Li numa reportagem que religião é igual futebol. As pessoas ficam
apaixonadas por suas crenças e por isso não dão o braço a torcer. Ter uma
religião é, assim, como torcer para um time que, mesmo perca, o torcedor sempre
vai achar que é o melhor. (Comentário do Adailton)
Paixão tem um componente emocional muito
forte que, quase sempre, extrapola a razão. Está mais para um impulso
instintivo do que propriamente para um sentimento. Os princípios morais não são
os mesmos. E isso a gente pode perceber com clareza no mundo dos esportes. A
simpatia, que uma pessoa tem por um time, pode chegar às raias da loucura,
levá-la a atitudes e condutas de consequências desastrosas para ela e para os
outros.
A paixão é uma modalidade de fanatismo, uma
entrega total da vontade ao sabor das emoções, que corre o risco de cultivar o
egoísmo, alimentar o orgulho, dispensando o raciocínio e o bom senso. Para a
Doutrina Espírita não deve ser esse o sentimento que liga uma pessoa de bom
senso à sua religião, pois o sentimento religioso deve ser algo mais profundo e
mais comprometido com os valores da vida. Não
obstante, o cultivo da religião como paixão que leva ao sentimento de separação
e à violência, tem acontecido de forma desastrosa na história da humanidade.
Quanto desatino, quanta violência em nome de
Deus! Isso veio do passado da humanidade, quando as pessoas se entregavam de
forma total e descontrolada à suas crenças nem sempre racionais e, com isso,
perdiam a capacidade de raciocinar ou de medir as consequências de seus atos.
Basta consultarmos a História – a história antiga, a Idade Média, a Idade
Moderna e até mesmo a Contemporânea – e vamos perceber que até hoje,
infelizmente, existem esses resquícios do passado.
Em pleno século XXI – século da ciência, da
racionalidade e das grandes conquistas sociais - não devemos mais confundir religião com
paixão, porque isso significaria um retrocesso à ignorância e às atrocidades do
passado. Agora a postura deve ser outra. A religião deve ser tão racional
quanto a filosofia, pois a inteligência humana é suficiente para nos esclarecer
que somos iguais perante Deus e perante as leis e que, portanto, religião não
pode ser mais terreno de disputa.
Por outro lado, o que leva uma pessoa a torcer
por um determinado time de futebol é simplesmente a simpatia que tem por esse
time. Neste caso, o único vínculo entre o torcedor e seu clube de preferência é
de ordem emocional. É como o vínculo afetivo que nos liga aos familiares e
amigos, que faz com que os amemos sejam eles quem forem. Na religião é
diferente. A religião teve ter um componente de racionalidade, sem o que ela
não nos propiciará uma fé robusta e inabalável diante das dificuldades da vida.
Allan Kardec, no livro O CÉU E INFERNO,
abordando a questão da vida espiritual, afirma que não basta ao espírita dizer
que crê na vida futura. Mais do que isso, ele precisa saber se isso é verdade.
Apenas crer pode ser somente uma condição que o leva a se acomodar numa
situação e não querer sair de lá, não porque sabe o que está fazendo, não
porque compreende objeto de sua crença, mas porque se nega a pensar sobre isso,
deixando que outros pensem por ele.
Eis porque, do ponto de vista espírita, a
crença é pessoal e, portanto, ninguém
deve pensar pelo outro. E não se pode confundir a paixão por um clube esportivo
com o respeito e o amor pelo seu objeto de fé e devoção. A paixão é instintiva
e apenas emotiva ( pode ser absurda, irracional) , enquanto a religiosidade (mais
do que a religião) deveria ser produto de uma construção intima que cada um vai
conquistando na medida em que aprende a examinar a validade e as consequências
morais de sua fé e de suas obras.
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