Alguém que se identifica por Alfa de Ômega
pergunta: “Na Bíblia consta que Jesus
retornaria à Terra em triunfo e glória, e que esse maravilhoso acontecimento se
daria ainda naquela geração. É claro que nada disso aconteceu, nem naquela
geração e nem qualquer outra que veio depois, e isso até hoje. Ora, se a palavra
de Jesus é a verdade, como o Espiritismo vê essa afirmação?”
O
Espiritismo tudo examina à luz da razão e, por isso não pode simplesmente fazer
uma interpretação ao pé da letra para tudo o que se escreveu sobre Jesus. Você
sabe que Jesus nada escreveu. Sua passagem por este mundo foi muito rápida; nem
que se propusesse, ele não teria tempo para isso. Sua mensagem, portanto, foi
oral e foi através da palavra falada que as notícias sobre eles se espalharam
nos anos seguintes. Logo, o que sabemos hoje sobre Jesus decorre da narrativa de pessoas
que escreveram sobre o que viram ou ouviram dizer.
Em geral, os livros muito antigos,
especialmente os chamados livros sagrados, de todos os povos, se prestam a
muitas formas de interpretação, até porque a escrita era rara e muito difícil
na antiguidade, e os textos sofriam muitas alterações quando copiados, visto
que a impressão gráfica só passou a existir a partir do século XVI. Com
certeza, os evangelhos, cujos originais ninguém conhece, passaram por esse longo
processo até o surgimento e difusão da imprensa com Gutemberg.
Por isso, Allan Kardec na introdução ao
EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, recomenda que tiremos dos evangelhos a sua
essência – ou seja, o que há de mais profundo e significativo. E, sem dúvida, o
mais profundo e significativo nos evangelhos é o ensino moral de Jesus, aquele
que ele recomenda o amor ou a prática incondicional do bem uns aos outros que
seria, em última instância, a verdadeira forma pela qual podemos demonstrar
nosso amor a Deus.
No
caso que você cita, sabe-se que os judeus acreditavam na ressurreição e no
juízo final há pelo menos dois séculos e que, certamente, essa crença influiu
na forma como interpretaram Jesus. A expectativa de um fim do mundo prestes a
ocorrer fazia parte do clima social da época, de modo que seus seguidores, que
também eram judeus, deram a certas palavras de Jesus a conotação de mais uma
profecia sobre o fim do mundo.
Desse modo, eles esperavam que o reino de que
Jesus falava se consolidaria nos próximos anos com a sua volta gloriosa, numa
espécie de apoteose final, à semelhança de Moisés quando, séculos atrás, se impusera aos egípcios, conforme narrava a
tradição; que, ao final, quando o plano de Deus se consolidasse na Terra de
forma definitiva, os inimigos dos judeus
seriam castigados e os amigos recompensados para participarem de seu reino.
Porém, nada disso aconteceu, nem naquele
século e nem nos séculos seguintes, pois, na verdade não era a isso que Jesus
se referia. Jesus falava das grandes e
profundas transformações que o mundo conheceria mediante muito sofrimento e, ao
dizer de sua volta, ele queria referir-se à retomada de seus ensinamentos no
futuro, quando a humanidade já pudesse penetrar num período de mais compreensão
de sua mensagem.
O Espiritismo coloca esta questão em face do
processo evolutivo pelo qual a humanidade vem passando. A Terra é ainda um
mundo de provas e expiações onde o mal predomina. Mas chegará um tempo, após
certos avanços morais para os quais estamos encaminhando, em que a Terra dará
importante passo no caminho da regeneração, quando aqui ficarão apenas os
Espíritos que conseguiram alcançar certo nível de desenvolvimento moral. Os
demais migrarão para mundos ainda inferiores à Terra para recomeçarem nova
jornada. Ninguém está perdido.
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