A consulta foi objeto de
matéria na REVISTA ESPÍRITA, edição
de maio
de 1858. Um assinante da mesma expôs duvida originada na comunicação
espiritual do Espírito de sua esposa com que manteve harmônico relacionamento
ao longo de vários anos, com o qual tivera seis filhos. Aproximando-se de grupo
praticante das comunicações interdimensionais, descobrira que sua querida
esposa encontrava-se feliz no Plano Espiritual, trabalhando pela felicidade dos
que deixara em nossa Dimensão. Ocorre que num dos contatos estabelecidos,
ouvira da esposa que a bondade e a honestidade que os caracterizava tinha sido
a responsável pela convivência equilibrada, visto nem sempre terem o mesmo
ponto de vista nas diversas circunstâncias da vida em comum, não sendo,
todavia, metades eternas, união rara na Terra, embora pudessem ser encontradas.
Indagada sobre se via sua metade eterna, respondeu que sim, estando encarnado
como um pobre diabo na Ásia, devendo se reunir novamente na Terra mesmo, só daí
a 175 anos, segundo o calendário terreno. Sugeriu então ouvisse duas entidades
de nome Abelardo e Heloísa sobre a questão que
afirmaram estar ligados desde Eras remotas, amando-se profundamente, embora
conservando sua individualidade, unindo-se pela Lei da Afinidade, sem
conotações sexuais, visto que na essência essa característica não existe. Em
seus esclarecimentos informaram ainda que não existem almas criadas duplas; ser
impossível duas almas reunir-se na Eternidade formando um todo; que ambos desde
sua origem eram duas almas perfeitamente distintas, embora sempre unidas; que
as criaturas humanas acham-se nas mesmas condições conforme sejam mais ou menos
perfeitos; sobre as almas serem destinadas a um dia se unirem a uma outra, que cada
Espírito tem a tendência para procurar um outro Espírito que lhe seja
semelhante, fenômeno denominado simpatia. O desejo do missivista por maiores
esclarecimentos sobre a Teoria das Metades Eternas foi submetido por Allan
Kardec ao dirigente espiritual das reuniões da Sociedade Espírita de Paris,
através de sete perguntas, respondidas da seguinte forma: 1- Inexiste a figura da metade
predestinada desde sua origem a se unir fatalmente. Não existe uma união
particular, mas em graus diferentes, segundo a posição que ocupam, isto é,
segundo a perfeição adquirida: quanto mais perfeitos, mais unidos. Da discórdia
brotam todos os males humanos; da concórdia, a felicidade completa. 2- A
expressão metade é inexata. Se um Espírito fosse metade de outro e dele separado,
seria incompleto. 3- Todos os Espíritos que chegaram à perfeição, estão unidos
entre si. Nas Esferas Inferiores, quando um Espírito se eleva não é mais
simpático àqueles que deixou. 4- A simpatia que atrai um Espírito para outro
resulta da perfeita concordância de suas inclinações e de seus instintos. Se um
devesse completar o outro, perderia sua individualidade. 5- A identidade
necessária à simpatia perfeita não consiste na similitude de pensamentos e de
sentimentos nem na uniformidade de conhecimentos adquiridos, mas na igualdade
do grau de elevação. 6- Os Espíritos que hoje não são simpáticos poderão sê-lo
mais tarde. Todos, o serão. Assim, o Espírito que hoje se acha em tal Esfera
inferior alcançará, pelo aperfeiçoamento, a Esfera onde reside o outro. Seu
encontro dar-se-á mais prontamente se o Espírito mais elevado, suportando mal
as provas a que se submeteu, demorou-se no mesmo estado. 7- Dois Espíritos
simpáticos poderão deixar de o ser, se um deles for preguiçoso. Comentando
o apurado, Allan Kardec acrescenta: -“A Teoria das Metades Eternas é uma figura
referente à união de dois Espíritos simpáticos; é uma expressão usada mesmo na
linguagem comum, tratando-se dos esposos, e que não se deve tomar ao pé da
letra. Os Espíritos que dela se serviram certamente não pertencem a mais alta
ordem: a Esfera de seus conhecimentos é necessariamente limitada e eles
exprimiram o pensamento em termos de que teriam se servido na vida corpórea. É,
pois, necessário rejeitar esta ideia de que dois Espíritos, criados um para o
outro, um dia deverão unir-se na Eternidade, depois de terem estado separados
durante um lapso de tempo mais ou menos longo”. O resultado obtido com
a consulta, está incluído da edição definitiva d’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS, das questões 291 a 303a, publicado em 1860. Como se vê, a tese das chamadas “almas
gêmeas”, encontra objeção não só nos argumentos apresentados pelos
Espíritos Abelardo e Heloísa, como nos de São
Luiz, sensata e sobriamente comentados por Allan Kardec. A
sustentação de tal teoria naturalmente resulta da falta de um estudo mais
aprofundado e meditado do conteúdo do Espiritismo sobre a questão evolutiva do
Ser.
