Riqueza, inteligência, beleza e autoridade segundo se deduz de casos mostrados pelo Espírito André Luiz, através do médium Chico Xavier no livro MISSIONÁRIOS DA LUZ (1945, feb), são experiências em meio às quais dificilmente se consegue manter o equilíbrio. Exemplo da veracidade dessa afirmação pode ser encontrado no número de outubro de 1859 da REVISTA ESPÍRITA. Na seção Palestras Familiares de Além Túmulo, Allan Kardec reproduz, primeiro, a entrevista desenvolvida na reunião de 2 de setembro daquele ano, na Sociedade Espírita de Paris com o Espírito de um morador de Lyon, conhecido pela alcunha de Père Crépin, cuja morte fora noticiada por jornais locais. Considerado milionário era conhecido também pela avareza incomum. Nos últimos tempos de sua vida, passou a morar com um casal de nome Favre, que, além de abriga-lo, assumira a obrigação de alimentá-lo mediante ínfima importância, deduzida de aluguel com que lhes remunerava. Possuía nove casas, morando anteriormente numa delas, numa espécie de nicho que mandara construir debaixo da escada. No momento de anunciar o aluguel a locatários, arrancava os cartazes das ruas, os utilizando para suas contas. A determinação municipal que prescrevia a caiação periódica das casas lhe acarretava tremendo desespero; causando desentendimentos pelo seu intento de obter uma exceção, o que se mostrou inútil. Gritava estar arruinado, dizendo que se resignaria se tivesse uma única casa, acrescentando ter nove. Nas 21 perguntas a ele dirigidas, ao confirmar sua presença, exasperado, questionava se a intenção da evocação seria apropriarem-se de seu dinheiro que, por sinal, não via; dizia-se com saudades da vida terrena por não mais poder tocar, contar e guardar seu dinheiro; que quando vivo nunca pensara que não levaria nada deste mundo, tendo como ideia fixa o acúmulo de riquezas, não cogitando que se separaria delas; que o motivava era a volúpia de tocar suas posses, sentindo imenso prazer em fazê-lo, não tendo outra paixão na Terra; compreendendo agora que era um miserável, embora sentindo prazer em ver seu ouro, embora não podendo apalpá-lo, o que representava uma punição no vida em que se via; que não experimentara nenhum sentimento de piedade pelos infelizes que sofriam na miséria; que sabia ter sido um pastor, muito infeliz no corpo, mas feliz de coração em existência anterior à que terminara; que o primeiro pensamento ao saber-se no Mundo dos Espíritos, foi o de procurar suas riquezas, sobretudo o ouro, sentindo-se muito infeliz, coração dilacerado e, ao mesmo tempo remorso, parecendo-lhe que quanto mais o tempo passar, mais sofrerá por sua avareza terrestre; que reconhecia ter sido inútil a vida terminada para seus semelhantes; que não tivera amigos na Terra que, por sinal não pedira, merecendo o apoio apenas do seu Anjo da Guarda na realidade em que se vê; que sua mãe o recebera na reentrada no Mundo Espiritual; que construíra sua fortuna um pouco legalmente, mas explorara muito e roubara um pouco dos seus semelhantes. Na reunião da semana seguinte, nove de setembro, Allan Kardec consulta o dirigente espiritual dos trabalhos da Sociedade Espírita de Paris, a respeito das informações obtidas, apurando o seguinte: 1- Sobre o perfil de Père Crépin e a revelação de ter sido pastor em vida pregressa, ouve que “ele era ignorante, inexperiente; pediu a riqueza; ela lhe foi concedida, mas como punição a seu pedido; o que dificilmente repetiria”. 2- Focando a característica da avareza, Allan Kardec indaga: -“Há pessoas que não são avarentas senão para com os outros. Qual é o mais culpável: aquele que acumula pelo prazer de acumular e se priva até do necessário ou aquele que, de nada se privando, é avaro quando se trata do menor sacrifício para o próximo?, obtendo como resposta: -“É evidente que o ultimo é mais culpado, porque é profundamente egoísta. O primeiro, é lógico”. Finalmente, uma questão que, certamente, muitos se fazem: - “Nas provas que deve sofrer para chegar à perfeição, deve o Espírito passar por todos os gêneros de tentação, e poder-se-ia dizer que para Père Crépin a vez da avareza chegou por meio das riquezas que estavam à sua disposição e que ele sucumbiu?”. –“Isto não é regra geral, mas é exato no seu caso particular. Sabeis que há muitos que desde o começo tomam um caminho que os liberta das provas”. A regra geral, contudo, conduz as individualidades sob o controle do determinismo até que o amadurecimento permita ao Ser interferir no planejamento de futuras existências. Enquadram-se na situação exposta por Allan Kardec num dos números da REVISTA ESPÍRITA: -“Não é, pois, nem após a primeira, nem após a segunda encarnação que a alma tem consciência bastante nítida de si mesma, para ser responsável por seus atos; talvez só após a centésima ou milésima”.
