Vocês
falam sobre a necessidade da oração para que Deus nos proteja. Conheço pessoas
religiosas, que rezam muito, e vivem com mais problemas do que outras que nem
religião têm e que, às vezes, nem acreditam em Deus. Como vocês podem explicar
isso? (Ailton, Vila Mariana)
Interessante sua observação, Ailton. Todavia,
precisamos examinar esta questão com mais critério. Os Espíritos disseram a Kardec
que a maior defesa pessoal está em nosso caráter e não propriamente no fato de vivermos
orando ou não, tampouco o fato de pertencermos a esta ou àquela religião. Jesus contou a parábola do fariseu e do
republicano – o primeiro, religioso fervoroso; o segundo, considerado
materialista e ganancioso, quase-ateu. Quando buscaram Deus, num momento de
necessidade, foi o publicano ( e não o fariseu) que saiu justificado.
Esta aparente contradição, que Jesus tão
propositadamente contou para chocar os religiosos de seu tempo, quer mostrar
que é a prática da vida – ou seja, o nosso dia a dia no relacionamento uns com
os outros – e não os nossos atos de adoração, que determina a nossa condição
espiritual. Os fariseus eram os mais religiosos; Jesus, porém, os combateu
acintosamente, mostrando – como ele mesmo afirmou que “não é aquele que vive
dizendo Senhor! Senhor! que ganhará o Reino dos Céus, mas somente aquele que
faz a vontade do Pai”.
Reino dos Céus é sinônimo de paz, de
felicidade, de júbilo com a vida. E essa condição só é alcançada, Ailton, para
quem traz a consciência tranquila, para as pessoas honestas e sinceras, que
sabem como respeitar e como amar seus semelhantes. Qual é a vontade do Pai? Que
passemos a viver de oração? Certamente que não! Deus não suportaria que nos
transformássemos em eternos pedintes. Sua vontade é que cresçamos para a vida e
possamos fazer parte de seu plano de amor.
Desse modo, Ailton, é bem possível que uma
pessoa sem religião e até mesmo um ateu, que diz não acreditar na imortalidade
( e, portanto, não visa a nenhum interesse pessoal na vida futura), faça o bem
pelo bem, seja uma pessoa de bem, um bom familiar, um bom amigo e um bom
cidadão. Este individuo, portanto, já faz a vontade de Deus (mesmo não
acreditando em Deus) e, por isso, tem uma proteção natural e consegue viver com
mais serenidade, por trazer paz de consciência, sentindo-se bem consigo mesmo.
Então,
para que serve a oração? Você perguntaria. Não foi Jesus que a ensinou? A prece
ou oração tem um valor inestimável, mas como tudo, que é bom, a prece tem seu
papel quando é dita de coração e não apenas da boca para fora. Ela não serve
para que Deus venha resolver nossos problemas, mas, sim, para que nos ajude a resolvê-los. E como que
isso acontece: a quando a oração é sincera, ela traz paz e reconforto à alma e
nos fortalece diante da dificuldade, fazendo com que possamos descortinar
soluções.
Mas
não basta orar: é preciso, sobretudo
agir no bem. Dirigindo-se ao povo sofrido, ele colocou a oração em segundo
plano e nossas ações em primeiro lugar. Por essa razão ele foi tão claro e tão
incisivo em suas recomendações, quando falou da necessidade de amar aqueles que
nos cercam e amar até mesmo aqueles que não nos querem bem. A prece deve ser
aquele momento em que cada um se volta para dentro de si mesmo, no silêncio de
sua alma, buscando melhorar-se através desse contato com Deus.
Muita
gente, quando ora, imagina Deus no céu ou à distância, quando na realidade Deus
está em nós, pois Deus está em tudo e em todos. Orar é sentir essa presença e
esse amor que nos envolve e nos estimula a amar mais ainda. É buscar essa
conexão com a paz, entendendo de que a presença de Deus é constante em nossa
vida, porque Ele é a essência da vida, a razão e a finalidade de nossa
existência.
Sobre oração vamos encontrar interessantes e
oportunos apontamentos nas obras espíritas em geral, mas principalmente nas
obras de Allan Kardec. N’O LIVRO DOS ESPÍRITOS há todo um capítulo dedicado à
prece: chama-se Lei de Adoração. N’O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO há, pelo
menos, os quatro últimos capítulos abordam esta questão. Orientações claras
estão, principalmente, nos capítulos “Buscai e Achareis” e “Pedi e Obtereis”.
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