faça sua pesquisa

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

SERÁ POSSÍVEL? ALLAN KARDEC DIZ QUE SIM; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR


Pode uma pessoa praticar mais mal numa existência que em sua encarnação precedente? Em artigo com que abre a edição de junho de 1863 da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec afirma que sim.  Parte do princípio da não retrogradação do Espírito, explicando o retrocesso se dá no sentido de nada perderem do progresso realizado, podendo ficar momentaneamente estacionários. Esclarece, todavia, “que de bons não podem tornar-se maus, nem sábios, ignorantes. Tal é o princípio geral, que só se aplica ao estado moral e não à situação material, que de boa pode tornar-se má, se o Espírito a tiver merecido. Façamos uma comparação. Suponhamos um homem do mundo, instruído, mas culpado de um crime que o conduz à prisão. Certamente há para ele uma grande descida como posição social e como bem estar material. À estima e à consideração sucederam o desprezo e a abjeção. Entretanto ele nada perdeu quanto ao desenvolvimento da inteligência; levará à prisão as suas faculdades, seus talentos, seus conhecimento. É um homem decaído e é assim que devem ser compreendidos os Espíritos decaídos. Deus pode, pois, ao cabo de certo tempo de prova, retirar de um mundo onde não terão onde não terão progredido aqueles que o tiverem desconhecido, que se tiverem rebelado contra as suas leis, mandando que expiem seus erros e seu endurecimento num mundo inferior, entre seres ainda menos adiantados. Aí serão o que eram antes, moral e intelectualmente, mas numa condição infinitamente mais penosa, pela própria natureza do Globo e, sobretudo, pelo meio no qual se acharem. Numa palavra, estarão na posição de um homem civilizado forçado a viver entre os selvagens ou de um homem educado, condenado à sociedade dos forçados (como nos regimes totalitaristas). Perderam a posição e as vantagens, mas não regrediram ao estado primitivo. De adultos não se tornaram crianças. Eis o que se deve entender pela não-retrogradação. Não tendo aproveitado o tempo, é para eles um trabalho a recomeçar. Em sua bondade, Deus não os quer deixar por mais tempo entre os bons, cuja paz perturbam. Por isso os envia entre homens que terão por missão fazer estes últimos progredirem, ensinando-lhes o que sabem. Por esse trabalho poderão eles próprios adiantar-se e se resgatarem, expiando as faltas passadas, como o escravo que pouco a pouco economiza para um dia comprar a liberdade. Mas como o escravo, muitos só economizam dinheiro, em vez de amontoar virtudes, as únicas que podem pagar o resgate. Esta tem sido, até agora, a situação de nossa Terra, mundo de expiação e prova, onde a raça adâmica, raça inteligente, foi exilada entre as raças primitivas inferiores, que a habitava antes. Tal a razão pela qual há tantas amarguras aqui, e que estão longe de sentir no mesmo grau os povos selvagens. Há, certamente, retrogradação do Espírito no sentido de que recua seu caminho, mas não do ponto de vista de suas aquisições, em razão das quais e do desenvolvimento de sua inteligência, sua derrota social lhe é mais penosa. É assim que o homem do mundo sofre mais num meio abjeto do que aquele que sempre viveu na lama”. Mais à frente, indaga: -“Nero pode, como Nero, ter feito mais mal que na sua precedente encarnação? A isto respondemos sim, o que não implica que na existência em que tivesse feito menos mal fosse melhor. Para começar, o mal pode mudar a forma sem ser pior ou menos mal. A posição de Nero, como Imperador, o tendo posto em evidência, o que ele fez ficou mais notado; numa existência obscura podia ter cometido atos tão repreensíveis, posto que em menor escala e que passaram desapercebidos. Como Soberano pode incendiar uma cidade; como pessoa comum pôde queimar uma casa e fazer perecer a família. Tal um assassino vulgar, que mata alguns viajantes para roubar, se estivesse no trono seria um tirano sanguinário, fazendo em grande escala o que a posição só o permite em escala reduzida. Considerando a questão de outro ponto de vista, diremos que um homem pode fazer mais mal numa existência que na precedente, mostrar vícios que não tinha, sem que isto implique uma degeneração moral. Muitas vezes são as ocasiões que faltam para fazer o mal, quando o princípio existe latente; vem a ocasião e os maus instintos se revelam. A vida comum nos oferece numerosos exemplos: certo homem, que era tido como bom, de repente revela vícios que ninguém suspeitava, e que causam admiração. É simplesmente porque soube dissimilar ou porque uma causa provocou o desenvolvimento da má inclinação”.


