Se sabemos que estamos nesta vida apenas
de passagem, que a morte não é o fim da existência e que, portanto, a vida
continua, por que não aceitamos a morte como um fato natural, mas fazemos dela
um drama?
Allan Kardec aborda muito bem este tema no primeiro capítulo do
livro O CÉU E O INFERNO, capítulo que ele intitula “O Futuro e o Nada”. Quem
tiver curiosidade, leia esse capítulo com muita atenção; se possível, leia-o
várias vezes, até se convencer de que entendeu o que Kardec quis transmitir. Na
verdade, o “não ter medo da morte” é uma postura filosófica que o espírita ( ou
todo aquele que se convence da vida futura) deveria adotar.
Conhecemos pessoas que não
só se portaram com dignidade nos seus últimos momentos de vida, mas deram exemplo
vivo de quem sabe encarar a morte como uma passagem natural para outra vida.
Diante da iminência da morte, elas chamaram seus familiares e lhes passaram recomendações
sobre valores morais e espirituais, pedindo que aceitassem serenamente a
desencarnação, com a certeza de que não está indo embora para sempre.
No entanto, de uma maneira
geral, temos muita dificuldade de encarar o termo da vida terrena – da nossa
vida e da vida de nossos entes queridos. Isso acontece porque ainda não
conseguimos ver além, pois costumamos colocar nossos interesses e objetivos
apenas e tão somente nesta atual existência, como se nada existisse além. Não
basta ter religião, não basta proclamar que acreditamos em Deus e na
imortalidade da alma, se ainda não conseguimos digerir essas ideias no mais
profundo de nossa alma.
Se por um lado devemos
cuidar de nosso corpo e dar-lhe a vida mais longa e digna possível – porque a
encarnação é uma experiência preciosa para o Espírito – por outro, precisamos
tomar consciência de que não pertencemos ao mundo material – somos mais que
isso - razão por que não devemos viver
exclusivamente para os interesses exclusivos do agora. É supervalorização da
matéria, o apego demasiado aos bens e aos valores transitórios deste mundo – e,
mais do que isso, é o desprezo aos valores do espírito - que nos impede
perceber o verdadeiro sentido da vida.
Foi o que Jesus ensinou.
Certa vez ele contou a história do agricultor, que resolveu acumular muitos bens
e viver exclusivamente para as coisas imediatas, desprezando o ideal e as
virtudes. Construiu muitos celeiros para
estocar seu trigo e, quando estava no auge de seu projeto, numa noite, quando
menos esperava, Deus o chamou e ele teve que partir desta vida, deixando tudo o
que acumulara. Por esta singela parábola, Jesus alerta para o exagero com que
valorizamos o que é passageiro e esquecemos o que é eterno.
Muitas de nossas famílias
acabam se desfazendo em brigas por causa de dinheiro e de herança, por causa de
inveja e ciúmes, por absoluta falta de humildade, quando deveríamos aprender a
cultivar respeito e amor entre nós, usando de paciência e compreensão, sabendo
que aqui estamos para criar ou fortalecer laços espirituais. No entanto, vivemos
discutindo e nos desentendendo por coisas banais, esquecendo que o maior valor
da vida humana é o amor – o amor com que devemos nos ligar uns aos outros.
O que verdadeiramente vai
nos ensinar o valor da vida é o exercício do amor entre nós, com o que nos
fortaleceremos para qualquer desafio. Só o cultivo do amor genuíno nos dará a
real convicção de que viver vale a pena, de que a vida tem um sentido muito
mais elevado do que imaginamos. Quando nos esforçamos para a viver bem, no dia
a dia de nossa vida, vivemos com a consciência tranquila e a morte, quando
vier, será apenas uma porta para uma vida melhor.
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