O nosso Ariovaldo D’Nicolai, mandou-nos
mais uma cartinha com o seguinte pedido: “Qual a diferença entre doutrina,
seita e religião”?
Boa pergunta, Ariovaldo. Aliás, essas são
palavras frequentemente usadas no rádio, na televisão, na mídia em geral. Em
nosso caso, por exemplo, usamos sempre a expressão Doutrina Espírita. Não
falamos em religião espírita e tampouco em seita espírita, porque essas
palavras “Religião” e “seita” não são adequadas para dizer o que é o
Espiritismo. Precisamos, portanto, fazer uma distinção para que o ouvinte
entenda melhor o que queremos dizer.
A
palavra “doutrina” vem do latim, “dôcere”, e quer dizer ensinamento. Na
verdade, ela se aplica, tanto à religião, como à ciência, à filosofia, à política,
à economia, etc. Assim, existem
doutrinas políticas, que ensinam caminhos de solução para a vida política das
nações e dos povos. Logo, a doutrina em si é um conjunto ordenado de princípios
ou ensinamentos, que aponta um caminho de solução para a problemática humana.
É o caso da Doutrina Espírita no campo
filosófico, cujos princípios ou verdades fundamentais foram trazidas pelos
Espíritos Superiores, e que foi trabalhada, organizada ( ou codificada) por
Allan Kardec. Isso significa que Kardec utilizou as informações e o pensamento
dos Espíritos para elaborar essa doutrina, conforme podemos constatar pelas
suas obras. Os princípios fundamentais da Doutrina Espírita, também conhecida
por Espiritismo, são a existência de Deus, a imortalidade da alma, a
reencarnação, a evolução do Espírito, tudo tratado sob o ponto de vista da
razão e da fé ao mesmo tempo.
Religião é um conjunto de crenças e práticas
ritualísticas, baseado na fé natural de um povo, concebendo o mundo em dois
aspectos ( o sagrado e profano). Ela estabelece seus princípios de fé,
conhecidos como dogmas, que devem ser cultivados por seus adeptos. A religião
tem rituais, altares, templos, sacerdotes e uma estrutura hierárquica de
comando, que estabelece o que deve ou não deve ser verdade. Para a religião a
fé está acima da razão. E é por isso que o Espiritismo, no sentido comum, não
se diz uma religião, uma vez que proclama a fé racional.
Na
história da humanidade as religiões surgiram naturalmente, desde os povos
primitivos aos povos civilizados. As grandes religiões da história são o
Cristianismo, o Judaísmo, o Islamismo e o Budismo. Contudo, no seio das
religiões surgem as heresias – ou ideias que não se afinam precisamente com os
princípios religiosos – formando, assim, as seitas. As seitas seriam, pois,
derivações das religiões, formas diferentes de compreender ou de praticar as
religiões, constituindo-se, portanto, em grupos menores que acabam adotando
práticas particulares.
Nada
impede que a religião esteja assentada sobre uma doutrina; quer dizer, sobre um
conjunto de crenças e princípios morais que servem para sustentá-la. É o caso,
por exemplo, da Doutrina Católica, que a base teológica e filosófica da prática
religiosa do Catolicismo. Desse modo, religião e doutrina se casam, mas, nestes
casos, o conhecimento doutrinário praticamente fica reduzido à classe
sacerdotal, não chegando até os seguidores.
Como a
religião, em geral, tem consequências morais, ela deve ter influência na
conduta de seus adeptos. Logo, só nesse sentido ético-moral, o Espiritismo pode
ser visto como religião, mas não no sentido da prática religiosa em si. Na
verdade, o Espiritismo não adota uma prática religiosa e muito menos rituais. O
que ensina é a conduta moral baseada nos ensinamentos de Jesus: isso basta. E
uma das características fundamentais da doutrina é expor sem impor, ensinar sem
exigir, pois, o que mais respeita é a liberdade de pensamento de cada um
Não
sabemos se ficou clara a explicação, Ariovaldo. Caso não tenha ficado
satisfeito, volte a nos perguntar. Obrigado pela participação.
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