Cristiano, da cidade de Vera Cruz, trouxe-nos mais um
desafio, agora relacionado aos adversários do Espiritismo que se baseiam em
dois textos encontrados em obras espíritas – um sobre frenologia na Revista
Espírita de 1862 que trata da “raça negra” ( entre aspas) e outro no livro OBRAS PÓSTUMAS
sobre teoria do belo , que esses adversários utilizam para dizer que Kardec foi
racista.
O assunto é complexo e cremos que, neste curto
espaço, não há como abordá-lo com mais profundidade. Seria preciso que as
pessoas interessadas se inteirassem primeiramente dos princípios fundamentais
da Doutrina Espírita e em seguida lessem com espírito de análise esses textos –
o primeiro publicado na edição de abril de 1862 de autoria do próprio Kardec, e
o segundo num da capítulo de “Obras Póstumas” sobre a teoria do belo de autoria
de Panfílio e Lavater.
Na
época de Allan Kardec o conceito científico de raça estava em voga. Veja as
teorias da época. Hoje esse conceito não é mais aceito. A raça na ocasião se
referia às características biológicas das pessoas (principalmente as particularidades
físicas, como cor da pele, o tipo de cabelo, as dimensões corporais, a conformação
craniana, etc.) e estavam ligadas à sua origem, ao povo. e à sua herança
cultural. Acreditava-se que a raça branca era superior, e disso já resultava um
forte preconceito que pretendia justificar o domínio político dos europeus
sobre povos indígenas, africanos e aborígenes, incluise a escravidão negra.
O
Espiritismo se declarou desde o início contrário à escravidão e a qualquer
espécie de dominação de um povo sobre outro. Dentro dos postulados espíritas, Kardec
não podia contemplar qualquer tipo de discriminação. Seria absurdo admitir tal
possibilidade, por parte de quem proclamava a igualdade entre os homens, a
liberdade e a fraternidade, bandeiras da doutrina. O Espiritismo não admitia
qualquer tipo de opressão e preconceito contra quem que fosse, conforme lemos
em O LIVRO DOS ESPÍRITOS. Logo, ao elaborar o texto, Kardec vai além da
ciência, para mostrar que as qualidades reais da pessoa não estão no seu corpo,
mas no espírito, razão pela qual não se podia admitir qualquer discriminação
entre os seres humanos.
Desse modo, podemos dizer que é fácil, para
quem conhece o Espiritismo, rebater esta acusação de racismo, uma vez que o
Espiritismo, por princípio, além de não concordar, ele combate veementemente esse tipo de comportamento, entendendo por
racismo toda atitude de preconceito ou discriminação contra pessoas,
comunidades e povos, até mesmo contra inimigos. É o que lemos em suas
principais obras, a começar de O LIVRO DOS ESPÍRITOS. O que há de mais sagrado
na Doutrina Espírita é a sua total adesão aos ensinamentos morais de Jesus e,
em Jesus, não encontramos nada que possa diferenciar os seres humanos perante Deus.
Quanto à teoria do belo, é a mesma coisa. Não
temos nada a acrescentar, a não ser nos reportar ao panorama cultural dos
meados do século XIX, centralizado na hegemonia do homem branco europeu, e que
certamente trazia fortes ranços de preconceito em relação à aparências física
das pessoas oriundas de diferentes etnias. Lavatér, autor de um desses textos,
chega a dizer que “o belo, sob o ponto de vista puramente humano, é uma questão
discutível e assaz discutida”.
A par disso, podemos acrescentar que esses
escritos, embora estejam em obras espíritas e expressem o pensamento de seus
autores naqueles momentos, não fazem parte das chamadas obras da codificação
espírita, que são O LIVRO DOS ESPÍRITOS, O LIVRO DOS MÉDIUNS, O EVANGELHO
SEGUNDO O ESPIRITISMO, O CÉU E O INFERNO e A GÊNESE. Por quê? Porque eram
matérias que aguardavam momento propício de amadurecimento da humanidade para a
Doutrina se pronunciar mais diretamente a respeito. Allan Kardec era muito
prudente e criterioso nesse sentido. Basta ler toda a sua obra para conhecê-lo
nos seus mais íntimos sentimentos. Interpretar frases e textos separados do
contexto é contrariar o verdadeiro sentido do texto.
Por
último, podemos concluir que não existe uma doutrina filosófica, política ou
religiosa, como o Espiritismo, que demonstre tamanha aversão contra racismo ou qualquer tipo de preconceito.
Admitindo a reencarnação, o Espiritismo sempre pôde proclamar em alto e bom som
que, antes de sermos humanos e pertencermos a qualquer etnia, somos Espíritos
imortais, filhos de Deus, de onde decorre que temos a mesma origem e estamos
destinados ao mesmo fim. Eis porque a mera condição humana e todas as convenções
sociais não servem de critérios para avaliar a verdadeira dimensão da pessoa.
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