Há apenas 154 anos discutia-se na França, berço das grandes transformações sociais e culturais operadas no tempo que passou, se as primeiras mulheres a concluir um curso universitário deveriam receber diplomas, pois, não se sabia se tinham alma. Tratada como inferior desde épocas imemoriais, mesmo o impasse acadêmico, os avanços foram pequenos, em algumas nações e povos. Muitos ainda vivem no primitivismo da Antiguidade, subjugados por princípios religiosos incompreensíveis num Universo criado e regido, segundo creem, por Deus. Nas sociedades ditas desenvolvidas a maioria das mulheres continua submissa, sub-remuneradas no mercado de trabalho em relação ao homem, transformada em objeto de desejo pela mídia que se vale dessa condição para vender de carros a bebidas, de roupas a padrões de comportamento. E, apesar da degradação espiritual de que indiretamente é causadora, algumas galgam pela competência e trabalho posições inimagináveis outrora como executivas maiores de grandes corporações ou mesmo máximas mandatárias de Países. O quadro dominante, porém, mostra que o conhecimento maior da visão revolucionária do Espiritismo é necessidade urgente. Já, n’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS, a Espiritualidade Superior revelou nas questões 200 a 202, que: 1o) o Espirito não tem sexo como o entendemos, 2º) a formatação masculina/feminina está condicionada à necessidade da preservação da espécie humana; 3º) o Espírito que animou o corpo de um homem animar o de uma mulher, numa existência e, vice-versa; 4º) dependem as inversões das provas que tiver de sofrer; 5º) que os Espíritos encarnam-se homens ou mulheres porque não tem sexo – apenas a energia criativa que se define numa direção ou outra a partir do corpo perispiritual - e, 6º) devendo progredir em tudo, cada sexo, como cada posição sexual, oferece-lhe provas e deveres especiais e novas condições de adquirir experiências, visto que se renascesse sempre homem, só saberia o que fazem os homens. Em mensagem mediúnica inserida por Allan Kardec no número de abril de 1868 da REVISTA ESPÍRITA, entidade identificada apenas como Um Espírito que se manifestou em reunião ocorrida em 10 de março daquele ano num grupo de Joinville, escreveu um texto intitulado Instrução Das Mulheres, dizendo: -“Neste momento a instrução da mulher é uma das mais graves questões, porque não contribuirá pouco para realizar as grandes ideias de liberdade, que dormem no fundo dos corações. Honra aos homens de coragem que tomaram a iniciativa! Eles podem, de antemão, estar certos do sucesso de seus trabalhos. Sim, soou a hora da libertação da mulher.; ela quer ser lovre e para isto há que libertar sua inteligência dos erros e preconceitos do passado. É pelo estudo que ela alargará o círculo de seus conhecimentos estreitos e mesquinhos. Livre, ela assentará sua religião sobre a moral, que é de todos os tempos e países. Ela quer ser a companheira inteligente do homem, sua conselheira, amiga, instrutora de seus filhos e não um joguete de que se serve como uma coisa, e que depois se despreza para tomar uma outra. Ela quer trazer sua pedra ao edifício social, que se ergue neste momento ao poderoso sopro do progresso. É verdade que, uma vez instruída, ela escapa das mãos daqueles que a convertem num instrumento. Como um pássaro cativo, quebra sua gaiola e voa para os vastos campos do Infinito. É verdade que, pelo conhecimento das leis imutáveis, que regem os mundos, ela compreenderá Deus de modo diferente do que lhe ensinam; não acredita mais num Deus vingador, parcial cruel, porque sua razão lhe dirá que a vingança, a parcialidade e a crueldade não se podem conciliar com a justiça e a bondade. O seu Deus, dela, será todo amor, mansuetude e perdão. Mais tarde ela conhecerá os laços de solidariedade, que unem os povos entre si, e os aplicará em seu derredor, espalhando com profusão tesouros de caridade, amor e benevolência para todos. A qualquer seita a que pertença, saberá que todos os homens são irmãos e que o mais forte não recebeu a força senão par proteger o fraco e o elevar na sociedade ao verdadeiro nível que deve ocupar. Sim, a mulher, é um Ser perfectível como o home e suas aspirações são legitimas; seu pensamento é livre e nenhum poder no mundo tem o direito de a escravizar aos seus interesses e paixões. Ela reclama sua parte de atividade intelectual, e a obterá, porque há uma lei mais poderosa do que todas as leis humanas, a Lei do Progresso, à qual toda Criação está submetida”.
Questão enviada pelo Cristiano,
de Vera Cruz. “Peço explicação sobre a seguinte frase encontrada no livro O QUE
É O ESPIRITISMO de Allan Kardec, item “O terceiro diálogo – O padre”, que
diz: “Seu verdadeiro caráter é pois o de
uma ciência e não o de uma religião, e a prova disso é que ele encontra entre
seus aderentes homens de todas as crenças, que nem por isso renunciaram às suas
convicções: católicos fervorosos que continuam a praticar todos os deveres de
seu culto quando a Igreja não os repele; os protestantes de todas as seitas,
israelitas, muçulmanos e até budistas e bramanistas”.
