A nossa Edna Venâncio Ansanello, nos
ligou dizendo-se muito chocada com as últimas tragédias que ocorreram no
Brasil, ceifando centenas de vidas de uma só vez, como a de Brumadinho e do
Centro de Treinamento do Flamengo. Ela pede um comentário sobre isso, à luz do
Espiritismo, querendo saber o que significam esses acontecimentos tão
chocantes.
Já estivemos falando sobre essa questão, Edna,
mas sentimos que precisamos alongar mais nossos comentários, procurando
explicação nos princípios da Doutrina Espírita, até porque esses fatos vêm
acontecendo ultimamente com mais frequência. Aliás, a doutrina está aqui para isso, para
nos trazer luz sobre a vida de cada um de nós e sobre o caminhar da humanidade.
Mais do que nunca, o ser humano está buscando entender quais os caminhos da Justiça
Divina – ou seja, por que essas coisas acontecem, por que essas vidas se esvaem
com tanta facilidade e qual deve ser a nossa postura diante desses fatos, para
podermos continuar vivendo e fazendo o melhor ao nosso alcance.
O Espiritismo recomenda que para todos os
fatos que atingem o interesse do homem – principalmente os que lhe causam danos
morais e materiais - procuremos, em
primeiro lugar, uma explicação racional. A doutrina não acredita nem no acaso e
tampouco em castigo divino, mas considera que tudo está submetido a leis,
tantos os fatos materiais quanto os fatos de nossa vida moral. Allan Kardec, o codificador da Doutrina
Espírita, sugere que, diante do sofrimento humano, procuremos suas causas
primeiramente na vida atual e, depois, em vidas passadas. Nesse sentido, podemos afirmar que tragédias
como essas, e outras ainda maiores, sempre aconteceram na história da
humanidade. E não foram poucas.
No entanto, hoje temos uma população bem maior
do que em qualquer época da história;
logo, as tragédias atingem mais pessoas e mais comunidades, porque existe mais
gente no mundo. . Em 200 anos, Edna, a população do mundo cresceu mais de seis
vezes. Se no século de Kardec tínhamos cerca de 1 bilhão e 200 milhões de
habitantes, hoje temos mais de 7,5 bilhões de pessoas na Terra, o que significa
mais acidentes e maior número de vítimas. Além disso, o progresso material
gerou muitas realizações, que não eram possíveis no passado, como barragens,
estradas, aeroportos, edificações e muitas cidades com inúmeras benfeitorias,
milhões de pessoas circulando pelo mundo durante todo o tempo, implementação de
tecnologias modernas que, se por um lado, facilita a vida, por outro dão margem
aos mais diversos tipos de erros e
acidentes fatais, até porque o ser humano não é perfeito.
Vamos dizer uma coisa para a qual muitos não
prestam atenção. A cada ano cerca de 50 mil pessoas morrem de acidentes nas
estradas do Brasil; ao mesmo tempo, bem mais do que 50 mil são assassinadas por
ano somente em nosso país. Veja isso. Só aí são 100 mil vidas que se esvaem em
12 meses. Mesmo assim, Edna, a forma como as notícias chegam até nós, no dia a
dia, leva-nos a grandes comoções com o estouro de uma barragem ou a queda de um
avião. Porém, bem mais que isso são as mortes que estão ocorrendo todos os
dias. Veja, não estamos minimizando a tragédia de Brumadinho, apenas estamos
dizendo que essa dizimação da população é um fato diário e, quase sempre, não
percebemos isso.
No entanto, sabemos que nada acontece por
acaso e que os sofrimentos decorrentes das centenas acidentes e dos inumeráveis
erros humanos, ainda que muitos deles ocorrem por negligência ou descaso do
próprio homem, continuam na pauta dos acontecimentos de todos os dias. Erros
são erros, muitas vezes primários e irresponsáveis, que podem gerar muito
sofrimento, são muitas vezes a causa imediata de situações dolorosas pelas
quais (ainda como Espíritos num mundo de
provas e expiações) precisamos passar. É claro que, diante das leis divinas,
ninguém consegue fugir às consequências de seus atos ou de suas omissões (
estamos falando daqueles que podem ter contribuído para essas tragédias), pois
cedo ou tarde, nesta vida ou no depois de ela, todos responderão
inapelavelmente pelo mal que causaram.
É bem verdade que nem todas as tragédias, que
ceifam dezenas, centenas – às vezes milhares de vidas – decorrem de erros
humanos. Precisamos lembrar dos desastres naturais, que acabam atingindo
grandes populações, como as epidemias, as pandemias, as enchentes, as
tempestades, os raios, os furacões, os vulcões, os terremotos, os tsunamis e outros.
Desse modo, devemos considerar que o ser humano está sempre sujeito a muitas
situações de calamidade e de perigo, que giram em torno de sua vida na Terra,
por causa do nível moral dos Espíritos que aqui reencarnam.
Por outro lado, as vítimas de hoje, muitas
vezes, foram os causadores dos males de vidas passadas ( ás vezes, de mais de
uma encarnação), e não é por acaso que elas se reuniram para resgatar a paz de
consciência, em razão do sentimento de culpa que permanecem por séculos
fustigando seus corações. Temos notícias do mundo espiritual de que muitos dos
resgates coletivos, que estamos vivendo hoje, derivam dessas situações.
Espíritos, marcados profundamente pelo sentimento de culpa. Na ânsia incontida
de se libertarem de uma vez por todas dessa dor, pelo fato de não terem
encontrado outro tipo de saída para o refrigério da alma, eles acabam se
entregando a situações como essas.
Além disso, Edna, não podemos deixar de
considerar o que essas tragédias representam para o mundo, e que tipo de
chamamento elas estão nos enviando neste momento. No início deste século,
quando parece que muitos dos problemas antigos retornaram, atormentando-nos a
alma e criando ódio e cisão no seio da humanidade, precisamos retomar as lições
da História, para perceber por que a humanidade nunca foi realmente feliz.
Tragédias e calamidades servem para mostrar-nos o verdadeiro sentido da vida,
para despertar-nos o sentimento de solidariedade, para nos ensinar a amar o
próximo como a nós mesmos, para que descubramos não existir outro caminho para
um futuro feliz, a não ser aquele que os grandes mestres da humanidade sempre
apontaram, destacando para nós os ensinamentos de Jesus.
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