Na elaboração d’O LIVRO DOS ESPÍRITOS, as entidades invisíveis consultadas sobre a influência dos Espíritos sobre nossos pensamentos e atos (questão 459), revelaram ser isso “muito maior que se crê, sendo, frequentemente, eles que nos dirigem”. Esclarecendo dúvidas na obra O QUE É O ESPIRITISMO, num dos diálogos ali reproduzidos, Allan Kardec explica que o meio de comunicação mais comum entre os habitantes do Mundo Espiritual e o nosso é a intuição, ou seja, as ideias e pensamentos que eles nos sugerem, por sinal, muito pouco considerado na generalidade dos casos, visto que se presta mais atenção n’outros mais materiais. Diante dessas informações, como se situa o livre-arbítrio nas decisões que eventualmente se adote? No número de agosto de 1867, da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec reproduz a mensagem de um Espírito de nome Louis Nivard psicografada na reunião da Sociedade Espírita de Paris de 7 de julho daquele ano, tecendo explicações ao seu filho – por sinal o médium de que se serviu – a respeito dos limites da ação do Mundo Invisível sobre nossos pensamentos. Diz ele: -“Assisto a todas as tuas conversas mentais, mas sem as dirigir; teus pensamentos são emitidos em minha presença, mas não os provoco. É o pressentimento dos casos, que tem alguma chance de se apresentar, que faz nascer em ti os pensamentos adequados à resolução das dificuldades que poderiam te suscitar. Aí está o livre-arbítrio; é o exercício do Espírito encarnado, tentando resolver problemas que ergue em si mesmo. Com efeito, se os homens só tivessem as ideias que os Espíritos lhes inspiram, teriam pouca responsabilidade e pouco mérito; só teriam a responsabilidade de haver escutado maus conselhos, ou o mérito de haver seguido os bons. Ora, esta responsabilidade e este mérito evidentemente seriam menores do que se fossem o inteiro resultado do livre arbítrio, isto é, de atos realizados na plenitude do exercício das faculdades do Espírito que, neste caso, age sem qualquer solicitação. Resulta do que digo que muitas vezes os homens tem pensamentos que lhes são essencialmente próprios, e que os cálculos a que se entregam, os raciocínios que fazem, as conclusões a que chegam são o resultado do exercício intelectual, ao mesmo título que o trabalho manual é o resultado do exercício corporal. Daí não se deveria concluir que o homem não seja assistido em seus pensamentos e em seus atos pelos Espíritos que os cercam; muito ao contrário: os Espíritos, sejam bons ou maus, são sempre a causa provocadora dos vossos atos e pensamentos. Mas ignorais completamente em que circunstâncias se produz essa influência, de sorte que, agindo, julgais fazê-lo em virtude do vosso próprio moimento: o vosso livre arbítrio fica intacto; não há diferença entre os atos que realizais sem serdes a eles impelidos, e os que realizais sob a influência dos Espíritos, senão no grau do mérito ou da responsabilidade. Num e noutro caso, a responsabilidade e o mérito existem, mas, repito, não existem no mesmo grau. Creio que esse princípio, que anuncio, não necessita de demonstração. Para o provar, bastar-me-á fazer uma comparação no que existe entre vós. Se um homem cometeu um crime, e se o tiver cometido seduzido pelos conselhos perigosos de outro homem que sobre aquele exerce muita influência, a justiça humana saberá reconhece-lo, concedendo-lhe o benefício das circunstâncias atenuantes; irá mais longe: punirá o homem cujos conselhos perniciosos provocaram o crime, e sem haver contribuído de outra maneira, este homem será mais severamente punido do que o que foi o instrumento, porque foi seu pensamento que concebeu o crime, e sua influência sobre um Ser mais fraco, que o fez executar. Então, o que fazem os homens neste caso, diminuindo a responsabilidade do criminoso, e a partilhando com o infame que o impeliu a cometer o crime, como quereis que Deus, que é a mesma justiça, não fizesse o mesmo, desde que vossa razão vos diz que é justo agir assim? Para o que concerne o mérito das boas ações, que eu disse ser menor se o homem tiver sido solicitado a praticá-las, é a contrapartida do que acabo de dizer a respeito da responsabilidade, e pode demonstrar-se invertendo a proposição. Assim, pois, quando te acontece refletir e passear tuas ideias de um a outro assunto; quando discutes mentalmente sobre os fatos que prevês ou que já se realizaram; quando tu analisas, quando raciocinas, quando julgas, não crês que sejam Espíritos que te ditam os pensamentos ou que te dirigem; eles lá estão, perto de ti, e te escutam; vem com prazer esse exercício intelectual, ao qual te entregas; seu prazer é duplo, quando veem que tuas conclusões são conforme a verdade. Por vezes lhes acontece, evidentemente, que se misturem nesse exercício quer para o facilitar, quer para dar ao Espírito alguns elementos, ou lhe criar algumas dificuldades, a fim de tornar essa ginástica intelectual mais proveitosa a quem a pratica. Mas, em geral, o homem que busca, quando entregue às suas reflexões, quase sempre age só, sob o olhar vigilante de seu Espírito protetor que intervém se o caso for bastante grave para tornar necessária sua intervenção”.
