra o que Paulo coloca em sua carta, podemos dizer que ele estava certo,
porque o homem (que é formado de corpo e de espírito), na verdade só morre uma
vez, pois morto o corpo, este não retorna à vida e aquela personalidade humana
desaparece. O que não acaba, no entanto, é a vida do Espírito, que não morre,
que continua sua jornada no mundo espiritual para, em seguida, buscar outras
oportunidades de renovação. E se você quiser mais informações de como a
Espiritualidade vê o trabalho de Paulo, leia o livro “PAULO E ESTÊVÃO” de
Emmanuel, recebido pelo médium Chico Xavier.
Várias gerações influenciadas
por ensinos religiosos se formaram acreditando na existência do Anjo da Guarda,
o personagem capaz de proteger-nos ou livrar-nos de perigos eminentes ou
atitudes de consequências imprevisíveis. Seria apenas uma fantasia ou ficção?
No número de janeiro de 1859 da REVISTA
ESPÍRITA, Allan Kardec reproduz mensagem espontânea assinada
conjuntamente pelos Espíritos São Luiz e Santo Agostinho,
oferecendo dados importantes para nossa reflexão sobre o tema. Indagam: -“Pensar
que tendes sempre junto a vós seres que vos são superiores, que aí estão sempre
para vos aconselhar, sustentar, ajudar a subir a áspera montanha do Bem, que
são os amigos mais certos e mais delicados que as mais íntimas ligações que
possais estabelecer nesta Terra, não é uma ideia consoladora?”,
acrescentando: -“Estes seres aí estão por ordem de Deus; foi ele que os pôs ao vosso
lado; aí se acham por amor a Ele e
junto a vós realizam bela e penosa missão. Sim; onde quer que estejais, estarão
convosco: os calabouços, os hospitais, os lugares de deboche, a solidão, nada
vos separa destes amigos que não vedes, mas cujos suaves impulsos vossa alma
sente, como escuta os sábios conselhos”. Em outro trecho afirmam: - “Cada
Anjo da Guarda tem o seu protegido, sobre o qual vela, como um pai sobre o
filho; é feliz quando o vê seguir o bom caminho e sofre quando seus conselhos
são desprezados”. Meses depois, a versão definitiva d’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS dedicaria trinta
e três perguntas ao assunto, disponibilizando mais elementos para ampliar nosso
entendimento, inserindo a referida mensagem como um adendo à questão 495.
Dentre eles, destacamos: 1- Trata-se
de um Espírito protetor de uma ordem elevada; 2- Acompanha seu tutelado do o nascimento até a morte, frequentemente o
seguindo depois dela, na vida espiritual, e mesmo através de numerosas
experiências corpóreas, consideradas fases bem curtas na vida do Espírito;
3- Para o protetor é, às vezes, um
prazer, noutras uma missão ou um dever; 4- Em caso de deixar sua posição para cumprir diversas missões, são
substituídos; 5- Afasta-se quando vê que seus conselhos são inúteis pela
vontade mais forte do protegido em submeter-se à influência dos Espíritos
inferiores, não o abandonando completamente, sempre se fazendo ouvir, voltando
logo que chamado; 6- Jamais
fazem o mal, deixando que o façam os que lhe tomam o lugar; 7- Quando deixa seu protegido se extraviar na
vida, não é por incompetência sua, mas porque ele não o quer, saindo seu
protegido mais instruído e perfeito, assistindo-o, porém, com seus conselhos,
pelos bons pensamentos que lhe sugere, infelizmente nem sempre ouvidos;
8- Há
circunstâncias em que a presença do Espírito protetor não é necessária;
9- Sua
ação não é ostensiva pelo fato de que se o fosse o protegido não agiria por si
mesmos e não progrediria, visto necessitar da experiência, exercitar suas
forças, sendo a ação dos Bons Espíritos efetuada de forma a lhe deixar o livre
arbítrio; 10- Quando
vê seu protegido seguir o mau caminho, sofre com seus erros e os lamenta mas
essa aflição nada tem das angústias da paternidade terrena, porque ele sabe que
há remédio para o mal, e que o que hoje não se fez, amanhã se fará. Em
nota, Allan Kardec, comenta: Dessas explicações e das observações
feitas sobre a natureza dos Espíritos que se ligam ao homem podemos deduzir o
seguinte: 1- O
Espírito Protetor, anjo da guarda ou bom gênio, é aquele que tem por missão
seguir o homem na vida e o ajudar a progredir, sendo sempre de natureza
superior à do protegido; 2- Os Espíritos familiares se ligam a certas
pessoas por meio de laços mais ou menos duráveis, com o fim de ajuda-las na
medida de seu poder., frequentemente bastante limitado, sendo bons, mas às
vezes pouco adiantados; 3- Os Espíritos simpáticos são os que atraímos
a nós por afeições particulares e uma
certa semelhança de gostos e sentimentos, tanto no Bem como no mal, durando e
se subordinando suas relações às circunstâncias; 4- O mau gênio é um Espírito
imperfeito ou perverso que se liga ao homem com o fim de o desviar do Bem, mas
age pelo seu próprio impulso e não em virtude de uma missão, manifestando sua
tenacidade na razão do acesso mais fácil ou mais difícil que encontre.
Conclui dizendo: -“O homem é sempre livre de ouvir a sua voz ou de a repelir”.
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