Temos aqui outra pergunta da Laura Beatriz Bancchieri: “ O Espiritismo concorda que, na sexta-feira santa, não se deve comer carne?”
Diretamente, o Espiritismo não tem o que dizer
sobre esta questão, Laura, porque se trata de uma prática muito antiga, que faz
parte da liturgia católica, muito enraizada no espírito do povo brasileiro.
Portanto, o Espiritismo respeita os que levam essa prática a sério –
principalmente se as pessoas, que assim fazem, estão compenetradas de que estão
fazendo um grande bem - e, portanto, nada tem contra quem come ou não come
carne na semana santa.
A semana santa foi introduzida pela Igreja
como parte da celebração de seu calendário litúrgico, em que se acredita que a
abstenção da carne é um sinal de respeito pelo martírio e morte de Jesus. Os
judeus, desde a antiguidade, também instituíram o jejum, o dízimo e outras
obrigações religiosas, mas a Doutrina Espírita não adota nenhuma proibição,
pois entende que as pessoas devem ser livres quando à suas decisões e quanto
aos seus atos, e aceitarem apenas aquilo de que elas realmente estão
convencidas.
O ideal talvez seria que as pessoas não se
alimentassem de carne em momento algum. Primeiro por respeito e amor aos
animais e, em segundo lugar, pela preservação da própria saúde, além de
contribuir para o preservação do meio-ambiente. Mas a Doutrina Espírita não
impõe a ninguém o dever de se abster da carne, deixando que cada qual,
invocando os valores de sua própria consciência moral, decida por si mesmo o
que deve fazer, sabendo que assume toda responsabilidade no que faz.
Além disso, como dissemos, questões dessa
natureza fazem parte de uma tradição religiosa e social antiga que, na maioria
das vezes, não contribui em nada para que as pessoas se tornem mais humanas,
mais solidárias e fraternas. O próprio Jesus, cujos ensinamentos ecoam por todo
o mundo até hoje, lembrou muito bem no seu tempo que não é o que entra pela
boca que contamina o homem, mas o que saí da boca do homem – ou seja, ele
estava mais interessado na mudança do caráter, no melhoramento moral das
pessoas e não propriamente nas formas exteriores de adoração.
Desse modo, Laura, não está em
pauta esta discussão no meio espírita, não existe essa preocupação específica
do espírita em se submeter a algum sacrifício apenas por devoção. Para a
doutrina, os únicos sacrifícios que realmente compensam são aqueles que fazemos
em benefício do semelhante ou da humanidade e, para isso, não tem lugar nem
hora, conforme Jesus ensinou. Todavia,
respeitamos todos aqueles que, por espírito de devoção, age com o
coração sincero, na certeza de que está fazendo um grande bem.
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