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sexta-feira, 27 de novembro de 2020

À FRENTE DO SEU TEMPO; EM BUSCA DA VERDADE COM O PROFESSOR

 No número de dezembro de 1863, da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec inseriu uma mensagem escrita pelo Espírito Francois-Nicolas Madeleine que em sua encarnação terminada um ano antes em Paris, também era conhecido como Cardeal  Morlot em reunião da Sociedade Espírita de Paris na reunião de 9 de outubro expondo seu ponto de vista a respeito do Apóstolo Paulo demonstrar nos fragmentos de cartas por ele escritas à sua época ser um precursor do Espiritismo. Entre suas considerações podemos destacar: -“O grande apóstolo Paulo, que outrora tanto contribuiu para o estabelecimento do Cristianismo por sua prédica poderosa, vos deixou monumentos escritos, que servirão, não menos energicamente, à expansão do Espiritismo. (...) O sopro que passa nas suas Epístolas, a santa inspiração que anima seus ensinos, longe de ser hostil à vossa Doutrina, está cheia de singulares previsões em vista do que acontece hoje. É assim que, na sua primeira Epístola aos Coríntios, ele ensina que, sem a caridade, não existe nenhum homem, ainda que fosse santo, profeta e transportasse montanhas, que se possa gabar de ser um verdadeiro discípulo de Nosso Senhor Jesus Cristo. Como os Espíritas, e antes dos Espíritas, foi o primeiro a proclamar esta máxima que vos constitui uma glória: -Fora da caridade não há salvação! Mas não é apenas por este lado que ele se liga à doutrina que nós vos ensinamos e que hoje propagais. Com aquela alta inteligência que lhe era , tinha previsto o que Deus reservava para o futuro e, notadamente, esta transformação, esta regeneração da fé cristã, que sois chamados a assentar profundamente no espírito moderno, pois descreve, na citada Epístola, e de maneira indiscutível, as principais faculdades mediúnicas, que chama os dons abençoados do Espírito Santo”.  Considerando que o surgimento da Doutrina Espírita dar-se-ia 19 séculos depois, conclui-se ser sua condição espiritual muito além de seu tempo. Ao final da transcrição, por sinal, Allan Kardec inclui alguns trechos da Primeira Epístola aos Coríntios, referendando as palavras de Francois-Nicolas, como por exemplo, “nem toda a carne é uma mesma carne; mas uma certamente é a dos homens, e outra a dos animais; uma das aves, e outra a dos peixes”; ou “e corpos há celestiais, e corpos terrestres; mas uma é por certo a glória dos celestiais, e outra a dos terrestres. Uma é a claridade do Sol, outra a claridade da Lua, e outra a claridade das estrelas; e ainda há diferença de estrela a estrela na claridade; ou ainda“ é semeado o corpo animal, ressuscitará o corpo espiritual. Se há corpo animal, também há o espiritual, assim como está escrito”, e, por fim, “mas digo isto, irmãos, que a carne e o sangue não podem possuir o Reino de Deus, nem a corrupção possuirá a incorruptibilidade”. Raciocinando sobre tais trechos, Kardec escreve:-“Que  pode ser este corpo espiritual, que não é corpo animal, senão o corpo fluídico, cuja existência é demonstrada pelo Espiritismo, o períspirito, de que a alma é revestida após a morte? Com a morte do corpo, o Espírito entra em confusão; por um instante perde a consciência de si mesmo; depois recupera o uso de suas faculdades, renasce para a vida inteligente; numa palavra, ressuscitará com o seu corpo espiritual. O último parágrafo, relativo ao Juízo Final, contradiz positivamente a doutrina da ressurreição da carne, pois diz: a carne e o sangue não podem possuir o Reino de Deus. Assim, os mortos não ressuscitarão com sua carne e seu sangue, e não necessitarão reunir seus ossos dispersos, mas terão seu corpo celeste, que não é corpo animal. Se o autor do Catecismo Filosófico   tivesse meditado bem o sentido destas palavras, teria evitado fazer notável calculo matemático, a que se entregou, para provar que todos os homens mortos desde Adão, ressuscitando em carne e osso, com seus próprios corpos, poderiam caber perfeitamente no Vale de Josafá, sem muito incômodo. Assim, São Paulo estabeleceu em princípio e em teoria o que ensina o Espiritismo sobre o estado do homem após a morte. Mas São Paulo não foi o único a pressentir as verdades ensinadas pelo Espiritismo. A Bíblia, os Evangelhos, os Apóstolos, os Pais da Igreja delas estão cheias, de sorte que condenar o Espiritismo é negar as autoridades mesmas sobre as quais se apoia a religião. Atribuir todos os seus ensinamentos ao demônio é lançar o mesmo anátema sobre a maioria dos autores sacros. Assim, o Espiritismo não vem destruir, mas, ao contrário, restabelecer todas as coisas, isto é, restituir a cada coisa seu verdadeiro sentido”.