Quando vocês falam em lei de
causa e efeito, dá impressão que tudo acontece bem certinho. Mas, na prática,
não é assim. Nem todas as pessoas, que vivem cuidando da saúde, têm vida longa,
como nem todo aquele, que não se cuida, tem vida curta. Tem gente que fuma a
vida inteira e morre bem velhinha; outras, que não fumam, morrem cedo – às
vezes, muito cedo, e assim por diante. Não existe uma regra certa pra nada.
Parece que na vida tudo é uma questão de sorte. Na minha família tive casos que não dá para explicar. (COMENTÁRIO
DE UM JOVEM QUE VEIO AO CENTRO PRIMEIRA VEZ)
A Lei de Causa e Efeito funciona sempre. O problema é que nós, nem
sempre, sabemos das verdadeiras causas. Julgamos que sabemos, mas não sabemos.
O fato de uma pessoa morrer muito cedo ou ter uma vida longa na Terra pode
advir de várias causas ao mesmo tempo, causas que conhecemos e causas que
desconhecemos. Seria muita pretensão de nossa parte querer abarcar tudo com o
nosso estreito ângulo de visão. Se não houvesse Lei de Causa e Efeito, não
haveria ciência, mas, por incrível que pareça, alguns cientistas, enquanto não conseguem explicar um fenômeno, costumam
atribuí-lo ao acaso, com o que o Espiritismo não concorda. O acaso só serve
para explicar aquilo que ainda não temos condição de entender.
Somos seres humanos, limitados e
imperfeitos, devemos ter consciência
de nossa ignorância. O que sabemos da
vida e do mundo não é quase nada do que ainda temos para aprender. Daí a
necessidade do estudo, da pesquisa, da investigação. Uma doença não acontece
por acaso, uma morte não acontece por mero acaso, mesmo que seja acidental.
Dizer que é uma questão de “sorte”, como você diz, é dizer que não existe
comando no Universo, que não existe Deus, que estamos caminhando sem rumo, sem
objetivo, sujeito ao imprevisto da vida, que não nos leva a nada. Albert
Einstein, um dos maiores cientistas de todos os tempos disse, certa vez, que
“Deus não joga dados”, ou seja, não existe o acaso, tudo tem uma razão de ser.
N’O
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, um dos livros espíritas mais conhecidos, Allan
Kardec tem um capítulo, que ele intitulou “Bem-Aventurados os Aflitos”, comentando
a famosa frase de Jesus do Sermão da Montanha. Nesse capítulo, ele faz
interessante comentário sobre as causas dos sofrimentos humanos, que ele divide
em dois grandes grupos: as causas atuais ( isto é, os sofrimentos que têm
causas nesta vida) e as causas anteriores ( ou seja, os sofrimentos que têm
causas em vidas passadas). O critério, que Kardec estabelece, é o seguinte: se
as causas não estão aqui, nesta vida, com certeza, estão em vidas anteriores. É
uma questão lógica e fácil de perceber.
Uma doença, por exemplo, não acontece por
acaso. Se não tem causa nesta vida, tem em vidas anteriores. Ela pode estar
associada a problemas de vida passada, mas pode ter também como causa os maus
hábitos, os abusos, a questão da higiene e das medidas profiláticas que muitas
vezes ignoramos. Antigamente, acreditávamos que as doenças eram castigo de Deus
ou artimanha do demônio, e que elas podiam ser curadas apenas e tão somente
através de cultos e orações. Hoje, sabemos que essa questão é mais complexa do
que imaginávamos, e que a medicina está aí para nos ajudar a sobreviver o maior
tempo possível na Terra, dependendo do caminho que cada um veio percorrendo ao
longo de sua evolução espiritual.
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