Para nós, Maria Helena, que fazemos parte da cultura religiosa Ocidental
– particularmente nós, brasileiros – a
cremação ainda impressiona muito. Mas isso não deve acontecer na Índia, por
exemplo, onde a cremação é a regra e a tradição. Lá as pessoas a consideram
como uma necessidade e, portanto, realizam um cerimonial de passagem, desta
para a outra vida e, portanto, veem a cremação com naturalidade. Aqui, porém, a
expressiva maioria ainda se utiliza do sepultamento do corpo, porque isso está
em nossa tradição de muitos séculos. Mesmo assim, há pessoas que nem vão ao
cemitério, nem comparecem a um enterro para não ver um corpo ser sepultado pela
má impressão que isso lhes causa.
No Espiritismo, aprendemos, regra geral, que estímulos materiais
não atingem o Espírito – nem o calor, nem o frio, nem qualquer outros fator
externo - pois o corpo, que não tem mais
vida e que portanto não pode sentir. Ele se encontra numa dimensão e o Espírito
em outra, como mundos paralelos. No entanto, como durante a vida o Espírito permanece
ligado ao corpo através da mente - que é
a fonte de nossos pensamentos, sentimentos e sensações - muitas vezes não é tão simples haver um
rompimento imediato e definitivo entre ambos, num caso de cremação, como em
qualquer outro caso em que o corpo é atingido.
Desse modo, se após a morte o Espírito não estiver ligado ou
apegado ao seu corpo, se o corpo para ele é como uma roupa que usou e jogou
fora, a cremação não o afetará e, certamente, se for um Espírito muito
desprendido, nem estará presente para assistir a cerimônia. Mas se, pelo
contrário, ele ainda se sente com se estivesse no corpo, ou seja, se do corpo ele
não consegue se desvencilhar (e isso geralmente acontece com pessoas muito
apegadas à matéria), poderá haver um retardo no seu desprendimento espiritual e
neste caso o ato da cremação poderá causar-lhe sensações desagradáveis.
Mesmo assim, precisamos considerar que essa questão de dependência
do corpo, que alguns Espíritos levam além desta vida, não os perturbam apenas
no caso da cremação (como dissemos), mas em qualquer outra situação – até mesmo
no sepultamento comum e durante o processo da decomposição cadavérica. André Luiz, em suas obras, relata alguns
casos de Espíritos que relutam em deixar esta vida e que, ainda presos à
matéria, oferecem resistência ao seu desprendimento natural. Sim, porque o
desprendimento, Maria Helena, é lei da natureza; morrendo o corpo, o Espírito
se desprende. Isso acontece muito espontaneamente com os animais, mas nem
sempre com o ser humano, devido às suas angústias e caprichos.
Portanto, essa questão de cremação depende muito da pessoa, do que
ela acredita, do que ela quer, mas principalmente do que ela sente: assim, devemos
respeitar a escolha de cada um. Evidentemente, quem acredita que não será
afetado por esse processo de destruição do corpo, tem menos probabilidade de
experimentar sensações desagradáveis na cremação. Emmanuel, pelo médium Chico
Xavier, disse que, para se prevenir de qualquer problema nesse sentido, seria
prudente que a família aguardasse um intervalo de pelo menos 72 horas após a
morte clínica para o ato da cremação.
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