A questão, que vamos tratar agora, surgiu numa de nossas reuniões de estudo no Centro Espírita Caminho de Damasco, e é a seguinte: Por que existem pessoas humildes, semianalfabetas, e que penetram fácil no conhecimento espiritual, enquanto outras, que são estudadas, cultas e diplomadas, não creem nem em Deus?
Acreditamos que o problema está na evolução
espiritual de cada um. Evolução espiritual não quer dizer apenas progresso da
inteligência, no sentido comum que damos à palavra inteligência. Há pessoas de
elevado saber intelectual – cultas, por assim dizer - que, no entanto, são pobres em discernimento;
ao passo que existem outras, sem escolaridade ou quase analfabetas, que
conseguem captar com relativa facilidade a realidade mais ampla da vida.
Estas últimas
parecem intuir mais do que raciocinar. É como se elas tivessem uma antena de
captação de algo que não vem pelos sentidos comuns do corpo, mas dos recônditos
desconhecidos da alma. São mais tranquilas e mais confiantes, porque usam de
discernimento, que é a capacidade de perceber de forma sutil, e sem muito
exame, o que está certo e o que está errado, o que é bom e o que é mau.
A
espiritualidade tem informado que o processo evolutivo do Espírito se dá em
várias direções ao mesmo tempo. A evolução não é uma linha reta, como se fosse
uma escada estreita que a pessoa vai subindo degrau por degrau. Ela se parece
mais com uma rede que pode ser tecida a mão em várias direções. Você tecer mais de um lado do que outro, a escolha
é sua. Desse modo, não é difícil concluir que há Espíritos que crescem mais em
qualidades morais, enquanto outros progridem mais intelectualmente.
Por
outro lado, sabemos que avaliar o cabedal espiritual de uma pessoa apenas por
uma encarnação não é suficiente. Não sabemos qual foi sua trajetória no
passado. É possível que o semialfabetizado de hoje já tenha caminhado o
suficiente no campo do conhecimento e da cultura através das encarnações
anteriores. O fato de ele não se encontrar culturalmente bem servido nesta vida
(muitas vezes, por falta de oportunidade) é apenas uma circunstância da
encarnação, resultado de sua escolha para desenvolver outras qualidades.
Por
outro lado, devemos considerar que existe uma diferença entre o intelectual e o
sábio. O sábio nem sempre é um intelectual, tanto quanto o intelectual nem
sempre é sábio. Sabedoria implica num sentido espiritual mais profundo, que vai
além do raciocínio, pois envolve sentimentos. Das principais características do
sábio destacam-se a humildade e a simplicidade. Contudo, o intelectual pode ser
orgulhoso e vaidoso. O ideal é quando a intelectualidade convive com a
sabedoria.
Sócrates, filósofo grego que viveu no século 5
antes de Cristo, costumava dizer que sábio é aquele que sabe que nada sabe, ou
seja, é aquele que conhece suas limitações e sua ignorância, até porque o saber
não tem limites e, portanto, ninguém é perfeito. Segundo Sócrates é possível
encontrar conhecimentos na alma de uma pessoa aparentemente ignorante. Ele
criou um método para isso, que chamou de maiêutica, e que consiste, através de
diálogo, em levar a pessoa a descobrir o quanto ela sabe e o quanto não sabia
que sabia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário