É verdade que se as pessoas da família,
inconformadas e revoltadas, não se conformarem com a morte de um ente querido,
esse Espírito fica perturbado vagando pela casa e até causando problema à
família?
Por incrível que pareça, a
noção de que nosso apego às pessoas pode causar problemas quando elas
desencarnam já existia muito antes do Espiritismo, quiçá antes mesmo da civilização.
Afirma Fustel de Coulange, historiador positivista francês do século XIX, na sua
conhecida obra CIDADE ANTIGA, que um dos
grandes momentos da história foi quando o homem percebeu que existe vida depois
da morte e passou a homenagear seus entes queridos que partiram, certos de que
eles continuariam vivendo do lado de lá.
Eles acreditavam que, quando
esquecemos daqueles que se foram ou quando não aceitamos que eles tenham
partido, suas almas entram em perturbação e passam a vagar de um lado para
outro em busca de quem possa interceder por elas. Desse modo, mesmo o homem
antigo, antes mesmo da existência das cidades e da civilização, já concebiam o
quanto é importante para nós aceitar a realidade da morte do corpo, sabendo que
o Espírito continua.
A Doutrina Espírita diz,
mais ou menos a mesma coisa, embora reconheça o quanto é sofrida uma separação,
principalmente se ela for repentina, privando-nos da presença física das
pessoas a quem muito amamos. É claro que essa dor moral da separação será tanto
maior quanto mais estivermos apegado aos valores materiais e quando não
concebemos que a vida continua. A grande lição de Jesus para os discípulos foi
justamente a do fato que chamamos de ressurreição, que não mais foi do que a
sua manifestação espiritual depois da morte.
A certeza na vida futura é
um dos quesitos essenciais para a felicidade na Terra, pois de posse dessa
certeza, sempre saberemos que as separações de entes queridos pela morte são
momentâneas, prevalecendo os laços espirituais que existem entre nós. Na
verdade, quando nos revoltamos contra a morte de alguém, emitimos rajadas de
pensamentos negativos – uma mescla de decepção e revolta – que, sem querer,
atinge o Espírito que está desencarnando.
No livro OBREIROS DA VIDA
ETERNA, André Luiz relata o desencarne de Dimas, um homem bom que partia desta
vida com significativo saldo espiritual em seu favor. Todavia, seus familiares
não se conformavam com sua partida e, principalmente, durante velório, entraram em desespero, causando uma
grave agitação mental no ambiente da casa onde jazia o cadáver e,
consequentemente, dificultando o desenlace. Acontece que, morto o corpo, o Espírito ainda
se encontra em processo de desencarnação, que consiste no rompimento dos laços
que prende o espírito ao corpo.
Diante disso, Dimas, que
estava partindo e, portanto, mantido em estado semi - inconsciente, recebia
descargas mentais negativas ocasionadas pelos gritos de desespero que cada
coração querido emitia em sua direção, pedindo que ficasse. Morto o corpo,
porém, o processo da desencarnação, que pode durar horas, é irreversível e
acaba por se complicar mais ainda, ante o quadro de aflição e inconformismo dos
familiares. Quem estiver interessado em conhecer os detalhes desse relato basta
ler o livro OBREIROS DA VIDA ETERNA de André Luiz.
O que nos liga uns aos
outros são laços espirituais, mesmo quando encarnados. O corpo é apenas uma
manifestação do espírito. E quando a família, inconformada, permanece longo
tempo ainda clamando pelo ente querido, que já se encontra na espiritualidade,
é claro que esse Espírito vai se ressentir disso, embora a repercussão desses
chamamentos dependa também da condição em que o Espírito se encontra.
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