Se a educação dos filhos é tão importante assim, como vocês explicam que maus filhos podem nascer em boa família e bons podem nascer em famílias desestruturadas? (Silvia Maria)
As
religiões, de um modo geral, nos passaram uma visão mágica e fantasiosa da vida
espiritual. Elas ensinaram que, além desta vida, o domínio total é de Deus – ou
seja, tudo que acontece depois é Deus que faz, é Deus que determina. Isso para
diferenciar o que aconteceria do nosso lado, aqui na Terra, onde é o homem e
não Deus que está à frente das decisões. Dentro desta perspectiva, o mundo
espiritual seria como um domínio onde tudo se resolve de forma milagrosa.
Não é
assim que o Espiritismo concebe a vida além desta vida. Não há uma barreira
intransponível entre uma realidade e outra; pelo contrário, a vida espiritual é
uma continuidade da vida terrena. A única diferença é que lá não temos este
corpo, mas cada continua sendo ele mesmo. Tanto lá, como aqui, há os bons e os
maus, os esclarecidos e os ignorantes, os felizes e os infelizes,
principalmente quando nos referimos ao mundo espiritual muito próximo nós,
aquele que André Luiz chama de Crosta Terrestre, com o qual estamos em
permanente contato,
Num
sentido amplo e geral, Silvia, realmente tudo é de Deus, tudo está em Deus –
até mesmo esta vida que estamos vivendo e tudo que nela acontece. No entanto,
Deus governa o mundo através de suas leis, conforme lemos na questão 964 de O
LIVRO DOS ESPÍRITOS. Desse modo, nem aqui na Terra, nem no mundo espiritual, as
coisas caminham de uma forma perfeita sob o nosso ponto de vista, pois a
solução dos problemas depende do nível evolução dos Espíritos que são os mais
variados.
A
reencarnação é o instrumento pelo qual os Espíritos vão alcançando uma condição
cada vez melhor, de acordo o ritmo de progresso de cada um: alguns mais rápido,
outros mais lentamente. Logo, nem sempre um determinado Espírito reencarna onde
quer, mas para onde ele é atraído ou junto daqueles com quem mais se
identifica. Todos vivemos em função de muitas influências. Seria muito simples se
o Espírito pudesse trilhar o caminho mais curto para sua recuperação. Mas tanto
aqui, quanto no plano espiritual, o que funcionam são as leis da vida, e as
leis da vida nem sempre atendem às conveniências de cada um. O mérito é
pessoal, as conquistas também.
O fato
de um Espírito de má índole renascer num lar desestruturado acontece por causa
de sua condição moral, da mesma forma que o de boa índole tende a buscar uma
família com que se afina. É por isso que existe a lei da solidariedade, pois
enquanto os habitantes da Terra não despertarem a consciência para o
compromisso que têm com as famílias desestruturadas, continuarem a enfrentar o
problema da marginalidade e da delinquência.
Quando Jesus recomendou a prática do bem, foi
no sentido de que pudéssemos ajudar uns aos outros a alcançar o tão sonhado
Reino de Deus que, nada mais é, do que a felicidade. A sociedade humana precisa
despertar para isso. Não se trata de religião, mas de ação no bem, a que todas as
religiões deveriam se voltar, pois o bem está acima de todas as crenças. Mais do que as religiões, a própria sociedade
– através de suas instituições - deverá despertar para os verdadeiros princípios
que dignificam o ser humano e, entre esses está a fraternidade.
Enquanto existirem famílias marginalizadas na
Terra, haverá um desequilíbrio social que põe em risco a paz e a segurança da
própria sociedade. Logo, está na hora de aqueles Espíritos, que reencarnam em
famílias estruturadas e que, portanto, gozam de uma condição melhor, possam
idealizar e realizar uma grande maratona em torno das graves questões sociais
que comprometem a humanidade em vários pontos do mundo. Somente assim vão
ajudar os que estão atrás, da mesma forma de que precisamos da ajuda daqueles
que já se encontram à nossa frente.
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