“Diante do que aconteceu com
o médium de Goiás, o João de Deus, vocês acham que os espíritas não devem
procurar médiuns ou então evitar sessões de cura nos centros espíritas? Digo
isso, porque o problema, que aconteceu, pode ser uma advertência para não comprometer
o Espiritismo”.
Com
certeza, diante do que ocorreu em Goiás, os dirigentes espíritas devem ter
tomado a devida precaução para evitar esse tipo de problema, que pode acontecer
em qualquer meio, espírita ou não, mas principalmente nos meios religiosos. Porém,
o fato de uma pessoa conhecer o Espiritismo já a coloca sempre de sobreaviso ou
mais bem preparada para perceber que ambiente frequenta, porque maus médiuns e
charlatães existem por toda parte.
Allan
Kardec, desde a publicação d’O LIVRO DOS MÉDIUNS ( em 1861) , já deixou isso
muito claro, pois tais problemas também existiam em sua época. Nesse livro, que todo espírita deveria
conhecer muito bem, há vários capítulos em que Kardec alerta contra os que
ele chama de médiuns interesseiros ( os que atuam em seus próprios interesses),
e também contra as chamadas fraudes e mistificações próprias de charlatães e
estelionatários. Pessoas sem escrúpulos, ávidas e lucro e de vida fácil, aproveitam
da fragilidade emocional de quem está passando por problemas difíceis, delas se utilizam para
seus maus propósitos.
Além
disso, devemos considerar que não é papel do Espiritismo substituir a medicina,
ficar anunciando curas ou atrair adeptos mediante promessas de milagres, embora
existam médiuns que podem ser muito úteis no tratamento de doentes, desde
engajados dentro de um trabalho de gente idônea. Chico Xavier, que sempre foi um homem doente
(todo mundo sabe disso), nunca recorreu a médium algum para obter uma cura
milagrosa. Ele próprio era médium, tinha contato direto com Espíritos médicos,
como o Dr. Bezerra de Menezes, e nem por isso se valeu desse expediente para buscar
alguma solução mágica.
Ao
contrário, por orientação dos próprios Espíritos a quem servia, Chico sempre
cuidou da saúde através de tratamento médico convencional e, quando lhe
perguntavam porque não se valia dos Espíritos para isso, ele dizia que não era
detentor de nenhum privilégio. Isso tudo está em suas obras. Ademais, Chico
criticou a atuação de médiuns que se utilizam de instrumentos cirúrgicos
cortantes e perfurantes, afirmando que, quando a cura tem que acontecer
mediunicamente, ela não precisa se exibir em forma de espetáculo.
Segundo a médica Marlene Nobre, já
desencarnada, foi do Espírito Bezerra de Menezes que partiu a ideia de se
promover um movimento de médicos espíritas, justamente para aliar a medicina à
espiritualidade, conforme preconiza André Luiz, com seriedade e competência em
substituição à atuação isolada e muitas vezes ilegal de médiuns. E hoje temos a
AME - Associação Médico-Espírita no Brasil e no Exterior, além de contarmos com
a disciplina Medicina e Espiritualidade em muitas faculdades de medicina.
Um
outro ponto, que merece ser lembrado, é com relação ao médium que está fora do
contexto espírita. Há médiuns que trabalham isoladamente, ou seja, por sua
própria conta e risco. Eles começam atendendo em casa e quando já reúnem um número significativo de
interessados ou seguidores, fundam seu próprio centro, criam seu próprio
sistema e tudo passa a girar em torno dele mesmo. Não se vinculam ao movimento espírita
e nem a nenhuma religião em particular, para não se sentirem comprometidos e vigiados
na sua forma de atuar, e assim podem
fazer seu trabalho da maneira que bem entendem.
O
espírita esclarecido que vai atrás desses médiuns sabe que está correndo um
risco, mas o público em geral, que não tem conhecimento espírita, acaba
procurando com facilidade seus serviços, quando, diante de uma situação de desespero, não tem mais a quem
recorrer. O papel do centro espírita, neste caso, éorientar seus seguidores e, quando possível,
o público em geral, para não se tornar vítimas de situações como estas que
ocorreram em Goiás.
É
claro que os aproveitadores da boa fé não estão apenas no meio religioso, mas
em todos os lugares. Todo mundo sabe disso, Recentemente tivemos o caso de um
famoso médico de São Paulo, considerado de alta competência na área da inseminação artificial, mas que,
infelizmente, também acabou condenado por se envolver num problema grave de
abuso sexual.
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