Dra. Vera Lúcia Gonçalves, nos fez a seguinte solicitação. “Gostaria de saber se o caso do menino Bernardo, covardemente assassinado – ao que tudo indica, pela madrasta com a conivência do próprio pai – é um caso de resgate de dívidas do passado.”
Aí está uma situação decisiva para que venhamos a saber onde assentar as nossas crenças. Uma criança de 11 anos, cuja mãe até agora foi dada como suicida, tem uma experiência de vida muito difícil em companhia do pai e da madrasta e, no final, aparece morta, tendo o corpo enterrado num matagal. Do ponto de vista humano, um ato de crueldade que nos faz estarrecer!
  Há, pelo menos, três hipóteses para explicar essa tragédia. A primeira é a hipótese materialista: segundo ela, Deus não existe, não há vida depois da morte e muito menos antes desta vida. Tudo se acaba com a morte. Logo, segundo este ponto de vista, o que aconteceu foi uma grande injustiça contra uma criança indefesa, o que jamais será reparado. Mesmo que se prendam os culpados, isso não devolverá a vida dessa criança, que continuará em nossa memória como a grande injustiçada, por ter tido a má sorte de nascer justamente naquela família.
 A segunda hipótese é aquela que é aceita pelas religiões tradicionais: Deus existe. Existem também o céu e o inferno. A criança, que foi assassinada, vai para o céu; seus assassinos vão para o inferno. E, assim, Deus resolve o problema, aplicando sua implacável justiça. Como a vida é única, segundo essa crença, o Bernardo, que nunca foi adulto e que por isso nunca teve oportunidade de demonstrar se seria uma boa ou uma má pessoa ( e que viveu apenas 11 anos na Terra) vai ser premiado para toda a Eternidade, simplesmente pelo fato de ter sido vítima e não pelo bem que poderia fazer se crescesse e chegasse à idade adulta.
  Do outro lado estão seus assassinos que vão para o sofrimento eterno, segundo essa crença. E isso  pelos graves erros que cometeram. No entanto, se eles tivessem sido mortos quando ainda eram crianças ( assim como o Bernardo), não chegariam a cometer o horrendo crime e, portanto, não iriam para o inferno. Neste caso – conclusão lógica -  seria melhor que fossem sacrificados na infância para ganharem também o céu.
 Veja, portanto, que incongruência e como não pode haver justiça nisso!... Que lei  é essa? A simples condição de morrer criança ou de chegar à idade adulta pode definir o destino de uma pessoa, concedendo-lhe a felicidade ou o sofrimento para toda a eternidade. Então, perguntamos: Não seria melhor que os assassinos tivessem morrido na infância, talvez e de modo violento, para ganhar o céu?
 Vamos, agora, para a terceira hipótese – que é a explicação espírita.  Segundo ela, nada acontece por acaso. Todos temos muitas encarnações na Terra. Trazemos problemas que advém do passado. Por isso, quando o sofrimento não decorre de causas atuais, certamente têm raízes em vidas anteriores. Não é Deus que salva ou condena. Deus tem suas leis, que regulam o universo e que, portanto, estão presentes em nossa vida. Cada um de nós constrói seu próprio destino, aproximando-se ou distanciando-se dessas leis - e colhendo o que semeou.  Desse modo, ainda que de forma trágica e repugnante, o que aconteceu para Bernardo não foi por acaso.  O ato que seus algozes cometeram, com certeza, são reprováveis e condenáveis, porque ferem a lei do amor e, certamente, essa violência se voltará contra eles, como um choque de retorno. Permanecerão vivos na consciência de cada um, até que respondam pelo que fizeram, mais cedo ou mais tarde, nesta vida ou em vida futura. Como seres imperfeitos que somos, estamos sujeitos a cometer graves erros, tanto quanto a sermos vítimas daqueles que podem agir contra nós.

 













Nenhum comentário:

Postar um comentário