A questão que o Cristiano nos coloca é a de
quem está procurando conhecer o Espiritismo mais a fundo e que, portanto, está
estudando a doutrina. Aqui, ele está fazendo uma citação do livro O QUE É O
ESPIRITISMO, lançado em 1869, onde Allan Kardec responde4 às diversas críticas e
ataques infundados que se faziam na época contra a doutrina. Na verdade, a
revelação espírita em 1857 caiu como uma verdadeira bomba na sociedade
francesa, onde já existia um conflito declarado entre a ciência e a religião;
portanto, numa época de florescimento do ateísmo.
A partir de então, será o Espiritismo o mais
visado entre todas as críticas que se publicavam na época, passando ser o
principal alvo de ataques tanto de um lado quanto de outro. É claro que os
espíritas não poderiam permanecer calados diante das insinuações e acusações
que procuravam desmoralizá-lo, pois, a doutrina vinha justamente para se impor
- não pela força e nem pela intimidação, como fizeram as religiões no passado –
mas pela razão e pela inatacável moral que sustentava. A maioria dos ataques, no entanto, vinha de religiosos, inconformados com a
intromissão da nova doutrina num terreno, que estivera sempre sob o domínio exclusivo
da religião.
Neste livro, O QUE É O ESPIRITISMO, para
refutar as críticas, Allan Kardec, aproveitando as alegações de ateus e
religiosos contra o Espiritismo, simula três diálogos para tornar mais fácil a
compreensão do leitor. O primeiro é uma conversa com um crítico da época ( pela
boca de quem ele colocava a fala de todos os críticos’ de seu tempo). O
segundo com um cético ( talvez um
filosofo materialista que exigisse provas materiais). E o terceiro com um
padre. Esses diálogos, portanto, representam o que os adversários pensavam do
Espiritismo e o que Allan Kardec tinha a lhes dizer.
O Cristiano se refere especificamente ao
diálogo com o padre ou sacerdote. O que Kardec quer mostrar ao padre? Que o Espiritismo, acima de tudo, é uma
doutrina racional – ou seja, ele se dirige primeiramente à razão e ao bom senso
para, depois, formar a base de sua fé.
E, pelo fato de admitir a existência de Deus e a imortalidade alma, usando os
critérios da razão, ele, na verdade, não se opõe – e muito menos combate – as
religiões em geral, que também admitem Deus e a imortalidade, embira apenas pela
fé. Pelo contrário, o Espiritismo se apresenta como um auxiliar das religiões
acrescentando os argumentos da razão e a verdade da ciência.
Esse caráter essencial da doutrina fez com que
muitas pessoas – que eram católicas, protestantes, islâmicas, budistas, etc. –
não vendo contradição nas ideias espíritas, acabaram por se interessar por
elas, passando até a defendê-las, sem contudo abandonarem as suas práticas
religiosas de origem. Por essa mesma razão, Cristiano, nas primeiras décadas
após Allan Kardec – e mesmo bem depois de Kardec, quando o Espiritismo já havia
chegado ao Brasil – vemos pessoas que se admitiam, ao mesmo tempo, católicas e espíritas, protestantes e
espíritas.
Sobre esse assunto, você poderá
encontrar maiores informações em dois interessantes trabalhos. Um deles é o
livro do jornalista Ubiratan Machado, OS INTELECTUAIS E O ESPIRITISMO e o outro
é a obra intitulada DO OUTRO LADO da
historiadora da USP, Mary Del Priore. Nesses livros há interessantes relatos
bem documentados da forma como os primeiros espíritas do Brasil viam o
Espiritismo. Uma boa parte deles defendia que era possível ser espírita e
católico ao mesmo tempo, porque uma doutrina completava a outra.
É claro que nessa época, a doutrina espírita ainda
estava se firmando dentro da sociedade, apoiando-se em suas bases filosóficas e
científicas. Nesse período, portanto, a ideia espírita amadurecia para poder um
impulso mais arrojado, definindo com mais nitidez o que era e o que não era
Espiritismo. No tempo de Kardec acontecia o mesmo na França, de modo que Kardec
dizia a verdade quando falava em adeptos das diversas religiões que também eram
admitiam as ideias espíritas. É claro que, hoje a situação é outra, porque
temos uma compreensão mais verdadeira da Doutrina Espírita, embora muita gente, por desconhecimento ainda
faça essa confusão.
Em resumo, o que Allan Kardec estava querendo
dizer ao sacerdote é que o Espiritismo é um caminho para as religiões. Ele as
auxilia, dando-lhes aquilo que elas deixaram de conseguir por si mesmas, porque
pararam no tempo e não acompanharam a evolução das ideias e da ciência. Não
sendo contrário às religiões, o Espiritismo é uma doutrina que permite que
muita gente das várias religiões perpasse por ela, retome seus conceitos de fé
e adquira a firme convicção de que a vida continua, baseando-se na razão e nos
fatos.
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