“Após
a morte, o que acontece com uma pessoa que matou uma criança?” – pergunta
formulada pela ouvinte Carmen Scarparo Marion.
Evidentemente, a sensação de quem assassinou uma criança e adentra o
mundo espiritual, deve ser muito desagradável, Carmen. Contudo, cada caso se
reveste de características próprias e não nos cabe julgar. O problema de um
crime dessa natureza, principalmente se revestido de requintes de crueldade, é
o sentimento de culpa que deve aflorar da consciência do assassino, e isso pode
acontecer aqui na Terra, antes mesmo de sua desencarnação.
Essa
culpa deverá tortura-lo e será tanto maior quanto mais exigente sua
consciência. Nenhum de nós, na sua plena capacidade de raciocínio, se sentiria
bem consigo mesmo, após ter prejudicado um ser indefeso como a criança, quanto
mais pelo fato de ter-lhe roubado a vida. No mínimo, quando não fôssemos muito
exigentes em termos morais, ficaríamos incomodados com um grito interior, pois,
bem lá no fundo da consciência, temos a noção do que é certo e do que é errado,
do que fizemos de bem e do que fizemos de mal.
Os
Espíritos disseram a Kardec que as leis de Deus estão em nossa consciência. Natural,
portanto, que os criminosos infanticidas procurem driblar sua consciência moral
para não terem que encará-la, pois a culpa tende a se agravar com o tempo. Para
isso, eles procuram se esconder de si mesmos, disfarçando bem-estar, e
procurando se convencer que seu ato não foi tão grave assim. Pura ilusão. No
fundo, esse grito de consciência não se cala e, ainda que momentaneamente abafado,
ecoa de sua casa mental como um elemento perturbador de sua paz interior.
Podemos fugir da justiça humana, mas não engamos a Justiça Divina.
A
morte do corpo deixa livre o Espírito para uma novo tipo de experiência no
mundo espiritual. Não estando mais preso às necessidades físicas e nem
diretamente envolvido com os problemas terrenos, cada um se depara com uma
realidade consciencial mais viva e mais atuante, como se colocasse à sua frente
um espelho onde ele vai ficar contemplando a própria alma. Mas, assim mesmo,
depende de quanto o Espírito já amadureceu para a realidade da vida. Quanto
mais desperto, mais sofre: sofre a dor do arrependimento e sofre mais a necessidade
de querer reparar o erro cometido.
Estamos falando em termos teóricos, Carmen,
pois cada caso é um caso, cada consciência uma consciência, cada dor uma dor A
verdade é que, quanto mais o Espírito vai crescendo em compreensão das leis da
vida, mais ele sofre o remorso pelos erros que não conseguiu evitar. Desse modo
quem não sofre agora vai sofrer depois, quem não suporta o peso da culpa nesta
vida, deverá suportá-lo na vida espiritual ou em outra existência. Só a
oportunidade de nova encarnação é que vai lhe propiciar a oportunidade de
tentar reparar o erro que cometeu e isso pode acontecer nas mais variadas
condições.
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