Um leitor,
que telefonou, pedindo para não ser identificado, fez a seguinte pergunta: “O
que é preciso fazer para ser espírita?”
É
claro que, a primeira condição, é que você aceite os princípios básicos da
Doutrina Espírita como verdade. Quais são eles?
A existência de Deus, a continuidade da vida após a morte, a
comunicabilidade dos Espíritos, a reencarnação (e, por consequência, a evolução espiritual), a fé raciocinada, a pluralidade
dos mundos e, por fim, o ideal espírita – que é a transformação moral do homem
a partir da vivência e da prática do bem, como Jesus ensinou.
A questão, no entanto, não é apenas aceitar esses
princípios, mas ter chegado à conclusão, pelas vias do raciocínio lógico e do
bom senso, que este é o caminho para a verdade. No Espiritismo não pode haver
lugar para fé cega ou passiva. Assim, de acordo com a filosofia espírita,
ninguém pode ser espírita por comodidade, por pressão ou coação, por medo ou
constrangimento. O que deve levar uma pessoa ao Espiritismo é sua decisão livre
e espontânea. isso fique bem claro!
Assim,
quem aceita o Espiritismo de outro modo, que não seja pela fé racional e pela
livre convicção, acaba desistindo, porque não vai encontrar na Doutrina
Espírita um lugar para uma fé cega ou ingênua. Desse modo, para a pessoa – que
aceita ou quer aceitar o Espiritismo – é
necessário ir um pouco mais fundo no conhecimento da doutrina,
conhecendo as obras de Allan Kardec primeiramente. Se ela tiver dificuldade
para ler, que procure um centro bem orientado, que possa encaminhá-la a um
grupo de estudo.
Desse
modo, não dá para ser espírita apenas por inclinação; é preciso sê-lo por
convicção e, para se ter convicção, é necessário compreender aquilo em que
acredita. Allan Kardec deixou isso muito claro ( no capítulo, d’O EVANGELHO
SEGUNDO O ESPIRITISMO, intitulado “A fé remove montanhas”), quando afirmou que
“para se crer é necessário compreender”, e complementou dizendo o que repetimos
todo início de programa: “Fé verdadeira é somente aquela que pode
encarar a razão, face a face, em qualquer época da humanidade”.
Logo,
como você percebe, embora a Doutrina Espírita (como dizia Kardec) seja um
auxiliar das religiões, pelo fato de comprovar racionalmente a vida após a
morte, ela não se apresenta como uma simples religião – quer dizer, ela não é
apenas objeto de crença, mas de conhecimento. Por isso, o Espiritismo, antes de
apresentar como uma crença religiosa, é acima de tudo filosofia e ciência.
Nisso ele difere das religiões em geral e, ao mesmo tempo, defende o direito de
toda pessoa seguir o caminho que mais atende aos seus anseios e necessidades.
Por
outro lado, inspirando-nos em Kardec, conforme lemos n’ O LIVRO DOS MÉDIUNS,
podemos dizer que há várias categorias de espíritas, mas que os espíritas
verdadeiros são aqueles que, além de trabalhar pela difusão das idéias
espíritas, ocupam-se de atividades em favor do próximo e, por conseguinte, da
própria sociedade. Logo, o espírita, na sua expressão mais elevada, é quem está
engajado em alguma ação ou atividade espírita e que, portanto, não vive isolado
e não guarda o Espiritismo apenas para si mesmo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário