(Laura Beatriz Bancchieri) Por que as pessoas conseguem lembrar de vidas
passadas quando submetidas à TVP? Isso não viola as leis da natureza que nos
faz esquecer o passado?
Explicando para os demais leitores, TVP é a
sigla de Terapia de Vidas ou de Vivências Passadas, através da qual o paciente
com transtorno emocional perturbador é levado a recordar fatos de encarnações
anteriores, que possivelmente tenham provocado os problemas que está passando
atualmente. Neste caso, o psicoterapeuta, mediante uma técnica de regressão
mental, leva o paciente ao estado de transe ou de consciência alterada para ter
acesso a tais informações.
A
Laura está perguntando se a utilização dessa técnica não contraria as leis da natureza,
uma vez que não recordamos do passado, justamente para nos preservar de
situações pretéritas que nos acarretariam mais problemas, como temos aprendido
no Espiritismo. Por exemplo, um filho não deve lembrar que foi vítima daquele
que atualmente é seu pai, a fim de que nesta encarnação o Espírito que o
prejudicou no passado possa de se redimir do mal que lhe causou através do amor
paternal e possa haver a tão esperada reconciliação de adversários.
A
pergunta da Laura é bem oportuna neste caso e revela bom discernimento. Todavia,
talvez não seja tão simples respondê-la; não se trata de dizer simplesmente que
a TVP é recomendável ou não é recomendável. Existem outras implicações.
Primeiro, precisamos deixar claro que a TVP não surgiu no meio espírita.
Trata-se de uma técnica que veio dos Estados Unidos através do psicólogo Morris
Northeton, que afirma tê-la utilizado com sucesso em seu país no tratamento de
transtornos emocionais. No Brasil ela teve bom acolhimento, principalmente por
parte dos espíritas, porque a TVP confirma a reencarnação.
Ao que sabemos, Laura, as vidas passadas caem
no esquecimento desde que reencarnamos, e por várias razões. Primeiro, porque o
Espírito assume um novo corpo, cujo cérebro nada tem a ver com o seu cérebro da
vida anterior e, portanto, não traz as lembranças de outra vida. Segundo,
porque o esquecimento é um fenômeno mental muito comum em nossa vida;
esquecemos à medida que vamos vivendo, pois a mente usa dessa estratégia para
sua própria defesa, procurando apagar aquilo que não mais interessa ou que
seria danoso para a nossa vida mental.
Ora,
se o esquecimento se dá numa mesma encarnação, como defesa da mente, com maior
forte razões acontece em relação a vidas
anteriores, pois nossa mente, além não suportar tantas lembranças, seria
agredida por muitas delas. No entanto, existem casos, embora raros, de
pessoas (especialmente crianças), que
podem penetrar naturalmente em recordações de vidas anteriores. Os
pesquisadores de reencarnação geralmente trabalham com crianças.
Esporadicamente, há também revelações mediúnicas, dentro do centro espírita,
que ajudam pessoas a aceitarem seus sofrimentos, quando lhe são revelados fatos
comprometedores do passado.
A TVP, em tese, também seria uma ajuda psicológica
para que o paciente, retornando a algum fato de vida anterior, possa refazer as
más impressões desse fato que traz no seu inconsciente profundo que, por um
motivo ou outro, está lhe incomodando. As lembranças do passado, de um modo
geral, não seriam recomendáveis, mas talvez seja possível, utilizando a técnica
da TVP, buscar no passado somente memórias pontuais, localizadas, que precisam
ser reformuladas.
O
problema, com certeza, não está na TVP em si, mas no conhecimento que o
terapeuta tem de reencarnação e principalmente de Espiritismo. Assim mesmo,
parece-nos muito delicado tocar nessas questões. Exigiria não apenas uma boa
técnica de regressão, mas uma habilidade especial e até mesmo uma mediunidade
apurada do próprio terapeuta, a fim de que possa discernir o que é conveniente
ou não, se deve ou não aplicar a TVP em qualquer paciente.
De
nossa parte, Laura, não vemos que TVP em si ou qualquer outra técnica
psicanalítica fira as leis da natureza. Pelo contrário, elas tentam auxiliar a
natureza no funcionamento de suas leis, para que o paciente seja beneficiado.
No entanto, como toda terapia, psicológica ou médica, está sujeita a erros, do
mesmo modo que uma cirurgia invasiva, praticada por profissionais habilitados,
pode muitas vezes provocar a morte ao invés de salvar a vida do paciente.
Ademais, precisamos considerar ainda que a
TVP não desvenda todo um passado. O que ela pretende é a cura do paciente, do
mesmo modo que uma cirurgia não retalha todo o corpo, mas somente a região que
está sendo afetada pela doença. Desse modo, o paciente de TVP, durante um
trabalho de regressão de memória, poderá obter algumas poucas informações de
sua vida pregressa, mas isso está muito longe de ela conhecer de fato todo o seu
passado.