Depois que comentamos no Centro a respeito, uma participante dos trabalhos nos pediu falássemos no programa sobre o caso do personagem Leonardo Pires, que aparece no livro ENTRE A TERRA E O CÉU, de André Luiz, recebido pelo médium Francisco Cândido Xavier.  É o que vamos fazer agora.

 Leonardo Pires lutou na Guerra do Paraguai, um conflito bélico que ocorreu na América do Sul entre os anos 1864 e 1870 . Vivendo no acampamento com uma linda mulher, chamada Lola, certa vez se defrontou com um problema, quando percebeu que outro brasileiro, José Esteves, estava interessado na sua mulher e ela, por sua vez, vinha correspondendo ao assédio. Tomado de uma crise de ciúmes, Leonardo armou uma cilada para o rival, quando o convidou para uma bebida, fazendo com que ele ingerisse um veneno que o levou à morte.

 O crime passou encoberto devido aos muitos problemas que, àquela altura, minavam a campanha militar do Brasil, de modo que Leonardo ficou impune perante a lei humana. No entanto, logo que tomou consciência da gravidade do crime perpetrado, não só se arrependeu do que fez, como entrou num intenso processo de culpa. Depois disso, assim que retornou da guerra, para fugir à insidiosa cobrança contra si mesmo, conheceu outra mulher e constituiu família, passando a viver como um cidadão honrado, ex-combatente, reconstruindo sua vida, sem contar seu passado a ninguém.

 Contudo, a consciência moral de Leonardo jamais o deixou em paz. Pior que o clima agitado e os horrores da guerra eram as acusações que a consciência movia contra ele mesmo todos os dias. Sua vítima, José Esteves, não lhe saía da mente. Bastava que ele parasse um instante e seu pensamento logo lhe trazia à tela mental a imagem do homem que ele covardemente matou. Via José Esteves durante o dia e, em seus sonhos, durante a noite, quando tinha terriveis pesadelos.

 Mas José Esteves, ao contrário do que muitos podem pensar, embora assassinado por Leonardo, não o assediava; ou seja, Leonardo não era vítima de uma obsessão causada pelo Espírito do rival. Era ele mesmo, Leonardo que, por sua própria culpa e remorso, se obsidiava. Tratava-se de um caso de auto obsessão que sofreu até a velhice. E mesmo depois de desencarnado, já no mundo espiritual, Leonardo continuou sofrendo a implacável perseguição de sua consciência.

 Aflito, desesperado, completamente transtornado, como um louco, Leonardo-espírito foi buscar abrigo na casa de sua neta, a pessoa mais equilibrada da família. Chamava-se Antonina, era viúva e morava com os filhos menores, levando uma vida digna de trabalho e respeito ao próximo. O interessante, neste caso, para o leitor, é que Antonina era o Espírito que, no episódio da Guerra do Paraguai, tinha sido Lola, a mulher de quem Leonardo se apaixonara e que fôra pivô do crime que ele cometera.

 É justamente Leonardo Pires que a equipe de Clarêncio, da qual participava André Luiz, encontrara algum tempo antes na casa de Antonina, largando num canto, chorando e blasfemando, completamente desorientado diante do forte sentimento de culpa que lhe tomava conta da alma. Mais tarde, Leonardo, depois de amargar muito tempo a dor inexorável da culpa, vai reencarnar como filho de Antonina, quando ela vem a se casar com o enfermeiro Mário Silva.

 E, agora, para maior surpresa do leitor do livro ENTRE A TERRA E O CÉU ( de André Luiz), Mário Silva não é senão a reencarnação de José Esteves que Leonardo havia covardemente matado durante a Guerra do Paraguai. O trio -  Lola, José Esteves e Leonardo – retornara à vida no mesmo lar para fazer um pelo outro aquilo que não se fizeram na encarnação anterior. É uma lição de vida, que explica as causas dos problemas e sofrimentos da criatura humana. Quem tiver oportunidade, leia esse livro,  ENTRE A TERRA E O CÉU. Quem já o leu, não deixe de rever e analisar mais profundamente essa fascinante história. Vale a pena.

















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